Aproxima-se o dia 2 de outubro, quando o voto da maioria da população pode definir a eleição presidencial em primeiro turno. Do contrário, a decisão será postergada por quase um mês (28 dias), uma vez que o segundo turno só irá ocorrer em 30 de outubro. Daí a pergunta, que não é simplesmente retórica: Quem quer dar mais 30 dias a Bolsonaro?
Há uma chance real de derrotar Bolsonaro no primeiro turno
Este debate não existiria se não houvesse um fato objetivo: a possibilidade do presidente genocida ser derrotado no primeiro turno. Para além do nosso desejo, essa é uma questão que está posta pela própria situação política. O problema-chave é: essa chance deve ser aproveitada ou desperdiçada? De imediato, a resposta só pode ser uma: repousa sobre os nossos ombros a tarefa de torná-la ou não realidade.
Os limites políticos estão dados pela resistência da maioria dos apoiadores de Simone Tebet e de Ciro Gomes que, de forma mais ou menos ampla, rejeita renunciar ao voto nos seus respectivos candidatos, malgrado isso representar a probabilidade real de conduzir o presidente fascista ao segundo turno.
Argumentos não faltam: as postulações de Ciro e Tebet são legítimas, é necessário combater a “polarização”, as alianças do Lula, no mínimo, são complicadas, podemos, quem sabe, votar 13 no 2º turno etc. Partindo de meias-verdade é possível se chegar a um beco sem-saída: a incompreensão do que está em jogo nessas eleições.
As eleições, normalmente, constituem um momento em que as forças políticas se dividem e medem forças. Logo, é legítimo que cada partido queira apresentar os seus nomes e o seu programa. Não é isso que está em discussão. O que está em debate é se estamos diante de um pleito normal.
E aqui cabe indagar: é aceitável um governo – que passou 4 anos preparando e ameaçando um golpe de Estado -, se postular a um novo mandato, para que tenha oportunidade de seguir aplicando o seu projeto golpista, e acharmos que a disputa em curso deve ser normalizada, pois ela ocorre dentro do corriqueiro, do habitual?
Não vamos chegar a um acordo acerca de diversas questões, mas, nesse caso, a ausência de um acordo, implica abrir caminho para que o esquadrão fascista siga em sua marcha triunfal. Dessa maneira, entre todas as legitimidades postuladas, não me parece que exista outra que traga em si não só o sentimento de urgência, mas também de pertinência, como a que levanta a necessidade de se derrotar a marcha fascista, pois se essa não for detida, corremos o risco, em pouco tempo, de perceber de que não haverá espaço para se pleitear qualquer questão legítima nos próximos anos. Uma segunda vitória fascista pode se traduzir em um furacão que pode arrastar o que ainda resta das frágeis liberdades políticas no Brasil.
Decorre daí a polarização, e, de fato, ela expressa a tradução, ainda que mediada e distorcida, da luta de classes nas eleições. Não por acaso, Bolsonaro tem a preferência dos que usufruem das maiores rendas, ao passo que Lula tem o apoio dos estratos mais empobrecidos da classe trabalhadora, conformes examinamos em artigo anterior.
Acontece que, não contentes com essa conclusão óbvia, os adversários do voto útil no primeiro turno, principalmente os ciristas, ressaltam as complicadas alianças que o PT negociou. Há publicidades políticas ingênuas que arrolam figuras burguesas que apoiam Lula, ao passo que sugerem a “pureza política” do Ciro Gomes, que não estabeleceu compromisso político com nenhum desses setores oportunistas. Ora, francamente, o Ciro está sozinho não é por pureza política, por “não se misturar com essa gente” etc., mas porque não conseguiu alcançar sucesso nas suas muitas tentativas de construir um bloco em que se cogitou até o antigo DEM.
Isso quer dizer que as alianças sacramentadas pelo PT estão certas, não são problemáticas? Seguramente que não. Era preciso, porém, tomar o pulso do estado de espírito das massas, e esse indicava uma só direção: unirmo-nos em torno de Lula para vencer a vertente bolsonarista, um grupo de extrema direita que considera admissíveis o aniquilamento da democracia política e, no limite, a destruição das organizações da nossa classe. Então, formalizamos (forças do PSOL) com o Partido dos Trabalhadores um compromisso político concreto em torno de um objetivo: derrotar o candidato fascista. Nesse sentido, não parece justificável usar as hesitações de classe do petismo para não se colocar no campo da possibilidade real de vencer os fascistas no primeiro turno.
Consideramos até agora os argumentos esgrimidos por pessoas que honestamente tentam defender o seu ponto de vista, inclusive aventando o voto no Lula em um possível segundo turno. Mas aqui cabe perguntar: se podemos derrotar o bolsonarismo no primeiro turno, por que prolongar essa agonia? É possível ir mais longe, e nos interrogar: por que receitar o leite longa vida ao genocida? Por que não derrotá-lo, agora, quando estamos diante de uma oportunidade de ouro? Dois pontos do Ciro e um da Tebet, quem sabe, e a fatura está liquidada no primeiro turno. Então, por que conceder mais 30 dias a Bolsonaro? Por que esse ato de piedade para com o impiedoso?
Mais um mês de campanha, ou quase isso, é o cenário perfeito para ele mover o seu exército de poeira humana, civil e militar, com o intuito de intimidar as pessoas e praticar atos de violência ainda maiores do que os já praticados (espancamento de pesquisador do Datafolha, vidraça quebrada em um prédio onde estava uma bandeira do Lula, assassinato de ativistas políticos etc.). Além disso, é tempo mais do que suficiente para que a retórica fascista siga contaminando a sociedade. Vamos pagar para ver? Há esse sentimento masoquista entre nós que, justiça seja feita, nos últimos anos enfrentamos esse governo da morte?
Assim, tudo é posto às avessas: o voto no candidato “puro” é mais importante do que o voto para derrotar eleitoralmente o fascismo no primeiro turno. Mas é hora de chamar as coisas pelo seu nome. Há um grupo fascista no controle do Estado brasileiro, trabalhando 24 horas por dia para suprimir as liberdades políticas e os direitos sociais, civis e políticos das pessoas, e, principalmente, das organizações da classe trabalhadora e dos setores populares e oprimidos. Não podemos esperar mais um dia para detê-lo. Derrotá-lo no primeiro turno é decisivo para que possamos traduzir objetivamente essa tarefa no plano político.
Considerações finais
É esta reflexão – a nosso ver, legítima – que nos leva a convidar eleitores ciristas, tebetistas e outros: venham para esta trincheira! Que as nossas diferenças não sejam empecilhos no sentido de acertarmos as nossas contas com os fascistas. Votar Lula, garantir a sua vitória sobre Bolsonaro no primeiro turno, é o mesmo que nos negar a dar o velho pré-datado de 30 dias aos que estão sepultando o país.
Nenhum dia a mais aos inimigos da classe trabalhadora e da democracia política! Quando nós dermos esse primeiro passo, à luz de uma necessidade tática, estaremos em melhores condições para dobrar estrategicamente a espinha do oponente ameaçador.
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