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BRASIL

Alguns pontos sobre a eleição no Nordeste e na região do Cariri cearense

Transferência de votos de Ciro ao candidato fascista no Ceará, no primeiro turno, reduz drasticamente influência política dos Ferreira Gomes

Filipe Dantas de Sousa, do Crato (CE)
bandeira Elmano 13
Filipe Dantas Sousa

Primeiramente, não devemos esquecer-nos de quando a onda bolsonarista assumiu a dianteira na disputa do pleito em 2018. O bolsonarismo movimentou o cenário político com uma força inesperada. Bolsonaro ganhou as eleições sem ir a um debate sequer, sem o apoio das mídias tradicionais, e teve como um instrumento o uso das redes sociais. Quem entendeu nadou junto, que é o caso de bancadas insignificantes como a do PSL, que, até então desconhecido, elegeu 52 deputados e chegou até a desafiar parte dos analistas políticos. 

Bolsonaro se apresentou em 2018 como uma figura antissistema, colocou o antipetismo como palavra-chave na sua campanha com o discurso anticomunista e anticorrupção e veio como a figura que iria desconstruir a velha politica fragilizada. 

O fato é que não estávamos diante de um fenômeno comum e isso foi mostrado nos resultados das eleições deste ano. Apesar da péssima gestão na pandemia, o Brasil voltando à linha da extrema pobreza com 30 milhões de pessoas passando fome e as mais de 60 milhões na insegurança alimentar o bolsonarismo obteve 51 milhões de votos atingindo um índice de 43,2%, onde também conseguiu fazer uma boa bancada na Câmara e no Senado, além de eleger e conseguir bons resultados entre os governadores estaduais. Quando nos deparamos com figuras como Eduardo Pazuello, Damares Alves e Ricardo Salles é sinal de que não estamos diante de um fenômeno comum. 

Assim como o fascismo e o nazismo, o bolsonarismo é um movimento de massas e não pode, em hipótese alguma, ser subestimado. Após o final da votação, quando tivemos o início da contagem, nos deparamos com algo inesperado, e com o avanço de abertura das urnas em regiões de cunho  bolsonarista, além de surpresas nas apurações em estados do Sudeste, a tensão chegou a tomar conta de uma parte da militância opositora ao bolsonarismo, uma vez que o agitador fascista disparava na frente com uma diferença de alguns pontos do candidato Lula. Mais tarde isso viria a mudar, e Lula começou a encostar quando começou abrir a contagem das urnas da região Nordeste, e então o jogo virou, e Lula concluiu o pleito com mais de 6.180.000 votos à frente do candidato fascista. Esse fato chegou a aliviar as pessoas e a melhorar os ânimos para continuidade do trabalho no segundo turno.

O resultado no Nordeste e no Cariri cearense

A região foi a chave para que o candidato Luiz Inácio Lula da Silva terminasse o 1° turno das eleições à frente do candidato fascista Jair Bolsonaro. Não por acaso, dias depois, o agitador fascista justificou sua derrota na região Nordeste com ataques xenofóbicos, afirmando que sua derrota na região se devia ao fato de esta ser uma com grande número de pessoas que não concluíram o ensino fundamental, chamando os nordestinos de burros e analfabetos por não terem dado a vitória a ele. Apesar de tudo, em relação às eleições de 2018, e 2022, Bolsonaro teve um crescimento de 316.335 votos no Nordeste. No Estado do Ceará, há quatro anos, o candidato da extrema-direita obteve a terceira colocação, ficando atrás do então candidato do PDT Ciro Gomes e do candidato do PT Fernando Haddad. Naquele pleito os resultados do 1° turno foram os seguintes:

1° lugar – Ciro Gomes PDT (1.998 587 votos), 2° lugar – Fernando Haddad PT (1.616 492 votos), 3° lugar – Jair Bolsonaro PSL (1.061 65 votos). Já nas eleições de 2022 os resultados de 1° turno foram: 1° lugar: Luiz Inácio Lula da Silva – PT – 3.578.355 votos. 2° lugar – Jair Bolsonaro – PL – 1.377.827 votos. 3° lugar – Ciro Gomes – PDT – 369.222 votos. 

Perante esses resultados e citando aqui apenas os três primeiros colocados nas eleições de 2018 e os dois primeiros no pleito do 1° turno de 2022, e, em particular, o candidato Ciro Gomes, que nessas eleições obteve o 4° lugar, é bem provável que houve uma transferência de votos do candidato Ciro para o candidato fascista no Ceará, reduzindo drasticamente a influência política dos Ferreira Gomes. Fazendo uma análise dos resultados nas principais cidades da região do cariri cearense, Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, constatamos o seguinte quadro: Lula obteve um percentual de 72,53% na cidade de Juazeiro do Norte, contabilizando um número de 109.039 votos, enquanto a alternativa da ultra direita foi escolhida por 19,91% dos eleitores, contabilizando um total de 29.937 votos. Na cidade de Crato o candidato Lula alcançou um percentual de 81,08%, totalizando 63.197 votos; já o fascista teve um alcance de 13,25% dos eleitores, com 10.330 votos. Por fim, em Barbalha, Lula teve um percentual de 73,01%, alcançando 28.304 votos, enquanto Bolsonaro somou 20,28% do eleitorado, com  7.861 votos. 

Nessas três cidades do interior do Ceará houve um avanço do bolsonarismo em relação ao pleito de 2018? Lá atrás os números eram os seguintes: em Juazeiro do Norte o bolsonarismo conseguiu um percentual de 18,85% e em relação a 2022 cresceu 1,06%. No Crato o percentual era de (11,64%) e em relação para 2022 cresceu 1,61%. Finalmente, em Barbalha, conseguiu um percentual de 19% e em relação a 2022 cresceu 1,28%, obtendo entre as três cidades uma média de crescimento de 1,32%. Apesar de o crescimento ser de menos de 1,5%, a avaliação deve ser pautada exatamente no quanto o bolsonarismo avançou nessas três cidades, ampliando a votação em 7.174 votos.

Aprender com o passado para agir no presente: bolsonarismo e fascismo

O avanço do fascismo é baseado na derrota do proletariado em resolver a crise social do capitalismo pela tomada do poder e começo da reorganização da sociedade. Essa derrota da liderança da classe trabalhadora gera desmoralização entre os trabalhadores e entre as forças da sociedade que miravam no proletariado e no socialismo o caminho para sair da crise. 

Comparar o bolsonarismo com o fascismo não é de forma alguma considerado um delírio, até mesmo por algumas características em comum que ambos carregam: patriotismo, nacionalismo, totalitarismo, militarismo, manipulação dos sentimentos religiosos etc. 

Em nome do nacionalismo, os governos fascistas utilizam todas as formas possíveis de manipulação da população, seja através da mídia, da religião ou mesmo da violência. Nada diferente de como age o bolsonarismo. Totalitarismo: estabelece um governo totalitário  e busca exercer o controle dos direitos dos cidadãos, seja no contexto político, cultural ou econômico. Bolsonaro defende isso a fundo, quem não se lembra do seu discurso de votação do impeachment na câmara em 2016, onde ele elogiou e exaltou um torturador em rede nacional? Inspira-se no militarismo: o fascismo defende o poder da força e da violência, Bolsonaro intimida os opositores enchendo seu governo de militares no intuito de  atrair as forças armadas para uma  possível aventura golpista. Usa a religião como maneira de manipulação: Tanto na Alemanha quanto na Itália o fascismo, nos primeiros anos, disputava a devoção das pessoas com a igreja. No entanto, os dois governos resolveram utilizar a religião a seu favor para manter os ideais da população alinhados e reunir mais seguidores. Bolsonaro tem grande maioria dos evangélicos a seu favor, usou em sua primeira campanha para presidente o lema “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” e se apresenta como um defensor da família e da moral cristã. 

Por essas e outras não devemos cometer erros no que diz respeito à ameaça bolsonarista no Brasil. Sabemos que não será fácil derrotar eleitoralmente o bolsonarismo nesse dia 30 de outubro. Assim como não foi fácil vencer governos de extrema-direita nos Estados Unidos e em países da América Latina como foi o caso de Perú, Chile e, recentemente, na Colômbia. 

Em todos estes países e mais outros espalhados pelo mundo os resultados contra extrema direita foram bem apertados e talvez não seja tão diferente aqui no Brasil. Restam pouco mais de 15 dias para vencer o fascismo nessas eleições. Sem dúvidas são os 15 dias das nossas vidas. São as semanas mais importantes e tenebrosas desde a redemocratização além de ser a mais importante dessa geração. Nossa tarefa é a luta pela vitória de Lula nesse segundo turno. Não será nada fácil, mas é possível vencer sim! Teremos que nos  multiplicar e, nessa batalha, teremos que disputar cada voto, organizar nossa atuação em cada bairro, em cada praça, no corpo a corpo, em cada ação.  Para mudar o país e sair desse pesadelo, temos que tirar Bolsonaro do poder e para isso nós iremos de Lula 13!

Referências

https://especiais.gazetadopovo.com.br/eleicoes/2018/resultados/municipios-ceara/

https://g1.globo.com/ce/ceara/eleicoes/2022/noticia/2022/10/03/confira-o-resultado-das-eleicoes-nos-184-municipios-do-ceara-no-1o-turno.ghtml

https://esquerdaonline.com.br/2018/01/22/clara-zetkin-e-a-luta-contra-o-fascismo/