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BRASIL

Família Bolsonaro pagou 51 imóveis em espécie e precisa responder de onde veio o dinheiro

da redação

Reportagem publicada nesta segunda-feira, 30, pelo UOL revelou que o clã familiar de Bolsonaro adquiriu nada menos que 51 imóveis, de um total de 107, mediante pagamento com dinheiro em espécie, ao longo das últimas três décadas. Em valores correntes, ou seja, atualizados pela inflação, as operações de compra de casas, apartamentos, salas comerciais e terrenos teriam custado algo em torno de R$ 25,6 milhões, pagos utilizando, em todo ou em parte, dinheiro em espécie.

A prática chama atenção haja visto que, o mais comum, neste tipo de transação com montantes expressivos de dinheiro, é o pagamento em cheque ou transferências bancárias e não com dinheiro vivo.

Alguns dos imóveis ficam em cidades na região do Vale do Ribeira, no interior paulista, como Miracatu e Cajati. Aliás, é em Cajati onde fica a casa mais cara comprada por integrantes da família, neste tipo de transação. Situada em um terreno de 20.000 metros quadrados e cheia de mordomias como quadras esportivas, áreas de lazer e, inclusive, um clube de tiro particular (diga-se de passagem, não registrado pelo exército), o imóvel custou a bagatela de R$ 3,4 milhões em valores atualizados, paga em espécie. A mansão de Cajati pertence a uma empresa cuja proprietária é a irmã de Jair, Maria Denise Bolsonaro, e o cunhado.

Já em Miracatu, dois imóveis foram adquiridos pela mãe de Bolsonaro com dinheiro em espécie, e correspondem a R$ 257 mil, em valores atuais.

Os negócios envolveram, além de Jair Bolsonaro, seus quatro irmãos, seus filhos e sua própria mãe, as suas duas ex-mulheres.

Suspeita de lavagem de dinheiro

Bolsonaro entrou na política no final da década de 80 como vereador no Rio de Janeiro e, desde então, seu patrimônio cresceu em progressão geométrica.

O pagamento em dinheiro vivo para grandes aquisições, como é o caso de imóveis, por si só não representa um crime, mas levanta fortes suspeitas que precisam ser investigadas a fundo já que, pelo menos, há possibilidade de sonegação fiscal tendo em vista o Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) existente nesse tipo de compra.

Assim, há fortes indícios de que o dinheiro usado para a compra desses imóveis possa ter sua origem na chamada “rachadinha”, uma forma de peculato com dinheiro público que consiste na retenção de parte dos salários de assessores, prática que o próprio Bolsonaro já admitiu ser comum no meio parlamentar. Não por acaso os filhos de Bolsonaro estão sendo investigados por essa prática.

Ao saber da reportagem, Bolsonaro questionou a credibilidade do portal UOL, um dos veículos da imprensa que já vem atacando desde o início do seu mandato, e tentou relativizar o assunto: “qual o problema comprar com dinheiro vivo?”

Muitos políticos de esquerda foram às redes exigir a imediata investigação. Foi o caso do candidato ao governo de São Paulo, Fernando Haddad (PT), que comentou em sua conta no twitter: “O termo rachadinha precisa ser atualizado. Os Bolsonaros desviaram dezenas de milhões de reais durante trinta anos de vagabundagem. Do slogan do fascismo brasileiro, só sobra “família”, a dele. Antes de prendê-los, vamos julgá-los na forma da Constituição.”

Na internet, internautas chamaram o caso de Lavanderia Bolsonaro, e questionaram a defesa da moralidade e o dito combate à corrupção feito pelo bolsonarismo, dois dias após atacarem o candidato Lula, no debate.

"Certamente o pessoal que se indignou com um Triplex não vai votar em um cara com esquema de 107 imóveis, né?" Twitte de @andrefran

 

A apuração foi feita por meses pelo portal UOL, visitando cartórios em várias cidades e reunindo mais de mil documentos. Uma devassa com vários profissionais da imprensa, tendo a frente uma mulher, a jornalista Juliana Dal Piva, o que deve ter despertado ainda mais o ódio no misógino Bolsonaro.

Diante dos documentos, o bolsonarismo precisa se explicar. Não há como decretar sigilo de 100 anos, como costuma fazer diante de outras denúncias de corrupção ou o sigilo que atribui a 96% dos gastos do cartão corporativo. O valor pago indica uma prática de décadas do clã, lavando dinheiro advindo de rachadinhas, dos gabinetes parlamentares, ou de outras possíveis formas de enriquecimento, não declaradas. Mais do que nunca é preciso investigar as denúncias e derrotar Bolsonaro na eleição, para que possam responder na Justiça.