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TEORIA

Documentário mostrará história do trotskismo brasileiro

Henrique Canary

Mário Pedrosa assina ficha de filiação ao PT

Com previsão de lançamento para 2023, começa a ser produzido um documentário de longa metragem que deverá contar a história do trotskismo brasileiro, desde suas origens, no final dos anos 1920, até os dias de hoje. O filme é assinado pelo diretor Leandro Olímpio, que dirigiu filmes como Última Província, Imagens de um Sonho (Prêmio Melhor Documentário do 17° Curta Santos) e Elza (Prêmio Melhor Filme pelo Júri Popular da categoria Olhar Caiçara do 16º Curta Santos) e será produzido pela Cajuína Filmes, produtora sediada em São Paulo.

O longa ainda não tem título definido, mas já possui um subtítulo: “Retratos do trotskismo brasileiro”. A proposta não é contar uma história linear, didática ou ideologicamente amarrada a esta ou àquela corrente, mas sim apresentar recortes significativos dos mais variados personagens, organizações, fatos e gerações do movimento trotskista brasileiro.

Surgido no final dos anos 1920 como uma corrente interna do PCB, o movimento trotskista brasileiro é um fenômeno complexo, multifacetado e que não se submete facilmente a análises superficiais e simplificadoras. Em seu objetivo inicial, a então autointitulada corrente dos “bolcheviques-leninistas” buscava unicamente mudar os rumos do Partido Comunista Brasileiro, e não fundar uma nova organização. Foi a partir da ruptura internacional do movimento comunista entre stalinistas e trotskistas, na primeira metade dos anos 1930, que o Grupo Lenin, criado por gigantes como Mario Pedrosa e Lívio Xavier, decidiu também no Brasil passar definitivamente à construção de uma nova organização revolucionária.

Os trotskistas brasileiros são participantes ativos dos mais importantes capítulos da história do país. Estiveram na Batalha da Sé, em 1934, no episódio conhecido como “Revoada das Galinhas Verdes”, quando os integralistas (fascistas brasileiros) foram surrados pelos movimentos sociais organizados; na luta contra o Estado Novo de Getúlio Vargas; na luta contra o Golpe Militar de 1964; na resistência à ditadura (inclusive na resistência armada); no renascimento do movimento operário brasileiro a partir da segunda metade dos anos 1970; na luta por anistia; na fundação e construção do PT (Mario Pedrosa foi seu filiado Nº 1); na fundação e construção do MNU (Movimento Negro Unificado); na fundação da CUT em 1983; na luta pelas Diretas Já! Em 1984, no Fora Collor! em 1992 e em muitos outros movimentos e capítulos decisivos de nossa história.

Milto nBarbosa, fundador do MNU

A história do trotskismo brasileiro não se reduz à política. O movimento inspirado por Leon Trotski influenciou a literatura, as artes plásticas, o teatro, bem como a produção acadêmica brasileira. Foram membros ou simpatizantes de organizações trotskistas figuras como Pagu (Patrícia Galvão), o poeta curitibano Paulo Leminski, a atriz Lélia Abramo, o sociólogo Florestan Fernandes. As ideias de Trotski influenciaram a obra de autores como Chico de Oliveira e até mesmo Fernando Henrique Cardoso.

Naturalmente, a história do movimento trotskista brasileiro não é feita somente de vitórias e méritos. A marginalidade política, as seguidas e dramáticas divisões, as deserções de importantes dirigentes formam, por sua vez, um lado melancólico do movimento que não deve ser silenciado e precisa vir à tona.

O filme se encontra, atualmente, na fase de pesquisa historiográfica e documental. Alguns importantes testemunhos já foram encontrados em arquivos e devem compor a montagem final do longa. Em breve, começará a fase de entrevistas com especialistas e testemunhas oculares dos fatos.

Às vésperas do centenário do surgimento da Oposição de Esquerda na Rússia (1923), “aqueles que o poder não corrompeu”, segundo as palavras do grande Leminski, merecem um retrato que lhes faça justiça: sem mistificações e falsas glórias, mas com admiração e respeito por todas as batalhas que várias gerações de homens e mulheres travaram para que chegássemos até aqui. E seguíssemos adiante.