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BRASIL

Minas Gerais: entenda porque o Estado é chave na disputa presidencial

Henrique Iglecio e Glória Trogo, de Belo Horizonte, MG
Ricardo Stuckert

Atividade com Lula na praça Tiradentes, em Belo Horizonte, no começo do segundo turno

Minas Gerais é um Estado chave na disputa presidencial, segundo maior colégio eleitoral do país com 16,2 milhões de eleitores, considerado uma referência do resultado nacional porque desde 1945 todos os presidentes eleitos venceram no Estado. O único que fugiu à regra foi Getulio Vargas, que venceu as eleições presidenciais em 1950 tendo perdido para o Udenista Eduardo Gomes em Minas Gerais.

Nesses 77 anos de história, o Brasil teve apenas doze presidentes eleitos, sendo 8 deles no recente período de redemocratização iniciado a partir da Constituição de 88. Na escala histórica nosso país foi marcado por golpes e regimes bonapartistas. A democracia liberal foi exceção.

O resultado de domingo irá confirmar a regra de que o vitorioso em Minas será também vitorioso no Brasil? As pesquisas reforçam a vantagem de Lula, o que seria um resultado decisivo para o futuro da democracia e da classe trabalhadora. Até aqui as duas campanhas presidenciais deram enorme valor para disputa em Minas Gerais, nosso Estado foi visitado oito vezes pelos candidatos apenas neste segundo turno.

Um raio x do primeiro turno no Estado

Lula ganhou em Minas Gerais com 48,29% dos votos, obteve 4,69% de votos a mais que Bolsonaro. O resultado foi sustentado pelo interior já que na capital os números se invertem, o atual presidente teve 46,60% dos votos em BH e Lula teve 42,53%, 4,07 % de vantagem. Nenhum dos dois teve grande vantagem, revelando a fratura política que divide o Brasil.

Lula venceu em 630 cidades, já Bolsonaro venceu em 223 municípios. A grande maioria das pequenas cidades votou com o PT, enquanto o atual presidente ganhou em 17 dos 30 municípios mineiros com mais de 100 mil habitantes. Lula venceu na esmagadora maioria dos municípios cuja média é de 10 mil eleitores.

A maior vantagem para Lula está no Vale do Mucuri (64,07% X 30,8%), no Norte de Minas Lula (60,7% x 33,1%) e no Jequitinhonha (62,9% x 30,4%), são as regiões mais pobres do Estado, se assemelham politicamente e culturalmente ao nordeste do país. Já o atual presidente conta com a maior vantagem na região Centro-Oeste (50,8% x 40,7%) e no Sul/Sudeste (50,6% X 40,6%). Neste mapa de regiões e desigualdades é possível perceber como o Estado é uma amostra do Brasil.

Assédio eleitoral, uso da máquina pública, panfletos apócrifos e fake news

Minas Gerais lidera o ranking nacional de casos de assédio eleitoral segundo o Ministério Público do Trabalho. O motivo é evidente: este é um meio útil para uma candidatura de extrema direita cujo desafio é virar votos em pequenas cidades do interior do Estado. Foram 374 denúncias, incluindo uma delas contra o Governador Romeu Zema. Ameaças de demissão, palestras obrigatórias de defesa do Governo no horário de trabalho e uso de camisetas de propaganda política são algumas das denúncias que se alastraram pelo Estado. Uma reedição da velha tática do voto de cabresto.

O Governador Romeu Zema reuniu mais de 600 prefeitos em parceria com a FIEMG em defesa de Bolsonaro, contou ainda com a presença ativa do presidente da Associação Mineira de Municípios (AMM) e prefeito de Coronel Fabriciano. A campanha eleitoral e a rotina institucional do Governador de Minas se confundem, ele está abertamente usando o cargo para pressionar os prefeitos e lidera os empresários grandes e pequenos das mais diversas áreas da economia para a eleição de Bolsonaro. É uma guerra de classe. A empresa Lider Interiores protagonizou um caso de assédio eleitoral que foi impedido pelo Ministério Público do Trabalho ainda durante a suposta palestra de conscientização. Realizada em horário de trabalho a palestra contava com 1400 funcionário e entre as mensagens estava um áudio do Governador Romeu Zema elogiando o empenho eleitoral dos empresários.

Na cidade de Capelinha no Norte de Minas uma chuva de panfletos apócrifos, sem CNPJ e portanto totalmente irregulares promoveu pânico moral e fake news associando Lula ao aborto e à tentativa de implantação de uma ditadura comunista. O caso é um exemplo do uso generalizado de mentiras e da prática e crimes eleitorais.

Com garra e coragem para derrotar o fascismo

O resultado na capital mineira em 2022 não deve nos impressionar, Bolsonaro venceu com 4 % de vantagem, mas em 2018 a diferença foi dez vezes maior, o atual presidente obteve 55,17% dos votos já no primeiro turno e Haddad terminou com 14,54%. A classe média na capital mineira girou fortemente à direita, os números também foram muito ruins em 2014. O discurso antipetista, o trauma da gestão Pimentel e a campanha contra a corrupção com certeza estão no centro do pensamento médio do eleitor Bolsonarista.

Derrotar o fascismo em Belo Horizonte é uma tarefa de longo prazo, que envolve uma compreensão mais profunda deste fenômeno nacional que atingiu em cheio a capital mineira. De Juiz de Fora marcharam as tropas do golpe em 64, mas também foi nas greves operárias de Contagem que a ditadura passou a ter medo da classe trabalhadora em 68. Minas foi palco de batalhas decisivas, não será diferente neste momento. Nossa geração não faltará ao encontro com a luta pela democracia em 2022.

Neste sábado, a campanha de Lula vai encerrar na Avenida do Contorno. O Psol vai se concentrar no Centro de Referência da Juventude, em frente à Praça da Estação. Bolsonaro pretende fazer uma motociata do Barreiro até à Praça da Liberdade. A disputa acirrada se reflete também no último dia de campanha. Será com muita militância na rua, com conversa olho no olho e com um abraço simbólico na cidade que vamos levar a esperança, contagiar a capital mineira e disputar cada voto.