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BRASIL

O golpismo não pára: PL quer anular segundo turno das eleições

Henrique Canary, de São Paulo (SP)
Reprodução/Redes sociais

Enquanto fica choramingando igual um menino mimado no Palácio da Alvorada, Bolsonaro aproveita também o tempo livre (praticamente não trabalhou desde e a derrota para Lula no segundo turno das eleições) para conspirar contra o sistema eleitoral brasileiro e impulsionar as ações golpistas de sua base tresloucada.

A última foi a Representação Eleitoral para Verificação Extraordinária, apresentada ao TSE na tarde de ontem (22). Assinada pelo advogado Marcelo Luiz Ávila de Bessa, a ação do PL (partido do corrupto declarado Valdemar da Costa Neto) pede que sejam anuladas nada menos do que 352.125 urnas, ou 58,18% do total, exatamente as urnas que garantiram a vitória de Lula. Assim, caso o pedido do PL fosse atendido, Bolsonaro seria declarado vencedor do pleito.

A petição anexa como base de sua argumentação um relatório produzido por um instituto que ninguém conhece e ninguém nunca viu, chamado Instituto Voto Legal. Essa empresa mercenária foi contratada a peso de ouro pelo PL com o dinheiro do fundo eleitoral para produzir exatamente o resultado que o partido esperava. No texto apresentado alega-se que houve “inconsistências graves e insanáveis acerca do funcionamento de uma parte das urnas eletrônicas utilizadas no pleito eleitoral de 2022”. E mais adiante: “[essas inconsistências] dizem respeito às urnas dos modelos de fabricação UE2009, UE2010, UE2011, UE2013 e UE2015, que apresentam problemas insanáveis de funcionamento, com destaque à gravíssima falha na individualização de cada arquivo LOG DE URNA e sua repercussão nas etapas posteriores”. A peça afirma ainda que “Todas as urnas dos modelos de fabricação UE2009, UE2010, UE2011, UE2013 e UE2015 apontaram a repetição de um mesmo número de identificação, quando, na verdade, deveriam apresentar um número individualizado no campo do código de identificação da urna”. E conclui: “O resultado que objetivamente se apresenta atesta, neste espectro de certeza eleitoral impositivo ao pleito, 26.189.721 votos ao presidente Jair Messias Bolsonaro, e 25.111.550 votos ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva, resultando em 51,05% dos votos válidos para Bolsonaro, e 48,95% para Lula”.

O pedido do PL é ridículo. Todas as urnas eletrônicas, independente do log, emitem boletins individualizados que podem ser auditados a qualquer momento, fato que já foi comprovado em inúmeras auditorias de órgãos nacionais e internacionais. Além disso, na própria petição apresentada, o partido admite que não há qualquer indício de que as urnas tenham sido efetivamente fraudadas. Ou seja, são até sinceros. É como se dissessem: “Não questionamos o resultado. Queremos apenas mudá-lo para um que nos agrade mais”. Ora, tenha paciência…

O presidente do TSE Alexandre de Moraes já respondeu ao pedido do PL em um despacho no qual é impossível não ver uma certa dose de deboche. Em sua peça, Alexandre de Moraes afirma: “As urnas eletrônicas apontadas na petição inicial foram utilizadas tanto no primeiro turno, quanto no segundo turno das eleições de 2022. Assim, sob pena de indeferimento da inicial, deve a autora aditar a petição inicial para que o pedido abranja ambos os turnos das eleições, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas”.

Ou seja, se querem anular a eleição, então peçam para anular os dois turnos. O problema é que aí a coisa já não fica tão boa para o PL, pois foi no primeiro turno que a agremiação elegeu seus nada menos do que 99 deputados federais e 14 senadores. Querem questionar também esse resultado? Vamos ver até aonde vai a fidelidade de Valdemar da Costa Neto a Bolsonaro.

É óbvio para todo mundo que nem mesmo o PL acredita nem na veracidade, nem na viabilidade de suas alegações. O que ele busca é tumultuar o processo, manter o gado mugindo na frente dos quarteis e preparar o terreno para alguma provocação no dia da posse ou logo depois dela.

O mundo político já começou a reagir ao fato. Gleisi Hoffmann, presidente do PT, escreveu em seu twitter: “Ação de Bolsonaro no TSE é chicana que tem de ser punida como litigância de má fé. Chega de catimba, de irresponsabilidade, de insultos às instituições e à democracia”. Até o insuspeito de simpatia com Lula PSDB afirmou que a ação do PL é “uma insensatez”.

O PSOL também reagiu à nova iniciativa golpista: “A manobra da vez dos golpistas é pedir a anulação de votos em ‘urnas antigas’. Outro pretexto pra não respeitar o voto popular. Avisem o PL, partido de Bolsonaro e Valdemar da Costa Neto, que não adianta espernear: Lula VAI TOMAR POSSE em 1º de janeiro”. O aviso do PSOL não é mera retórica. Já começou a organização de caravanas para Brasília para lotar a Esplanada dos Ministérios em 1º de janeiro, comemorar a vitória sobre o fascismo e fazer valer a vontade popular.

De todo o episódio, o que mais salta aos olhos é a covardia de Bolsonaro. Se esconde no palácio, enquanto coloca seus capachos para fazer o trabalho sujo. Nenhuma declaração, nenhuma nota, nenhuma live que mostre um mínimo de dignidade humana. Só conspirações de bastidores. Como diz um twitter que circula pela internet, estamos naquela fase em que já tiramos o lixo para a rua, mas o caminhão ainda não passou.