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Colunas

Uma enfermeira do SUS na Câmara Federal

Saúde Pública resiste

Uma coluna coletiva, produzida por profissionais da saúde, pesquisadores e estudantes de várias partes do País, voltada ao acompanhamento e debate sobre os ataques contra o SUS e a saúde pública, bem como às lutas de resistência pelo direito à saúde. Inaugurada em 07 de abril de 2022, Dia Mundial de Luta pela Saúde:

Ana Beatriz Valença – Enfermeira pela UFPE, doutoranda em Saúde Pública pela USP e militante do Afronte!;

Jorge Henrique – Enfermeiro pela UFPI atuante no DF, especialista em saúde coletiva e mestre em Políticas Públicas pela Fiocruz, integrante da Coletiva SUS DF e presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Distrito Federal;

Karine Afonseca – Enfermeira no DF e mestre em Saúde Coletiva pela UnB, integrante da Coletiva SUS DF e da Associação Brasileira de Enfermagem, seção DF;

Lígia Maria – Enfermeira pela ESCS DF e mestre em Saúde Coletiva pela UnB. Também compõe a equipe do Programa de Interrupção Gestacional Prevista em Lei do DF;

Marcos Filipe – Estudante de Medicina, membro da coordenação da Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina (DENEM), militante do Afronte! e integrante da Coletiva SUS DF;

Rachel Euflauzino – Estudante de Terapia Ocupacional pela UFRJ e militante do Afronte!;

Paulo Ribeiro – Técnico em Saúde Pública – EPSJV/Fiocruz, mestre em Políticas Públicas e Formação Humana – PPFH/UERJ e doutorando em Serviço Social na UFRJ;

Pedro Costa – Psicólogo e professor de Psicologia na Universidade de Brasília;

Os últimos dois anos acirraram os desafios vivenciados por nossa geração no período deflagado pelo golpe de 2016, em que a juventude, as mulheres, a negritude, as LGBTs, as pessoas com deficiência sofrem com a contínua retirada de direitos, com o desmonte das políticas públicas e com a escalada de violência contra alvos declarados do 1% que lucra com a precarização das condições de trabalho, saúde e vida, cooptados pela consolidação ideológica e política fomentada pelo bolsonarismo. 

A pandemia de COVID19 resultou na marca histórica de mais de 700 mil mortes no Brasil, realidade perpassada pelo retorno do País ao mapa da fome, pela insegurança alimentar que acomete 30% do povo brasileiro, pelo recorde de desemprego, pelo aprofundamento do genocídio da juventude negra e dos povos originários, pela escalada da violência doméstica e da violência sexual, pelo período de menor investimento em educação e ciência da história do Brasil, pela acentuada degradação ambiental, pelo desmonte da política de saúde com o agravamento do desfinanciamento imposto pela Emenda Constitucional (EC) 95. 

É para contrapor esse cenário que Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) lançou no Distrito Federal a primeira candidatura coletiva feminista à Câmara Federal para representar a capital do País em todas as suas faces e identidades, contrariando o ideário do Distrito Federal apenas como um centro político e refletindo sua composição repleta de diversidade, potencialidades territoriais, desigualdades profundas, enraizamento dos povos indígenas e quilombolas, resistência feminista e atuação da juventude. É neste espaço onde a mão que cuida também é a mão que luta, contando com uma enfermeira para construir propostas e ações de transformação para o Brasil e para o Distrito Federal. 

Karine Afonseca foi liderança ativa no DF na organização do Ele Não, primeira mobilização de oposição a Jair Bolsonaro a nível nacional; bem como foi protagonista na organização da manifestação das enfermeiras no 1º de maio de 2020, que ganhou a mídia local, nacional e internacional após enfermeiras serem agredidas por bolsonaristas em protesto silencioso em luto pela situação da categoria e da população. Além disso, atuou na mobilização por vacina para todes e construiu importantes iniciativas de educação em saúde através da Coletiva SUS (@coletiva.sus) durante a fase mais crítica da pandemia. Atualmente, Karine é uma das organizadoras e agitadoras das mobilizações locais e nacionais em prol do piso salarial da enfermagem, desde a luta pela aprovação do PL 2.564/2020 até a atual oposição à suspensão da Lei 14.434/2022, que estabelece o piso salarial da categoria após extensa luta unificada de estudantes, enfermeiras, técnicas/auxiliares de enfermagem e parteiras. 

A enfermeira Karine tem militância aguerrida desde a universidade, quando atuou no movimento estudantil de enfermagem através do Centro Acadêmico de Enfermagem da Universidade de Brasília- campus Darcy Ribeiro (UnB Darcy) e da Executiva Nacional dos Estudantes de Enfermagem (ENEEnf), por isso acredita na defesa da ciência e da educação pública como pilares da reconstrução do País. Sendo linha de frente do cuidado, compreende a precarização do trabalho pela qual passa a enfermagem brasileira, comprometendo-se com o combate à destruição dos direitos da classe trabalhadora, que impacta no trabalho da enfermagem tanto no aumento da demanda de trabalho quanto no adoecimento da categoria pela violência e desvalorização às quais está submetida. Por ser mãe, Karine compreende o quanto a situação de vulnerabilidade de milhares de mulheres brasileiras que carecem de assistência social, emprego e saúde opera em uma cadeia de acontecimentos que influencia na qualidade de vida das mulheres e crianças. 

As Mulheres de Todas as Lutas constroem uma candidatura coletiva encabeçada por Maria Eduarda Krasny, co-candidata a deputada federal travesti mais jovem do País, Larissa Pankararu, co-candidata a deputada federal indígena mais jovem do Brasil, Ludmilla Santiago, liderança LGBT+ antirracista consagrada na capital, Amanda Leite, advogada ecofeminista e anticarcerária e, enfim, Karine Afonseca, enfermeira da rede pública de saúde, gerontóloga, mestre em Saúde Coletiva, diretora da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn), e mãe feminista. 

Foto: Scarlett Rocha

As Mulheres de Todas as Lutas contam com as potencialidades de 5 mulheres com pautas diversas, que não se restringem a seus nichos, mas compartilham de perspectivas críticas à realidade social pela qual passa o Brasil e o Distrito Federal. Na saúde e para a enfermagem, as Mulheres de Todas as Lutas enfatizam propostas que envolvem a revogação da EC 95; o restabelecimento da Rede Cegonha e da política de saúde mental; a implementação real – com investimentos, planejamento e monitoramento – das políticas nacionais de atenção integral à saúde da população negra e da população LGBT+; o fortalecimento da Estratégia Saúde da Família (ESF) e a ampliação da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB); a garantia de dignidade salarial para a enfermagem e demais categorias da saúde; a luta contra a privatização dos serviços e terceirização dos trabalhadores; a defesa da universidade pública; a luta contra a implantação do ensino à distância, e questões inúmeras que são levantadas de forma ampliada diuturnamente, na construção massificada de propostas que respondem a demandas urgentes da enfermagem e de outras trabalhadoras e usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS). 

Os avanços na luta da enfermagem brasileira fomentaram na categoria a unidade e o protagonismo político, fazendo com que, nas eleições mais importantes das nossas vidas até então, muitos profissionais da categoria assumam o desafio de representar pautas sensíveis através dos cargos eletivos. “Enfermagem vota na enfermagem” tem sido a premissa evocada pela categoria e, sendo esta a realidade que a enfermagem brasileira está disposta a concretizar, que esta construção seja pautada no compromisso com a defesa do SUS, da vida das mulheres, das LGBT+ e da negritude, do anticapacitismo, dos povos originários e do meio ambiente; na garantia dos direitos sexuais e reprodutivos; na ampliação dos direitos da classe trabalhadora; pois tudo isso é sobre saúde e cada um desses aspectos diz sobre a realidade do trabalho da enfermagem, pois reflete a identidade da enfermagem e, também, quem são as pessoas cuidadas pela maior categoria da saúde brasileira. 

A enfermagem brasiliense tem nas mãos o poder de votar em uma enfermeira do SUS para representá-la na Câmara Federal e, de forma potente, somar a ela outras quatro mulheres comprometidas, aguerridas, enraizadas nas lutas mais urgentes do povo brasileiro. Dia 2 de outubro, as enfermeiras, parteiras, técnicas e auxiliares de enfermagem, estudantes técnicos e de graduação têm a tarefa de digitar nas urnas o 5088 e levar à câmara federal a defesa do SUS, das mulheres e da enfermagem brasileira. 

por Lígia Maria, de Brasília (DF)