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BRASIL

Guilherme Cortez: “Ninguém quer trombar na rua com uma pessoa desprezível como Ricardo Salles”

Por Bruno Rodrigues, da redação

Jovem candidato do PSOL e militante do Afronte encarou o ex-ministro do Meio Ambiente em campanha por sua cidade. Nesta entrevista ao EOL, ele conta sobre como foi o encontro nas ruas de Franca (SP), cidade que vivencia eventos climáticos extremos no último período, acentuados pelo desmatamento no governo Bolsonaro. Guilherme comenta também a reação de Salles, que chegou a publicar ameaças nas redes sociais após o episódio. E analisa a conjuntura atual, a campanha e a necessidade de eleger Lula e uma forte bancada de esquerda ao parlamento.

EOL – Guilherme, muita gente viu seu vídeo confrontando o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e sentiu-se representado por sua atitude. Como foi ficar diante de um dos piores ministros que o país já teve?

Olha, não foi nada agradável, ninguém quer trombar na rua com uma pessoa desprezível como Ricardo Salles. A gente estava fazendo campanha no centro de Franca, era o primeiro sábado de campanha, tinham várias candidaturas por lá, principalmente candidaturas da região, e numa esquina que a gente estava distribuindo nossos panfletos a gente cruzou com a comitiva do Salles que a gente nem sabia que viria a Franca, né?

Quando você se depara com essa pessoa, você precisa falar, não pode perder a oportunidade de falar algumas coisas. Eu acho que tem um sentimento de indignação muito grande em relação a tudo o que o governo Bolsonaro e o Salles em particular fizeram com nosso meio ambiente. O Salles é nada menos do que o pior ministro do Meio Ambiente da história do Brasil. É um pária internacional, uma pessoa que é reconhecida internacionalmente como uma pessoa que destruiu os ecossistemas brasileiros, a Amazônia, o Pantanal, o cerrado, promoveu um verdadeiro ecocídio no nosso país e que contribuiu muito para reduzir a expectativa e a perspectiva de futuro da nossa geração. Com a forma como ele contribuiu com a destruição do meio ambiente e as mudanças climáticas.

Então não foi nada agradável, mas eu não podia deixar de dizer que era um absurdo que uma pessoa que cometeu tantos crimes ambientais e contra o nosso próprio futuro, contra o meio ambiente, estivesse livremente fazendo campanha na rua. Enfim, sem ser responsabilizado e sem estar preso, que é onde ele devia estar pelos crimes que ele cometer e pelos quais está sendo investigado. Então, foi mais ou menos assim o episódio.

EOL – Como você deve ter visto, o ex-ministro respondeu a repercussão do seu vídeo com uma ameaça no twitter, que ele já apagou, mas ameaça ao dizer que em uma próxima situação, ele partirá para a agressão. Como você enxerga essa reação e a violência política nas eleições?

Primeiro, é uma fraude. Porque na hora ele não foi. Ele só xingou, que é esse o método. Eles não sabem discutir, eles não sabem debater, só sabem usar de rede social para espalhar mentiras, violência, discurso de ódio, né? Então é muito fácil quando você chega, fica atrás do seu computador, você falar que agora vai bater em todo mundo, vai fazer acontecer e tal. Mas além disso, eu acho que é um método deplorável mas completamente esperado desse tipo de pessoa. A gente sabe que o bolsonarismo, a extrema direita, esses neofascistas, eles têm a violência política como método. Então, como eles não têm a verdade, quando eles são confrontados, com as acusações, com a realidade, eles precisam partir para agressividade. Foi a mesma coisa que a gente viu na semana passada, o Bolsonaro, quando foi chamado de tchutchuca do centrão, que daí tentou tirar o celular da mão da pessoa. Depois a comitiva presidencial dele atacou o cara, então eu acho que é lamentável, eu acho que eles têm visto pelo menos desde a ascensão do bolsonarismo que a violência política cresceu, o que é muito preocupante. A gente está participando de uma eleição, eu sou candidato numa eleição em que a gente tem que se preocupar de forma redobrada com a nossa segurança e com a nossa vida, vamos dizer assim. Você pode cruzar com uma pessoa que pode te agredir.. ou que nem teve aquele caso lamentável de Foz do Iguaçu. Então eu acho esperado, eu acho patético, eu acho um ato de covardia você não conseguir discutir frente a frente, daí você vai pro computador falar que vai agredir, que vai fazer isso e com um monte de xingamento, com o método deles que é tentar desqualificar os adversários. Só que isso não vai passar. Esse comentário foi tão ridículo, que ele até apagou o tweet depois. E a gente não tem medo também. A gente não vai se calar e nem abaixar a cabeça para esse povo. E se eles acham que vão ter tranquilidade para fazer campanha na rua, para sair enganando a população, não vão.

EOL – Guilherme, a cidade de Franca, onde você mora, tem sofrido com fenômenos climáticos extremos. Fala mais sobre esses fenômenos.

Olha, eu costumo dizer que Franca e a região tem se mostrado um dos epicentros da crise ambiental, da crise climática aqui no estado de São Paulo. Então, no ano passado a gente teve em sequência, vários eventos climáticos extremos e muito, muito preocupante. Então, no começo do ano teve uma chuva muito forte e costuma ter no começo do ano e quando chove muito forte na cidade, sem planejamento o que acontece é alagamento, é enchente, é destruição de um monte de coisa, mas em contrapartida mais ou menos nessa época do ano passado, que é o período de maior estiagem, a gente teve uma série de queimadas muito intensas, que consumiram principalmente a zona rural aqui da nossa região e que cobriram o céu de toda a região com fuligem, com fumaça. A gente teve desabastecimento de água por conta do clima muito seco que fez secar e diminuir a vazão do sistema de abastecimento hídrico aqui da cidade. E o que ficou mais conhecido foi aquela imagem de uma grande tempestade de terra que engoliu a cidade inteira, que foi o mais extraordinário, porque aquele evento ele é comum em regiões desérticas, ele é comum no deserto do Saara. Aquilo estar acontecendo no meio do interior de São Paulo, é no mínimo sintoma de uma inversão muito grande, vamos dizer assim.

Então eu acho que tudo isso são processos globais, né? Tudo está atrelado ao processo global de mudanças climáticas, que eu acho que pessoas como Salles e Bolsonaro e essa política de destruição ambiental, inclusive incentivam e contribuem muito, quando eles intensificam a destruição do nosso meio ambiente, quando eles devastam a Amazônia, que é o pulmão do mundo, que ajuda o planeta inteiro a absorver poluentes, né? Então quando eles incentivam a devastação do solo, garimpo ilegal, agronegócio, uso indiscriminado de agrotóxico. Então eu acho que justamente por isso não dava para gente deixar passar batido que uma das pessoas que mais contribuiu para essa crise ambiental viesse começar a sua campanha aqui na região de Franca.

Eu acho que a gente precisa tomar medidas estruturais, radicais e urgentes a nível nacional e a nível global para frear as mudanças climáticas, fazer uma transição energética, ter uma política agroecológica, ter uma política de preservação do nosso solo, dos nossos recursos naturais. Mas a gente também precisa nos nossos estados e por isso é importante o papel das eleições. A gente também precisa promover mudanças para combater e minimizar os efeitos dessas mudanças climáticas e eventos climáticos extremos que já estão acontecendo. Por isso a importância também da gente votar e eleger candidaturas e programas que fortaleçam a pauta climática e ambiental.

EOL – Guilherme, de acordo com o Observatório do Clima, o Ministério do Meio Ambiente tem hoje um dos seus menores orçamentos das últimas décadas. O que evidentemente impacta nas ações de órgãos como o IBAMA, o ICMBio, etc. Qual a importância do ecossocialismo para a esquerda hoje?

Eu acho que o problema ambiental não começou hoje, não começou com o governo Bolsonaro, mas como tudo quando eles passaram a aparelhar o governo com ecocidas, com garimpeiros, com traficantes de madeira e com todo o tipo de estirpe ruim que a gente tem nesse país, o retrocesso ambiental ganhou um enorme aliado no nosso país. Então o Bolsonaro escolheu a dedo quem ia colocar em cada Ministério como uma pessoa para destruir aquela pasta. Então a gente teve ministros da Educação voltados para destruir a educação pública no Brasil. A gente teve ministro da Saúde voltado para destruir o SUS. E o Ricardo Salles foi um ministro anti meio ambiente, foi uma pessoa que atuou para desmontar os mecanismos de preservação e proteção ambiental, desmontar o ICMBio, o Ibama, a destruição que eles promoveram na Funai e o apoio que eles deram para o genocídio da população indígena. Então, acho que isso tudo é projeto. Isso é um projeto da extrema direita para intensificar a exploração e a destruição do nosso meio ambiente, por isso que eu acho que a gente tem que pautar o ecossocialismo e pautar inclusive nessas eleições na lógica ambiental radicalmente diferente que entenda que o meio ambiente não é lucro. Meio ambiente é essencial para garantir a vida no planeta Terra e que se a gente não parar imediatamente e com uma medida radical, puxar o freio de emergência da humanidade, se a gente continuar com os atuais parâmetros de exploração e devastação do nosso meio ambiente e de nossos recursos naturais, não vai ter planeta. Não existe planeta B. Não existe um plano b se a gente destruir o nosso planeta. O relatório do IPCC divulgado neste ano, o sexto do IPCC, disse que falta muito pouco tempo para a gente atingir o aumento de 1,5° da temperatura da Terra desde o começo da industrialização, o que traria consequências nefastas para o futuro da humanidade, para a vida no planeta Terra, de todas as espécies, inclusive espécie humana em todos os nossos biomas.

A gente tem pouco tempo. O ecossocialismo, eu acho que é um freio de emergência, de urgência e a gente tem que, se a gente não tomar medidas efetivas, como o desmatamento zero, e frear o desmonte, mas não só frear o desmonte, que inclusive foi intensificada no governo Bolsonaro. Mas ter uma política radicalmente ecológica, de proteção das comunidades tradicionais, de transição agroecológica, de transição climática, preservação do nosso solo, de reforma agrária, de soberania alimentar. Se a gente não tomar medidas enérgicas e urgentes já não vai ter planeta daqui para frente.

EOL – Você é candidato nestas eleições. Como está a campanha e como você acha que será a composição dos próximos parlamentos, da Alesp e do Congresso Nacional?

Eu fui candidato na eleição passada aqui em Franca. A gente foi a quarta candidatura mais votada da cidade. Infelizmente, não nos elegemos por conta do quociente partidário, mas continuamos atuando e ainda mais desde então, com a legitimação do resultado que a gente teve. Agora a gente está numa luta muito intensa, porque as eleições deste ano, elas são decisivas para o futuro do Brasil, para o futuro do Estado e para a nossa geração. Eu acho que a gente tem uma tarefa fundamental que é a tarefa de interromper o governo Bolsonaro, que a gente já queria ter feito isso… não queria ter sequer deixado que ele chegasse ao fim de seu mandato, porque o que não faltaram foram crimes de responsabilidade cometidos. Mas é fundamental que esse seja o último ano do governo Bolsonaro e que depois que perder a eleição, que ele seja responsabilizado pelos crimes que cometeu. Ele e todas as pessoas que foram cúmplices desse projeto. E como a gente vai fazer isso? Votando no Lula. A gente tem que eleger o Lula no primeiro turno, por isso estamos fazendo uma campanha muito militante, muito aguerrida, conversando com cada pessoa, virando cada voto. As pessoas fizeram a experiência durante quatro anos de governo. A vida de todo mundo piorou, a gente perdeu centenas de milhares de pessoas para uma pandemia e para o negacionismo, então eu acho que é fundamental derrotar o Bolsonaro no primeiro turno. A gente não pode arriscar. Mas acho que também é fundamental, além de derrotar Bolsonaro, que a gente também eleja fortes bancadas parlamentares de ativistas, de militantes, de lutadores, pessoas que têm compromisso com as nossas lutas para que a gente possa reverter nas Assembleias Legislativas e no Congresso Nacional todo o estrago que tem sido feito nesse país desde o golpe. Então é muito importante que, além de uma forte bancada de esquerda, uma forte bancada de movimentos populares e movimentos sociais, que a gente tenha uma bancada ecosssocialista, que coloque no centro do debate a luta contra as mudanças climáticas e por uma transição ambiental e energética. E uma forte bancada LGBTQIA+, para fazer frente à bancada da intolerância, ao fundamentalismo.

A campanha começou na semana passada. A gente já colocou o nosso bonde na rua. Estamos tendo muita receptividade. Aqui na região de Franca a gente é a única candidatura de esquerda a deputado estadual que constrói a candidatura do Lula. A gente é parte deste movimento para eleger Haddad, para colocar um fim a três décadas de governo do PSDB no Estado de São Paulo, e também para eleger lutadores e ativistas para a Alesp e ao Congresso Nacional.

*Colaborou Juliana Bellato.