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BRASIL

Eleger Lula contra Bolsonaro: um diálogo com os companheiros da UP/Correnteza e do MRT/Faísca

Ingrid Saraiva* e Milena Tibúrcio**, de Campinas, SP

Nas últimas semanas, enchemos as ruas de muita luta e de muita garra para derrotar a extrema-direita e o bolsonarismo. Vimos nos resultados das eleições importantes indicativos, como o crescimento da bancada do PSOL e a derrota de importantes figuras fascistas nos estados. Ao mesmo tempo, consolidamos a tese que vínhamos defendendo em diversas polêmicas entre a esquerda: o Bolsonaro não está derrotado e não deve ser subestimado. Isso significa que, nesse segundo turno, precisaremos de ainda mais unidade entre os nossos e de muita mobilização.

Temos poucos dias para tirar Bolsonaro da presidência e impedir a eleição de Tarcísio, o bolsonarismo do estado de São Paulo. Dizíamos, desde o final do ano passado, que essa não seria uma eleição tranquila. Os eventos de 2018 mostraram bem até onde a extrema-direita está disposta a ir. Aqui em Campinas, no ano daquela fatídica eleição, aconteceu o assassinato bárbaro de Quelly da Silva, travesti negra que teve seu coração arrancado por um crime de ódio. Esse ano, depois de um evento com Lula na Unicamp, um grupo neonazista armado atacou o Ademir, bar em frente à moradia estudantil frequentado por estudantes pobres, negres e LGBTI+. Precisamos fazer o medo mudar de lado. Precisamos impor a eles uma ampla derrota, prioritariamente pelas ruas. Mas também, neste momento da luta de classes, precisamos impor uma derrota nas eleições.

Do lado de cá, queremos organizar a maior onda de vira voto que esse país já viveu! Queremos transformar o medo em coragem e a sensação de desesperança em ação coletiva dos nossos. Viemos construindo as trincheiras dessa luta no primeiro turno e defendendo a necessidade de unificação de toda esquerda em torno da candidatura de Lula para derrotar Bolsonaro. Infelizmente, isso não ocorreu. Discordamos politicamente daqueles que optaram por lançar candidaturas próprias, como o PCB, a UP e o PSTU, e defendemos essa mesma posição no interior do PSOL, que respondeu à altura e esteve criticamente com Lula desde o início nas batalhas desse semestre. Apesar de respeitarmos a escolha dessas organizações em lançar suas próprias candidaturas para se autoconstruir, não acreditamos que elas tenham respondido aos desafios que a conjuntura nos impõe. E, sem dúvida alguma, o desafio das próximas semanas será ainda maior. A questão que fica é: como se posicionará a esquerda radical diante dele?

Para nós, essa não é uma questão menor. No entanto, para alguns setores da esquerda, ela tem gerado intensas polêmicas. Óbvio que temos inúmeras e profundas discordâncias com o projeto de conciliação de classes do PT. Não queremos eleger Lula para “reconstruir” um Brasil de concessões para a elite e de enriquecimento dos bancos. Sabemos que não dá pra conciliar o agronegócio e a demarcação de terras indígenas, o fundamentalismo religioso e o combate à LGBTfobia, a guerra às drogas e o fim do genocídio da negritude. Ainda assim, não nos sobra um pingo de dúvida sobre a diferença entre o projeto reformista de Lula e o projeto neofascista de Bolsonaro. E isso, por agora, nos basta para querer ocupar as ruas de todo Brasil e virar voto por voto até o dia 30 de outubro. Saudamos os companheiros do PCB e da CST-PSOL que reconsideraram rapidamente suas posições após o primeiro turno e estarão conosco nesta tarefa.

No entanto, queremos abrir um diálogo franco com os companheiros da UP/Correnteza e do MRT/Faísca, que ainda não se posicionaram. As eleições fazem parte da luta de classes e o resultado delas tem impacto na correlação de forças nacional e internacionalmente. Para nós, a abstenção política em um momento como esse significa apenas uma coisa: a ideia de que Lula e Bolsonaro são iguais e de que nada muda para a esquerda radical qual deles será eleito. Em 2018, polemizamos e lamentamos a posição tomada pelo MRT/Faísca. Seu apoio crítico a Haddad apareceu apenas 10 dias antes do segundo turno, sem grande entusiasmo ou envolvimento com a campanha, priorizando a denúncia e o sectarismo frente às exigências e à unidade. Já a UP, que focou na autoconstrução de seu partido no primeiro turno, ainda não deu o importante giro na política para somar forças na campanha de Lula. A unidade das organizações em um momento como esse faz toda diferença no enraizamento do vira-voto que precisamos para virar esse jogo e derrotar nas urnas o Bolsonaro. Vocês estarão conosco?

 

*Ingrid Saraiva, licencianda em Ciências Sociais, mestranda em Ciência Política na Unicamp, gestão do DCE, CACH e militante da Resistência/PSOL e do Afronte!
**Milena Tibúrcio, mestranda em Ciência Política na Unicamp, compõe a APG, é representante discente no Conselho Universitário, militante da Resistência/PSOL e do Afronte!