A eleição presidencial mais importante da nossa geração será definida somente no próximo dia 30 de outubro de 2022. A polarização eleitoral expressa no 1º turno foi tão forte que inviabilizou o espaço para alternativas da 3ª via como Simone Tebet e Ciro Gomes. Juntas, estas duas candidaturas atingiram pouco mais de 8,5 milhões de votos. Lula terminou o processo com 57.259.504 (48,43% do total de válidos) e Bolsonaro com 51.072.345 (43,20% do total).
Os resultados do último domingo parecem seguir tendências já observadas em outros pleitos recentes no Continente Sul Americano como Chile, Peru e Colômbia, que além de terem sido definidos por uma margem de diferença pequena, também foram disputados entre a esquerda e a extrema-direita.
O futuro da classe trabalhadora e do povo brasileiro está em jogo nestas próximas semanas e todas as forças democráticas e antifascistas precisam tratar a vitória de Lula como a maior de todas as prioridades.
I – Os resultados do último domingo: vencemos o 1º turno, mas ainda há muita campanha pela frente
O resultado do último domingo deixou parte da esquerda frustrada, já que havia expectativa em uma vitória de Lula ainda no primeiro turno. Entretanto, o ex-presidente bateu o recorde de votos nesta etapa (1), recuperando muitas posições perdidas pela esquerda nas eleições de 2016 e 2018. Faltou pouco mais de 1,8 milhões para que a derrota de Bolsonaro fosse definitivamente decretada.
Ainda que os votos conquistados pelo petista estivessem dentro da margem de erro apontada pelas pesquisas na véspera da eleição, houve uma diferença considerável entre a intenção de voto da extrema-direita e o resultado consolidado, que colocou Lula à frente de Bolsonaro por apenas cinco pontos percentuais.
As especulações sobre os motivos que levaram a esta distorção variaram entre a hipótese de boicote bolsonarista às pesquisas e possíveis deficiências metodológicas e amostrais por parte dos institutos. Ainda que os dois argumentos devam ser considerados, há um terceiro fator extremamente relevante: a onda de voto útil canalizada pela extrema-direita na véspera da eleição, com o objetivo de evitar a vitória de Lula e de seus candidatos ainda em 1º turno.
Este fenômeno do voto útil à extrema-direita deve ser explicado em razão da própria força que o bolsonarismo preserva através de sua base militante e mobilizada, mas também porque ainda seguimos sob uma situação reacionária, marcada por uma defensiva política, econômica, social e ideológica da classe trabalhadora, que infelizmente amargou sucessivas derrotas desde o golpe contra Dilma. Além disso, há que se considerar o impacto do antipetismo, que segue tendo influência de massas e acabou favorecendo a eleição de figuras reacionárias para os governos, Senado e Congresso.
A esquerda, por outro lado, também conseguiu votações importantes, sobretudo no Nordeste e na maioria das grandes Regiões Metropolitanas como São Paulo, Porto Alegre, Salvador e Belém. A Federação PSOL-REDE elegeu 14 deputados federais e passou a ser a segunda maior força parlamentar da esquerda, sendo o PSOL a terceira, quando considerada individualmente. Um dos destaques do partido, Guilherme Boulos, liderança do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), foi o deputado mais votado do estado de São Paulo, com mais de 1 milhão de votos. A federação PT-PCdoB-PV também cresceu, chegando a 80 deputados eleitos (PT com 68, PCdoB com 6 e PV com 6) (2).
Ainda que o resultado não tenha sido aquele que almejamos, conquistamos algumas posições e precisamos nos apoiar em todas elas para seguir em frente, disputando cada voto nestas próximas semanas. É possível vencer!
II – Como vencer Bolsonaro?
Saímos do primeiro turno com 6 milhões de votos à frente de Bolsonaro e temos agora o grande desafio de ampliar ainda mais a força e a capilaridade da nossa campanha em cada cidade, em cada bairro e em cada quebrada.
Para que possamos ter sucesso neste desafio, nós do Afronte defendemos três tarefas prioritárias:
a) Manter a mobilização nas ruas e nas redes: fortalecer os comitês por Lula presidente
Para manter a diferença de votos conquistada e aumentar ainda mais a margem, precisamos manter a nossa campanha presencial com bancas de panfletagem em todos os cantos das cidades, nos terminais de ônibus e metrôs, nas praças e espaços de grande circulação. Precisamos seguir com as marchas e arrastões culturais, além de cobrir os bairros com materiais e a nossa presença física.
As redes sociais serão um enorme campo de batalha, onde precisamos trabalhar com muita criatividade e engajamento, combatendo as fake news, mas sem permitir que sejamos pautados por elas. Precisamos dar centralidade às nossas propostas e às nossas ideias, buscando contagiar a juventude sobre o futuro que podemos construir com a derrota do fascismo.
Para viabilizar todas estas iniciativas, será necessário avançar ainda mais na unidade construída através dos “Comitês com Lula” nos bairros, locais de trabalho e estudo. Essas ferramentas precisam dar conta de absorver todo o potencial dos ativistas e militantes dispostos a contribuir neste momento.
O Movimento Estudantil, inclusive, já está organizando uma forte mobilização nacional para o próximo dia 18 de outubro, como resposta a mais um bloqueio de verbas absurdo por parte deste governo que tentou a qualquer custo destruir a educação pública no Brasil. A luta contra o confisco tem um importante potencial de mobilização, como já foi visto na UFBA na tarde desta quinta-feira, e deve ser combinada à defesa do Fora Bolsonaro, Lula presidente.
Além disso, outras iniciativas como a do PSOL-SP, que na última quarta-feira, 05/10, reuniu ativistas e os seus parlamentares recém eleitos, são exemplos que devem ser nacionalizados. Precisamos aproveitar as nossas vitórias políticas no parlamento em cada local para ampliar ainda mais o engajamento.
b) Ampliar a articulação das forças antifascistas
Um outro grande desafio é o de ampliar a articulação e o apoio à candidatura de Lula, trazendo para a campanha outras forças democráticas, anti bolsonaristas e antifascistas neste segundo turno. Neste sentido, conseguimos alguns avanços.
O primeiro partido que declarou apoio a Lula foi o Cidadania (3). Nesta terça-feira, o PDT fez o mesmo, apesar de Ciro Gomes e de sua retórica anti petista durante todo 1º turno. A entrada do PDT pode contribuir para o fortalecimento das iniciativas de rua e também no diálogo com setores médios.
Simone Tebet (MDB), terceira colocada, do MDB, também decidiu apoiar Lula (4), enquanto seu partido liberou o voto aos filiados. Mas a ex-candidata tenta barganhar em troca uma adesão do petista a parte do programa defendido por ela e mais alinhado aos interesses do mercado e da burguesia. Entendemos que o apoio de Tebet deve ser costurado em torno ao compromisso de defesa das liberdades democráticas, mas sem conceder ao programa da “Faria Lima”, que não ganha voto e não combate a fome, como bem apontou Boulos em sua entrevista ao Roda Viva, no dia 03 de outubro (5).
Outras forças políticas que provavelmente devem declarar apoio a Lula nos próximos dias, em razão do seu compromisso com a luta antifascista, são os partidos da esquerda revolucionária (PSTU, PCB e UP) que, somados, fizeram 124.764 votos (0,11% do total) na eleição presidencial (6). Apesar de discordarmos da tática adotada por eles, que privilegiou a sua autoconstrução, valorizamos a incorporação destes partidos na campanha e estamos abertos a construir junto a eles as iniciativas que estão por vir.
Mas em que pese a importância de todas estas declarações de voto em Lula, sabemos que não é suficiente agregar mais apoios formais à frente ampla eleitoral, porque a transferência do voto não acontecerá de forma automática. Por isso, além de costurar todos esses acordos, precisamos seguir disputando cada voto com muita mobilização.
c) Defender um programa a serviço do povo e não do mercado, que enfrente a fome, defenda a revogação do legado golpista e aponte para um futuro popular e à esquerda
Lula precisa falar com o povo e para o povo. Sua campanha só chegou até o segundo turno com votação recorde porque colocou no centro da sua política eleitoral o problema da fome e do desemprego, os direitos das mulheres, porque defendeu a valorização do salário mínimo, o meio ambiente, a ampliação do acesso de jovens negros à educação, a demarcação das terras indígenas e para a reforma agrária, além da defesa da soberania nacional através das empresas estatais.
Neste momento, está em curso uma verdadeira chantagem por parte da burguesia sobre Lula, para que em troca de apoios da direita, o petista abra mão de suas propostas e ideias. O chamado “giro ao centro”, na realidade, significa uma pressão para que Lula assuma o programa do capital financeiro, que já foi amplamente rechaçado em 1º turno. A melhor estratégia, entretanto, segue sendo orientada para dialogar com a maioria explorada e oprimida do povo brasileiro.
III – Garantir a nossa segurança, evitar provocações e enfrentar o medo
Lamentavelmente, a violência foi uma das protagonistas nestas eleições. Do nosso lado, perdemos companheiros, simpatizantes e apoiadores, vítimas do incentivo às intimidações e agressões promovidas pelo bolsonarismo. É inevitável, portanto, que entre as nossas fileiras exista receio e preocupações quanto aos riscos colocados sobre a campanha, sobretudo diante de um cenário altamente polarizado neste 2º turno.
Mas não podemos permitir que isso enfraqueça a nossa campanha e o nosso ânimo. É possível lutar e vencer. Precisamos evitar provocações e garantir a segurança dos nossos, mas mantendo as iniciativas de rua organizadas coletivamente e apoiadas nos movimentos sociais. Desta forma podemos neutralizar as ameaças, principalmente contra as mulheres, negros, LGBTQIA+ e indígenas, que historicamente são os principais alvos da extrema-direita.
A melhor maneira de enfrentar o medo é através da organização e da luta coletiva. Com muita solidariedade e combatividade vamos avançar. Dia 30 é 13!
Venceremos!
Notas
1 https://noticias.uol.com.br/eleicoes/2022/10/03/lula-tem-percentual-de-votos-totais-recorde-e-passa-fhc-em-1994-e-1998.htm
3 https://noticias.uol.com.br/eleicoes/2022/10/04/partidos-apoiam-lula-no-2-turno.htm
5 https://www.youtube.com/watch?v=G8uz2cZsjLM
6 Até o momento da publicação desta nota, PSTU e PCB definiram pelo apoio a Lula.
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