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MOVIMENTO

Quem é Camila Lisboa, a nova presidenta do Sindicato dos Metroviários de SP

Camila será a primeira mulher a presidir o sindicato, um dos mais importantes do País

da redação*

Na madrugada deste sábado, 03/09, por volta das 3h50, a comissão eleitoral anunciou o término da apuração e o resultado da eleição para a nova direção do Sindicato dos Metroviários, iniciada no dia 28/08.  A Chapa 2, encabeçada por Camila Lisboa, venceu as eleições com 2.183 votos, representando 56,50% dos votos válidos, contra 1.681 votos da Chapa 1, correspondendo a 43,50% dos votos, e 119 nulos ou brancos. Ao todo, 3.983 pessoas votaram, maioria dos cerca de sete mil trabalhadores e trabalhadoras da empresa.

A grande novidade no resultado é a eleição de uma mulher para liderar o sindicato e as lutas de uma categoria de maioria masculina – somente 18%  são mulheres. Operadora de estação, jovem e negra, Camila fez um discurso potente na quadra dos Metroviários, espaço que foi mantido pela categoria com muita luta, sobre o simbolismo na eleição. “Pela primeira vez nós vamos ter uma mulher na Presidência do sindicato. Mas isso não é sobre mim, isso é sobre todas as mulheres. O que permitiu que uma categoria como a nossa veja em mim, veja nós mulheres como lideranças, é o fato de nós mulheres estarmos juntas”, afirmou Camila, no discurso de vitória.

A operadora de estação (OTM1) lotada na estação Arthur Alvim, já ocupava posição de destaque, em uma das três coordenações-gerais do sindicato, modelo que foi abandonado nesta eleição, retomando o presidencialismo. Neste período, Camila esteve a frente das greves e lutas da categoria, mas buscando garantir o protagonismo feminino e também a luta antirracista. Em pelo menos uma ocasião, manifestou-se publicamente sobre a atitude da imprensa paulistana, que costumava buscar sempre dar voz para sindicalistas homens nas entrevistas, mesmo com ela ocupando a mesma posição no sindicato. “Eu acredito que o machismo pode sim ser superado na luta e nós mulheres podemos sim nos colocar como liderança de toda a classe trabalhadora”, reafirmou Camila em seu discurso. Antes de vencer as eleições, ela foi escolhida em uma prévia, promovida democraticamente pela Chapa 2 para escolher o nome que encabeçaria a chapa.

Camila: mulher negra, jovem e lutadora

Camila começou sua trajetória ainda no movimento estudantil da UNICAMP, onde formou-se em Ciências Sociais. Depois de formada, atuou como professora na rede estadual de São Paulo até prestar concurso para o Metrô, em 2012, e logo que foi convocada a assumir a vaga como Agente de Estação, filiou-se ao sindicato.

Ela foi parte dos 42 trabalhadores demitidos na greve de 2014 que, depois de uma intensa campanha democrática, foram readmitidos.

Nas eleições do sindicato para a gestão de 2019, Camila concorreu como Coordenadora Geral, tarefa que cumpre desde então. Ao longo destes últimos anos, foram muitas lutas. Uma das mais importantes foi em defesa da sede do sindicato, ameaçada de ser tomada pelo governo de João Dória-PSDB. O sindicato, com Camila na linha de frente, também tem lutado contra a ofensiva privatista sobre o metrô, denunciando as consequências dessa medida, e por condições seguras de trabalho e por vacina, ao longo da pandemia.

Militante política – integra a Resistência, uma das correntes do PSOL, Camila concilia a intensa agenda de atividades com o estudo, com a investigação científica e acadêmica acerca das lutas da classe trabalhadora, tendo recentemente publicado um livro (Usina Editorial) nascido de seu mestrado em Sociologia prestado na USP, cujo tema é a percepção dos usuários do Metrô acerca das greves de seus trabalhadores, e que contou com o professor Ricardo Antunes na banca. O livro teve também vários “lançamentos” informais em vários setores do metrô, com Camila compartilhando o resultado com a categoria.

Em seu discurso de posse, Camila fez questão de relacionar a vitória a uma nova concepção de movimento sindical, que enfrenta a burocratização e o corporativismo, e busque reinventar as entidades sindicais, a partir da representação da diversidade das categorias que representa. “Eu peço a todo o movimento sindical a olhar para o exemplo da chapa 2, que foi eleita, porque eu acho que tem um outro registro: a classe trabalhadora mudou, a classe é mais diversa e nossa chapa conseguiu refletir isso”, afirmou.