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EDITORIAL

Após o 07 de setembro, organizar a ofensiva da campanha de Lula

Editorial
Ricardo Stuckert

Bolsonaro demonstrou força no 07 de setembro. Levou multidões às ruas em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Financiado com dinheiro público, o ato eleitoral de Bolsonaro manteve a linha antidemocrática, ainda que num tom menos radicalizado do que um ano antes. O perigo do golpismo segue vivo.

Jair, como de costume, fez falas machistas bizarras e prometeu “extirpar” Lula e a esquerda, numa evidente ameaça fascista. Sequestrando a data comemorativa do bicentenário da independência, conseguiu uma super exposição midiática, o que foi um triunfo para ele.

No ato oficial em Brasília, não estiveram presentes os presidentes do STF, da Câmara dos Deputados e do Senado, que preferiram guardar distância do evento. Mas o comando das Forças Armadas, por sua vez, serviu gentilmente aos propósitos bolsonaristas.

Ao mostrar força nas ruas, mobilizando enorme massa de seguidores, em sua maioria de renda mais alta e brancos, Bolsonaro reforça a estratégia golpista e busca o impulso para chegar ao segundo turno. Mas são duvidosos os impactos eleitorais do 07 de setembro.

Certamente, o ato animará a base bolsonarista para a campanha, o que pode ser importante na reta final da disputa. Porém, o descarado uso eleitoral do evento, as declarações misóginas e o discurso que não fura a bolha podem trazer efeito negativo para pretensões eleitorais de Bolsonaro. Será preciso acompanhar com atenção as próximas pesquisas para verificar o exato impacto do 07 de setembro na disputa.

Ir para cima, para vencer no 1o turno!

Lula se mantém como favorito nessas eleições, com condições de buscar a vitória no primeiro turno. A grande manifestação bolsonarista ocorrida na quarta-feira não modifica esse cenário, na medida em que segue havendo uma maioria no povo contra Bolsonaro e a favor do petista, sobretudo entre os mais pobres e as mulheres.

Porém, o maior perigo para a esquerda é subestimar o inimigo, realizando uma campanha “morna” na reta final. Bolsonaro ainda não está derrotado. É necessário organizar a imediata ofensiva, para que a campanha Lula ganhe as ruas, criando uma onda capaz de assegurar o triunfo, se possível, no primeiro turno.

Equivocadamente, a direção da campanha de Lula não apostou, até aqui, numa forte disputa nas ruas, com exceção da realização de comícios, que vem juntando dezenas de milhares de pessoas.

Enquanto Bolsonaro passou meses construindo uma forte manifestação eleitoral em 07 de setembro, não houve por parte da principal força de esquerda o mesmo empenho e decisão estratégica de apostar numa campanha-movimento. Acerta Guilherme Boulos e o PSOL ao convocarem os atos de esquerda em 10 de setembro, chamados para fortalecer a campanha de Lula e a luta contra o golpismo.

Faltam três semanas para as eleições. O momento de ir para cima é agora! A campanha Lula precisa ganhar corpo nas ruas, sobretudo nas capitais e grandes cidades. A convocação para os  comícios do petista na reta final deve ser potencializada ao máximo.

É hora de estar em cada terminal de ônibus, em cada feira, em cada entrada de metrô, nas portas das fábricas e nos demais locais de trabalho e estudo. O povo trabalhador e oprimido deve ser lembrado de toda destruição causada por Bolsonaro nos últimos anos.

É preciso, também, evitar o erro do “giro ao centro”. Não basta falar sobre o passado, lembrando da época do governo Lula. A campanha precisa reforçar os compromissos concretos para as principais demandas do povo trabalhador e oprimido.

Algumas propostas importantes. Valorização real do salário mínimo, recuperando as perdas dos últimos anos. Manutenção, aumento e ampliação do Bolsa Família (atual Auxílio Brasil). Fortes investimentos em saúde e educação públicas, com recursos oriundos da taxação dos mais ricos. Ampliação das cotas raciais e novas políticas de combate ao racismo. Ampliação dos direitos reprodutivos, sociais e trabalhistas das mulheres. Reconstrução e ampliação da proteção ao meio ambiente e aos povos indígenas.

Outro aspecto que precisa ser reforçado é luta pelo voto útil dos eleitores que hoje pensam votar em Ciro Gomes e Simone Tebet. A ocorrência do segundo turno abrirá novas possibilidades para Bolsonaro numa disputa que ficará ainda mais acirrada. É perigoso demais correr esse risco.

A vitória de Lula nas eleições não vai acabar com o bolsonarismo, nem eliminar o perigo do golpismo no futuro. Porque o fascismo se derrota, sobretudo, nas ruas, por meio do enfrentamento direto. Mas a derrota de Bolsonaro nas urnas é crucial para abrir melhores condições de vida e de luta para a ampla maioria do povo brasileiro.

Leia mais: Confira os atos pelo Brasil em 10 de setembro!

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eleições 2022 / lula