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EDITORIAL

É hora da ofensiva contra o golpismo!

Editorial

Bolsonaro mantém as ameaças golpistas, visando a manifestação fascista de 07 de setembro. Mas está mais isolado. A pregação golpista aos embaixadores estrangeiros em 18 de julho foi um desastre político para o miliciano.

Na sequência do evento, os governos dos Estados Unidos e do Reino Unido emitiram notas de confiança no sistema eleitoral brasileiro. Até mesmo setores do grande empresariado nacional, sempre silenciosos, se pronunciaram. A FEBRABAN e a FIESP, duas das mais importantes associações patronais do país, endossaram um manifesto em defesa das normas democráticas vigentes no país.

Outra iniciativa foi a carta em defesa da democracia articulada por banqueiros, industriais, juristas e artistas, que já conta com 700 mil assinaturas. A carta será lida em um ato na Faculdade de Direito da USP no dia 11 de agosto.

Essa relevante movimentação no andar de cima não decorre de compromissos reais com a democracia por parte dos Estados Unidos e da elite empresarial brasileira. Os quais,  ao longo da história, tantas vezes patrocinaram golpes e medidas autoritárias. Mas, sim, da avaliação de que o projeto de ruptura institucional de Bolsonaro é, nesse momento, prejudicial aos seus interesses políticos e econômicos.

Para Joe Biden, presidente dos EUA, não convém o triunfo de um aliado direto de Donald Trump no mais importante país da América do Sul, que ensaia fazer no Brasil o mesmo que a extrema direita fez lá, com a invasão do Capitólio, em 2020. A posição do governo norte-americano foi reforçada pela declaração feita em Brasília pelo Secretário de Defesa do país, o general Lloyd Austin, que afirmou que os militares devem estar sob controle civil e que confia no sistema eleitoral brasileiro.

Para o grande empresariado nacional, por sua vez, o atual regime democrático-burguês, que sucedeu a ditadura militar, vem se demonstrando um ordenamento institucional estável e útil para a ampliação de suas riquezas e poder político. De modo que uma aventura golpista configuraria um risco desnecessário e contraproducente aos seus negócios, sobretudo num momento de extremo isolamento e desgaste do governo brasileiro no plano internacional, particularmente entre as grandes potências ocidentais.

A esquerda deve aproveitar desse momento de choque entre Bolsonaro e setores da classe dominante e do imperialismo norte-americano e europeu para fazer avançar a campanha de Lula nas ruas e a luta unificada contra o golpismo.

Os atos com Lula nas cidades estão atraindo milhares de pessoas e tendem a crescer ainda mais nas próximas semanas. Além disso, a campanha Fora Bolsonaro definiu um importante calendário de mobilização, com atos nacionais previstos para 11 de agosto e 10 de setembro. O momento é de organizar a ofensiva contra o golpismo!

O inimigo é perigoso e ainda não está derrotado

Bolsonaro conserva posições de força e não pode ser subestimado. Ele moverá todos seus recursos e influência para fazer uma grande manifestação golpista em 07 de setembro. Para isso, conta com o suporte dos militares, do centrão, de setores empresariais (sobretudo do agronegócio), de igrejas evangélicas, de milícias e de uma ampla e sofisticada organização fascista nas redes sociais.

Além disso, com a efetivação, nesse mês, do aumento do Auxílio Brasil e dos benefícios a taxistas e caminhoneiros e com a diminuição dos preços dos combustíveis e da energia, é possível que Bolsonaro suba nas pesquisas eleitorais. O objetivo principal da direção da campanha bolsonarista é evitar a vitória de Lula no primeiro turno.

No contexto de uma disputa acirrada, a esquerda não deve, de modo algum, deixar a extrema direita prevalecer nas ruas e na campanha eleitoral. A força da mobilização popular  é o instrumento mais poderoso para derrotar as ameaças fascistas e assegurar a vitória de Lula nas urnas.

Ampla unidade em defesa da democracia, mas sem abrir mão das bandeiras da esquerda

Na luta contra o golpismo de Bolsonaro é preciso construir a unidade mais ampla possível para lutar, inclusive com todos setores empresariais que estão se posicionando contra as ameaças de golpe. Por isso, é correto a assinatura da carta em defesa da democracia. No dia 11 de agosto, quando ocorrerá o ato de leitura da carta, é necessário concretizar essa unidade ampla nas ruas. É preciso preparar também uma resposta ao 07 de setembro bolsonarista, com a construção de uma manifestação democrática três dias depois, no dia 10.

A realização de uma ação unitária com setores burgueses contra o golpismo não deve significar nenhuma confiança nesses segmentos da elite. Os banqueiros e grandes empresários que se colocam em defesa da democracia apoiaram o golpe contra Dilma em 2016, a prisão de Lula em 2018 e toda a agenda neoliberal de privatizações e retirada de direitos sociais dos últimos anos.

O compromisso deles não é com a justiça social e tampouco com os direitos democráticos do povo oprimido e trabalhador, mas sim com a preservação de seus lucros e privilégios. Estão contra o projeto golpista de Bolsonaro porque compreendem que ele ameaça a estabilidade social e política interna e a credibilidade do país no exterior, fatores de enorme relevância para a segurança e a viabilidade dos negócios capitalistas.

A esquerda deve realizar uma unidade pontual com esses setores empresariais para enfraquecer o golpismo de Bolsonaro, mas não pode abrir mão de seu programa de transformação anticapitalista. Junto com a defesa da democracia, é preciso levantar as bandeiras em defesa dos trabalhadores e dos oprimidos — salário, emprego, renda, direitos sociais, antirracismo, direitos das mulheres e da população LGBTQI, serviços públicos de qualidade, revogação das reformas neoliberais, mudança na política econômica etc.

O povo trabalhador se mobilizará se perceber que seus interesses materiais concretos estão sendo levantados. A campanha de Lula deve construir a ponte entre a luta pela democracia com a defesa das demandas mais sentidas pelo povo, afirmando que a mobilização popular é o instrumento mais eficaz para se alcançar a vitória.

 

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