Segundo o Ministério das Relações Exteriores da Polônia, ao menos duas pessoas morreram ontem (15) em uma explosão ocorrida no vilarejo de Przewodów, a cerca de seis quilômetros da fronteira entre a Polônia e a Ucrânia. O incidente logo acendeu o sinal de alerta nas estruturas da OTAN, já que, segundo o representante polonês Lukasz Jasina, a explosão teria sido causada por um míssil de fabricação russa, o que poderia, teoricamente, acionar o artigo 5º do Tratado da OTAN, que versa sobre a obrigação de defesa mútua em caso de ataque a qualquer território da aliança. Jasina afirmou ainda que o embaixador russo em Varsóvia já foi convocado para prestar “esclarecimentos detalhados”.
No entanto, os vários líderes europeus que se manifestaram sobre o caso não tiveram pressa em tirar conclusões e conclamaram a todos para serem cautelosos e aguardarem o final das investigações. O secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, James Cleverly afirmou que já está em contato com o governo polonês para verificar o caso. Emmanuel Macron também pediu uma investigação detalhada, mas não arriscou nenhuma declaração mais enfática. Mas a fala mais importante nesse sentido veio do próprio Joe Biden, que afirmou: “Existe uma informação preliminar que contesta isso (a versão de que o míssil partiu da Rússia). Eu não quero afirmar isso antes da investigação ser concluída, mas pela trajetória do míssil é pouco provável que ele tenha sido disparado da Rússia”, declarou o presidente dos Estados Unidos à imprensa após reunião do G20 em Bali, na Indonésia. Volodimir Zelenski foi o único a ir no sentido oposto. Em seu twitter, o presidente ucraniano afirmou: “Mísseis russos atingiram hoje a Polônia, o território de um país aliado. Pessoas morreram. Por favor, aceitem nossas condolências”. E complementou: “Disparar mísseis contra o território da OTAN é um ataque russo à segurança coletiva. É uma escalada muito significativa. Devemos agir”.
O incidente ocorre no marco da retirada das tropas russas da região de Kherson, o que tem sido considerado uma derrota tática da Rússia na guerra e tem levado à intensificação dos ataques russos contra a infraestrutura elétrica ucraniana como medida de retaliação. Por sua vez, a Ucrânia aproveitou a ocasião para retomar sua campanha pelo fechamento do espaço aéreo ucraniano pela aviação da OTAN. A aliança ocidental evita a adoção da medida, que poderia colocar suas tropas em confronto direto com forças russas.
O caso todo se complica porque a coisa mais certa que se pode apurar nesse momento é a fabricação do míssil, que, preliminarmente, parece pertencer ao sistema S-300 de defesa área. O problema é que esse sistema é utilizado tanto pela Rússia quanto pela Ucrânia, já que se trata, na verdade, de fabricação soviética, e não russa. Por ser um míssil de defesa aérea, o mais provável é que se trate de um lançamento feito pela Ucrânia como medida defensiva contra os ataques aéreos russos realizados nos últimos dias. Por outro lado, especialistas afirmam que, apesar de ser um míssil típico terra-ar, a Rússia o tem utilizado em ataques terra-terra, mas não há provas de que esse tenha sido o caso. Enfim, tudo se mantém em aberto, mas com tendência ao esfriamento.
Segundo a agência Associated Press, três oficiais norte-americanos que preferiram se manter anônimos afirmaram que a trajetória analisada indica autoria ucraniana, e não russa.
A Rússia declarou em nota que “nenhum ataque a alvos perto da fronteira entre Ucrânia e Polônia foi feito por meios de destruição russos” e afirmou que o incidente é “uma provocação deliberada com o objetivo de agravar a situação”. Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, qualificou a reação do Ocidente como “russofobia histérica” e elogiou a posição de Biden. Por sua vez, o secretário-geral da OTAN Jens Stoltenberg convocou para hoje (16) uma reunião de emergência com os membros da aliança para discutir o incidente.
A guerra em território ucraniano completará 9 meses no próximo dia 24 de novembro sem que os povos arrastados ao conflito tenham conseguido dar qualquer resposta ao problema da paz. A OTAN, o governo russo e o governo ucraniano seguem apostando ora na manutenção, ora na escalada do conflito, que parece realmente não ter fim num horizonte observável.
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