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BRASIL

Um presidente INbrochável?

Carolina Campos Pereira Mattos* e Gabriel Barbosa Mendes**
Bolsonaro no discurso do imbrochável
UOL/ Band Eleições

Na data em que atos de conteúdo golpista e que proclamaram seu ápice no encontro com militares na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro, manifestações apoiadas e convocadas pelo presidente Jair Bolsonaro, sob o manto da comemoração da Independência, assumiram, uma vez mais, um nítido caráter golpista, com ataques ao sistema eleitoral, à independência dos poderes e à tentativa de desestabilização do sistema democrático.

Nesse contexto, nada mais característica e caricata a construção de uma fala que, proferida em direção ao séquito de apoiadores, iniciasse-se pelo prefixo latino de negação “IN”. Linguisticamente, prefixos são afixos que formam palavras a partir de um morfema que antecede o radical. Tais partículas modificam o seu sentido, conferindo ao termo ao qual se aglutinam um novo conteúdo semântico. Assim, a despeito de um neologismo chulo e deselegante, o qual encontra eco na galeria de barbaridades misóginas e machistas proferidas por Bolsonaro, tal escolha linguística escancara um governo de negativas e de negações.

INcapaz de solidarizar-se às milhares de vítimas da Covid-19, Bolsonaro conduz sua tentativa de reeleição sob o discurso mentiroso e INverídico da pós-verdade, escancarando uma realidade paralela, na qual teria agido rápida e eficazmente em uma das conjunturas mais difíceis da história da saúde nacional. Nessa trajetória, debochou, mentiu e tentou, de todas as formas, INviabilizar o acesso às vacinas e a construção de um plano nacional rápido, amplo e eficaz de vacinação.

Sua INaptidão para o cargo que ocupa traduziu-se, ao longo de quase quatro anos, em um cenário desolador. Do aumento alarmante do desmatamento à volta do Brasil ao Mapa da Fome. Partindo do menor consumo de carne no país em 16 anos aos recordes INfelizes de inflação. Do litro de gasolina, que ultrapassou a barreira dos R$ 9,00 a uma série de indicadores negativos, amplamente noticiados pela imprensa — a despeito dos ataques sofridos, especialmente por jornalistas mulheres, desde 2018.  

Trata-se, pois, de algo mais que um INfortúnio. A alta da inflação, o aumento do preço do botijão de gás, dos produtos no supermercado e a elevação do custo de vida, enfim, são produto de uma política nefasta e INsalubre, comandada por por Bolsonaro e Paulo Guedes. Segundo o IBGE, em quase três décadas de implementação do Real, nunca o salário mínimo diminuiu.

Na contramão do sofrimento da classe trabalhadora brasileira, de forma INdecorosa, Bolsonaro esbanja gastos INcalculáveis com cartão corporativo. Segundo o Portal da Transparência, foram desperdiçados nada menos que R$ 3 milhões de reais, apenas nos três primeiros meses do ano corrente, sendo R$ 2 milhões só em março. A gastança se expande de maneira INcontrolável nos bilhões despendidos com o orçamento secreto, com as verbas para parlamentares e em emendas que fornecerão as bases de seus palanques nos estados.

Não bastasse tudo isso, é INdescritível a hipocrisia que define o discurso de Jair. INcoerentemente, ao mesmo tempo em que aposta numa retórica religiosa e conservadora, Bolsonaro insiste em se promover sexualmente, utilizando termos como o que marcou sua fala hoje. Basta lembrar sua declaração, em 2021, “Fique tranquilo. Já falei que sou imorrível, imbrochável e também sou INcomível”. Além de revelar uma INaptidão quanto à adequação de sua linguagem, uma vez que utiliza um palavreado chulo em contextos que não o suscitam, Bolsonaro mostra, por meio de suas INconsistentes explanações, uma masculinidade extremamente frágil. 

As ações e falas do presidente reforçam sua postura sexista. Quando afirma que “Podemos fazer várias comparações, até entre as primeiras-damas. Não há o que discutir. Uma mulher de Deus, família e ativa na minha vida”, ou ainda, “Eu falo aos homens solteiros: procure uma mulher, uma princesa, se case com ela para serem mais felizes.”, Jair demostra sua crença na submissão feminina, além de uma  INcontestável falta de respeito àquelas que ele tenta desesperadamente atrair como apoiadoras. 

Assim, diante do INominável e INdefensável governo que, todos esperamos, encontra-se às portas do fim, a declaração deste sete de setembro não poderia ser mais, paradoxalmente, infeliz e coerente, uma que traduz as INcontáveis barbaridades de um ser absolutamente INcapaz, INditoso, INescupuloso e que, por uma INfelicidade histórica, tivemos o INfortúnio de vivenciar. 

INquestionavelmente, é o momento de transformar o pessimismo e a descrença em estímulo para uma rede INcansável de resistência. Centros estudantis, associações docentes, grupos feministas, sindicatos, movimentos sociais, meios de comunicação e organizações da sociedade civil precisam se unir para combater a onda fascista que se instalou no Brasil e que começará a ser extirpada com a saída de Bolsonaro do poder. Que tenhamos, num futuro próximo, que utilizar menos o prefixo “in” para caracterizar não só as declarações, mas, principalmente, as ações daquele (a) que vier a traduzir a movimentação democrática das próximas semanas.

* Carolina Campos Pereira Mattos é Professora da Rede Estadual de MG

** Gabriel Barbosa Mendes é Professor da Rede Estadual de MG e membro da CM Resistência JF – MG