1. No último dia 30 de outubro conquistamos uma vitória de dimensões históricas. A eleição de Lula e a derrota eleitoral de Bolsonaro mudou qualitativamente o cenário político do país e as possibilidades para o presente e para o futuro. Era a tarefa mais importante colocada para a esquerda e para os diversos setores que defendem a democracia. Por isso, o PSOL acertou ao ser parte da campanha de Lula desde o primeiro turno.
2. Como sabemos, foi uma vitória imensa em meio a uma batalha muito difícil contra a extrema direita. Por isso, essa luta maior se materializou também em outras frentes e disputas. Nesse sentido, a vitória de Jerônimo Rodrigues (PT) contra ACM Neto (UB) também foi muito importante pois é parte da vitória maior contra o bolsonarismo, o conservadorismo e o reacionarismo e, por isso, contribui com as lutas que seguirão. O PSOL Bahia também acertou ao se incorporar na campanha de Jerônimo no 2° turno.
3. Estas vitórias, contudo, não podem nos fazer menosprezar as ameaças da situação política que ainda segue reacionária. O PSOL deve ser parte da defesa do governo Lula eleito, e ser linha de frente contra qualquer ameaça golpista. O resultado das urnas precisa ser respeitado. Deve exigir e lutar, manter a mobilização para que o programa de combate à desigualdade social aconteça, contra as pressões que já se iniciaram por dentro das frentes amplas, nacional e estadual, que não querem essas mudanças. O legado do golpe, como o teto de gastos, precisa ser revertido. O recente episódio do “nervosismo do mercado” à declaração de Lula do comprometimento mínimo com o combate à fome, é apenas uma pequena demonstração do que enfrentaremos.
4. Na Bahia, o gesto de Jerônimo de convidar o PSOL para estabelecer um diálogo após ter sido eleito é importante, e demonstra o impacto da campanha do PSOL no 1º turno. Entendemos que o PSOL deve batalhar pela incorporação dos pontos programáticos que defendemos e que foram muito bem vocalizados na candidatura de Kleber Rosa no primeiro turno. Esse programa foi entregue ao PT na ocasião da nossa incorporação na campanha do 2º turno.
5. O PSOL deve ser parte de toda luta social, mobilização e pressão que houver para que Jerônimo Rodrigues mude aspectos centrais da política implementada pelo PT nos últimos 16 anos no estado: como a nefasta política de segurança pública, a precarização da educação, a desvalorização dos servidores públicos, a falta de políticas ambientais, dentre tantas outras.
6. Mas sabemos, contudo, que o caráter deste governo, de frente com a direita e setores que possuem outros interesses, dificultam a possibilidade de uma mudança de rumo. A expectativa dessa mudança é positiva, mas ela só poderá se efetivar a partir de uma pressão que venha das lutas. Não enfrentaremos a direita com negociações de frente ampla, mas criando força social nos movimentos sociais e de luta.
7. O PSOL não deve se furtar ao diálogo, mas este não deve ser feito por dentro de um governo que repete as mesmas alianças e o mesmo programa implementado pelo governo Rui Costa. Não houve até o momento qualquer comprometimento concreto de Jerônimo com os aspectos centrais do programa defendido pelo PSOL. Devemos seguir reivindicando respostas nesse sentido. Mas esse diálogo não deve ser feito a partir de qualquer sinalização de possibilidade de participação no novo governo, que segue na lógica da conciliação de classes.
8. Por isso a Resistência, assim como outros setores do PSOL, votou contra o ingresso do nosso partido nesse processo de transição de governo. A maioria dos membros da executiva estadual do nosso partido, contudo, deliberaram pelo ingresso na equipe de transição.
9. Não é possível comparar ou transpor o argumento nacional para o estado da Bahia. Não há qualquer transição há ser feita entre Rui Costa e Jerônimo Rodrigues, ao contrário, representa a continuidade do mesmo projeto político, cuja maior mudança se dá na vice governadoria em que sairá João Leão (PP), e entrará Geraldo Jr (MDB), ambos representantes da direita baiana. Não há, portanto, qualquer sinalização de transição para um programa que corresponda aos interesses da classe trabalhadora.
10. Portanto, essa participação do PSOL nesse processo deve se restringir à apresentação dos aspectos programáticos ao novo governo. Não pode haver nenhuma negociação de cargos no futuro governo. O partido precisa seguir mantendo uma posição independente. Esta independência é a melhor localização para que o PSOL siga coerente com o seu projeto presente e futuro. Para que siga sendo a alternativa de milhares que acreditam que é possível construir um projeto para a maioria, sem alianças com a velha política.
11. A atual entrada na Equipe de transição não pode ser um passo para a entrada no governo, pois essa decisão limitará a tarefa histórica de batalhar contra os limites e contradições do campo petista nas quase duas décadas à frente do governo da Bahia. A Resistência seguirá na luta pela independência do PSOL.
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