Aguardávamos o início do debate na TV entre os candidatos a governo de Minas, preparando uma janta simples no comitê de campanha e meu camarada Jerônimo pergunta: “ De onde vem a Iza?”, perguntando sobre a origem política de nossa candidata a deputada Federal, no qual estamos fazendo campanha dia e noite.
Iza Lourença é uma jovem negra, estudante e que trabalha como bilheteira do metrô de Belo Horizonte. Foi dirigente do movimento estudantil, mas também pertence a categoria dos trabalhadores metroviários, que tem como tarefa garantir o funcionamento do transporte da população todos os dias num dos maiores centros urbanos do país. Com baixos salários, condições muitas vezes precárias, em alta condição de stress e enfrentando a ofensiva do governo Zema em privatizar o metrô.
Mas a pergunta “de onde vem a Iza?”, tem um significado mais profundo, se temos a consciência da situação da luta de classes no Brasil, das duras derrotas sofridas pela classe trabalhadora no último período e do crescimento da extrema direita neofascista no mundo… É possível começar a perceber que a eleição para ocupar uma vaga no congresso nacional, de uma jovem proletária da periferia de Belo Horizonte, representa uma imensa vitória política da classe trabalhadora em Minas Gerais.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) continua do IBGE publicou números importantes que mostram que as mulheres negras representam apenas 2% do congresso nacional. Num país onde 54% da população é negra, e que tem as mulheres negras como o maior grupo populacional em torno de 28% da sociedade. Uma das expressões do racismo estrutural brasileiro é a contradição de mulheres negras serem extrema minoria nos espaços de decisões institucionais da política. A profunda desigualdade social e concentração de riquezas arquitetada pelo sistema capitalista que envolve a formação social de um povo em bases históricas que produziram três seculos de escravidão e mais um século de superexploração do trabalho com situações ainda análogas a escravidão. Humilhando, marginalizando e violentando dezenas de milhares de trabalhadoras e trabalhadores cujo os setores mais precários têm negras e negros na sua composição.
Os conservadores neoliberais querem que a sociedade seja indiferente a diminuição do valor do trabalho, que naturalize que uma mulher negra, proletária e da periferia deve se conformar que o seu destino é exercer atividade profissional nos empregos mais precários, de maior exploração, com baixos salários e quase sem proteção social. Querem também normalizar que o parlamento e outras estruturas de poder sejam casas inacessíveis para a classe trabalhadora brasileira que em sua maioria é parda e negra. O capitalismo exclui as mulheres negras da riqueza produzida coletivamente, como também da convivência dos poucos espaços “democráticos” que ainda existe no país. A eleição de Iza a vereadora de BH em 2020 e seu excelente mandato, já é uma provocação indigesta para os senhores de terno tolerar. Reequilibrar os espaços de representação politica e social no Brasil não vai se dar com favores e com a boa vontade de uma mesquinha elite dominante de tradição escravocrata. Trata-se de um debate ideológico e de concepção de mundo, no qual o avanço das pautas de interesse da classe trabalhadora exigem uma profunda transformação social, que por sua vez só poderá dar saltos numa outra correlação de forças histórica.
Exatamente por esses motivos que a eleição de Iza Lourença a uma vaga de deputada federal por Minas Gerais pode representar uma grande vitória política da classe trabalhadora brasileira, como também um triunfo das lutas de resistência que poderá ter um poderoso mandato como linha auxiliar dos processos de mobilização e organização social das mais variadas lutas, em especial da luta sindical. Desde o golpe de 2016, uma onda de ataques aos direitos trabalhistas, com a ampliação da terceirização, a reforma trabalhista, a reforma da previdência, a tentativa de desmoralizar os sindicatos, a reestruturação produtiva cada vez mais digital e a ampla propaganda neoliberal tem deixado as lutas sindicais nas cordas, na defensiva e com dificuldades de organizar uma contra ofensiva de maior vigor. Quantas montanhas vamos ter que escalar para que uma situação mais favorável possa se abrir para a mobilização social no Brasil de modo que possamos avançar posições?
A burguesia trabalha noite e dia para não ouvir a voz de uma cria da classe trabalhadora vibrando nos palácios e ganhando alcance social a serviço da organização da mobilização anticapitalista. O ódio dos senhores do poder contra o povo que vive do trabalho diário, se explica pelo seu interesse em conservar a ordem como está, para que seus privilégios, poder e luxo sejam intocáveis. Não será somente através da luta parlamentar que vamos mudar esse quadro, mas não podemos ignorar a importância de ocupar taticamente melhores posições na luta institucional para fortalecer a mobilização coletiva, as greves, as ocupações, a formação ideológica, a consciência de classe e a necessidade de ampliar a corrente de pensamento na sociedade que acredita em saídas alternativas ao sistema capitalista.
A campanha de Iza está espalhada por todo o estado, em dezenas de cidades, referencia na produção de materiais gráficos que dialogam em outro patamar com a opinião pública apontando tendência e alcançando os mais variados cantos onde está a juventude e o povo trabalhador de minas. Empenhada em eleger Lula no primeiro turno, e interseccionada com pautas que são expressões da luta de classes e reivindicações que envolvem a defesa de direitos civis e democráticos. Relacionando o feminismo, a luta ambiental, a diversidade e o povo negro. É uma simbologia histórica, arrasta desejos, organiza esperanças e mobiliza sonhos! A possibilidade de eleger Iza vem crescendo nessa reta final, há cheirinho de vitória no ar. Esse cenário é produto da polarização e da insatisfação com o governo Bolsonaro, o espectro do eleitorado de Lula se ampliou para padrões acima da média, há muita gente na esquerda indecisa e sem noção em quem votar para deputada federal, tem muitos votos a serem conquistados para garantir uma vitória eleitoral. Não fique acompanhando passivamente essa onda, entre na campanha, eleja uma mulher negra e proletária, vamos precisar de todo mundo nas ruas e nas redes. Vai valer a pena participar desse sopro de revolução democrática… Nunca estivemos tão perto de eleger a bilheteira do metrô… Coragem!
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