Resolvemos nos debruçar sobre alguns números dessas eleições e das eleições passadas.
Vejam: Lula teve 48,43% dos votos, Bolsonaro 43,02%. Se nós pensarmos apenas na manutenção desses números, já que os eleitores de cada um deles são muito convictos dessas duas candidaturas, a eleição seria decidida só com o esses números.
Mas vamos supor que se precise chegar aos 50% dos votos válidos. Para Lula chegar aos 50% ele precisa de apenas 1,57%. Já Bolsonaro para chegar aos 50% precisa de 6,8%. São 6 milhões de votos e isso não é pouca coisa, a diferença de votos entre Lula e Bolsonaro.
Sabemos que política não é matemática, sei que há outras importantes variáveis (como a utilização massiva e criminosa das redes sociais, especialmente através dos aplicativos de mensagens, a pressão patronal, particularmente em rincões distantes dos grandes centros e a tentativa de intimidação que tende a se acirrar, por parte do bolsonarismo), mas olhar os números vale a pena.
Simone Tebet teve 4,16% e Ciro, 3,04%. Os eleitores “ciristas-bolsonaristas” já podem ter migrado para Bolsonaro no primeiro turno, os que permaneceram com ele (Ciro), se supõe que não sejam de extrema-direita.
A maioria do MDB e Simone Tebet devem, assim como o PDT e o Cidadania já decidiram, apoiar Lula. Só aí são 7,2% dos votos. Lula poderia, assim, chegar a mais de 55% dos votos.
Política não é matemática, repetimos, mas esses números não devem ser desprezados.
Deve-se considerar ainda: e os brancos e nulos? Estes votos somaram, nessas eleições, umas das menores taxas, que foi de 4,41%. Ou seja, quem foi votar, votou direto nos candidatos. Os votos válidos foram mais de 95% .
O que significa isso? O segundo turno foi antecipado para o primeiro turno, quase que totalmente, restando apenas 8,37% de eleitores que não escolheram os dois candidatos que vão para o segundo turno.
Temos finalmente a questão das abstenções, 20,9%, que estão na média (ou um pouco abaixo) dos anos anteriores. Em 2018 foi 20,3%, em 2014,2010,2012, 2006, as abstenções foram mais altas: 29% , 26% 25% e 28% respectivamente.
As abstenções favoreceriam a quem? Em se distribuindo por igual no conjunto do eleitorado, a quem está em primeiro lugar, pois se o jogo fica parado, quem ganha é quem está na frente; Lula, no caso. Mas evidentemente a dinâmica é mais complexa.
No caso de uma polarização tão intensa, a abstenção pode até cair, pois os candidatos podem investir no eleitorado que esteve ausente no 1º turno. Há outras variáveis a serem consideradas aqui: a não existência de eleições proporcionais, o que pode reduzir o fator mobilizador associado a candidaturas proporcionais e, a depender da unidade da federação, a existência ou não de 2º turno para governo. O fator mobilizador aqui é fundamental, tanto de maneira organizada por partidos, movimentos sociais etc., quanto por meio da propaganda eleitoral e das redes. A não ser no caso de uma altamente improvável (e evidentemente catastrófica) virada na preferência do eleitorado, a efetiva transformação da “intenção de voto” em “votos de fato” em Lula é capaz de assegurar a vitória.
Há ainda a questão da mobilização por sinal invertido, ou seja, via rejeição. Aguardemos os números das primeiras pesquisas em 2º turno, mas mantido um cenário semelhante ao que tínhamos, a rejeição a Bolsonaro segue maior do que a rejeição a Lula.
Restam ainda esses últimos fatos ou factoídes gerados pela campanha de Bolsonaro: o apoio do governador Zema em MG, do governador do Rio, Cláudio Castro e do governador de SP, Rodrigo Garcia.
O governador do RJ já havia apoiado Bolsonaro no primeiro turno, então não há novidade nenhuma, pois são do mesmo partido e o alinhamento é completo e absoluto.
Diferente de MG, onde Zema não apoiou nenhuma candidatura. O resultado de Minas é semelhante ao resultado nacional, 48,29% a 43,06%. Zema irá reverter isso em um estado que Lula foi tão bem? É uma dúvida.
SP preocupa um pouco, apesar de que o PSDB ficou em terceiro lugar para o governo, e setores do partido já vem apoiando ou decidiram agora apoiar Lula (como Tasso). Isso porque o PSDB decidiu liberar o apoio a qualquer uma das candidaturas.
A questão é saber se esses apoios a Bolsonaro têm o condão de reverter votos tão consolidados, ainda mais em um período tão curto quanto é o segundo turno.
Então, não há razão alguma para desespero; o quadro hoje, a menos que o derrotismo e o abatimento nos paralise e haja uma reversão significativa, é favorável a Lula.
Para isso é preciso que não desanimemos. Achávamos que Lula iria ganhar logo no primeiro turno e o fato de isso não ter acontecido acabou por impactar, psicologicamente, a nós todos.
Porém, não temos o direito de nos entregarmos ao pessimismo, ao derrotismo. O “já ganhou” do primeiro turno não pode ser um “já perdeu” agora no segundo e decisivo turno.
É hora, portanto, de arregaçar as mangas e buscar essa essa vitória, porque o que nos move é a esperança!
Lula lá! Lula já! Bom
*João Alfredo e Alexandre Araújo são militantes ecossocialistas do PSOL-CE
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