Pular para o conteúdo
BRASIL

Pela memória de Uilson, seguiremos em luta!

Alexis Pedrão*
Uilson presente!
Reprodução

Ontem perdemos o grande companheiro Uilson. Missionário da igreja, morador do bairro Santa Maria, liderança popular na luta pela preservação da única reserva extrativista de mangaba na cidade de Aracaju, Uilson foi barbaramente assassinado nessa segunda (28/11). Foi encontrado em casa, amarrado e com marcas de violência. Pela sua luta histórica em defesa do território e das mangabeiras vinha recebendo ameaças e estava inserido no “programa de proteção de ativistas defensores de Direitos Humanos. A tristeza e a revolta são os sentimentos que tomam conta da família, amigos, da comunidade e todos os movimentos sociais e militantes que conviviam com Uilson.

A área está sendo disputada pelas construtoras e a prefeitura e o governo do estado tem sido conivente com a destruição das mangabeiras em nome do projeto do grande capital de expansão imobiliária. O álibi do poder público é que serão construídas moradias populares para pessoas que estavam em situação precária de moradia. Toda a comunidade da reserva extrativista é favorável à construção de casas populares, mas não em cima do território das mangabeiras. A comunidade fez uma proposta de acordo que nunca foi aceita pelo poder público. A construção de moradias populares não pode acontecer à custa da destruição ambiental e da fonte de renda e de vida da comunidade extrativista.

Vale registrar que o projeto de expansão imobiliária das construtoras não se resume ao bairro Santa Maria, mas vem ocorrendo em toda zona de expansão de Aracaju e trazendo uma série de prejuízos em outras localidades, como moradores do Robalo e Areia Branca que tem se organizado para denunciar a destruição ambiental e cobrar da prefeitura diálogo e respeito aos territórios e às comunidades que vivem da pesca, do extrativismo, etc. Sem revisão do plano diretor há mais de uma década, a gestão municipal vem funcionando na prática como um comitê de negócios das construtoras, que financiam as campanhas e mandam e desmandam nos rumos da cidade.

Nem bem nos recuperamos da brutalidade cometida contra Genivaldo de Jesus, na cidade de Umbaúba, quando foi sufocado por policiais rodoviários federais no fundo de uma viatura, enquanto clamamos por justiça para Mateus Félix, cuja família luta para ter acesso ao corpo com uma perícia autônoma, após a polícia indicar a morte por afogamento, quando na verdade há filmagens de disparos e relatos de moradores denunciando o assassinato, agora, em pleno mês da consciência negra, perdemos Uilson. Sergipe hoje é um dos lugares mais perigosos do país para ser negro e lutar por justiça social. Passamos por uma crise social, desemprego e violência sem precedentes.

Mas a luta de Uilson e da comunidade extrativista não será em vão! Vamos cobrar das autoridades as devidas investigações e que sejam identificados os culpados e os mandantes desse crime bárbaro. Mas, principalmente, lutaremos todos os dias para garantir que o território sagrado das mangabeiras não seja destruído, que a vida esteja acima do lucro. Nossa maior homenagem é dar prosseguimento à sua luta! Uilson presente, hoje e sempre!

* Alexis Pedrão é professor, militante da Resistência e dirigente do PSOL