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BRASIL

A luminosidade cristalina da voz de Gal Costa por onde (re)conhecemos o Brasil

Felipe Nunes
Gal Costa
Marcos Hermes / Divulgação

Gal Costa faz parte daquelas constelações com uma força estranha e incalculável que descem a terra algumas vezes ao longo dos séculos. Talvez por isso, julgávamos não ser possível ver a sua despedida física dessa dimensão celeste, pois estávamos diante de algo imortal. A partida de uma das maiores intérpretes da música brasileira, Maria da Graça, ou simplesmente, “Meu nome é Gal”, como cantou, representa um pedaço daquilo que nos constitui enquanto Brasil despedindo-se de nós. Estará na história como uma das principais intérpretes da música brasileira, de voz cristalina e personalidade marcante, ícone transgressora de várias gerações, representa parte fundamental da espinha dorsal de toda musicalidade elaborada nessas terras tropicais.

Sua estréia aconteceu em 1967 com seu amigo Caetano Veloso, gravando o álbum “Domingo”. Em seguida, participa da gravação do antológico “Tropicalia ou Panis et Circencis”, disco que entraria para história como precursor do tropicalismo. Entre o final dos anos 1960 e começo dos anos 1970 aprofundou a vertente tropicalista e entrou de corpo e alma nas influências psicodélicas que atravessavam a época. Em “Cinema Olympia” de Caetano Veloso cantou “Não quero mais Essas Tardes mornas, normais”. E Gal sempre quis mais, inquieta, buscava se reinventar a cada novo disco. Jamais se dobrou as caras dos caretas, subverteu, chocou, demarcou o espaço da liberdade contra o autoritarismo de botinas. Em 1971 alcançou o topo da música brasileira com a gravação do álbum antrológico ao vivo “Gal A Todo Vapor” com direção artística do poeta Waly Salomão e direção musical do compositor Jards Macalé, autor da canção imortalizada por sua voz, “Vapor Barato”. E foi assim com seus mais de 40 álbuns gravados ao longo da carreira. Algumas canções estarão sempre ligadas a voz de uma das maiores intérpretes que esse país conheceu, tais como “Folhetim” composta por Chico Buarque especialmente para ela, assim como “Da maior importância” de autoria de Caetano Veloso onde conta toda atração, amor e admiração por Gal. Dentre tantas outras, cantou Caymmi, Djavan, Mautner, Gilberto Gil, Marília Mendonça, Ary Barroso, Sueli Costa, etc.

Nas últimas décadas, Gal seguiu firme com suas apresentações e gravações de novos discos com destaque para “Estratosférica (2018)” e a “Pele do Futuro (2019)”, trazendo novos compositores e incorporando novas tendências e inovações da música contemporânea ao seu repertório. Aos 77 anos, Maria da Graça Costa se despede dos palcos, todavia, sabemos que estrelas não morrem, apenas mudam de lugar. Gal Costa segue para o vasto céu, iluminando toda a imensidão. Aqui, seguimos com sua voz que o cantar nos deu. Nossa honey, baby, foi tomar aquele velho navio.

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falecimento / Gal Costa