No sábado, 30 Jair Bolsonaro comunicou a intenção de realizar o desfile militar de Sete de Setembro, que marca os 200 anos de Independência do Brasil, na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. O anúncio foi feito em uma convenção partidária em São Paulo, quando Bolsonaro chamou a mudança de “inovação”. De manhã, Bolsonaro participaria do desfile tradicional, em Brasília, com a presença de chefes de Estado, e às 16h, do ato-desfile no Rio de Janeiro.
O anúncio vai muito além de uma simples “inovação”, como quer fazer crer o presidente. A mudança presta-se a dois objetivos: transformar o desfile em um ato de apoio a campanha de Jair Bolsonaro e também às ameaças golpistas contra as eleições. O desfile ocorrerá na Avenida Atlântica, na orla de Copacabana, local em que geralmente são marcadas as manifestações favoráveis ao presidente. Com o ato, o presidente espera repetir cenas como as de 2018, quando tanques e caminhões com soldados desviaram o trajeto e “desfilaram” em meio a uma multidão que comemorava a vitória de Bolsonaro, em Niterói (RJ).O Rio de Janeiro é o berço político do bolsonarismo, não somente o domícilio eleitoral da maioria da família, mas local onde a influência bolsonarista sobre as forças de segurança, governo e judiciário atingiu seus maiores patamares. Influência que se soma a presença e controle das milícias em territórios da capital e da Baixada, grupos com relações estreitas com o bolsonarismo.
Apesar de Bolsonaro e Lula estarem tecnicamente empatados no estado, com vantagem ao petista, candidatos apoiados pelo bolsonarismo são favoritos para a disputa ao Senado (Romário) e ao governo estadual (Cláudio Castro). A realização do ato consolidaria essa vantagem e fortaleceria as candidaturas proporcionais bolsonaristas no Estado, que não terão uma onda eleitoral como a que foi vista em 2018 e, ameaçados, neste momento tentam visibilidade através de ataques e ameaças a parlamentares de esquerda, em especial mulheres negras, do PSOL, e a memória de Marielle.
A realização do desfile em Copacabana, e não na Av. Presidente Vargas, onde tradicionalmente é realizado e para onde vinha sendo preparada toda a estrutura, é antes de tudo uma manobra eleitoral, criticada inclusive por militares, como o general da reserva Paulo Chagas, entrevistado pelo portal UOL. “Com certeza, é uma tentativa de envolver as Forças Armadas e policiais no processo eleitoral, o que, na minha opinião, é totalmente fora de propósito”, afirmou. Apesar da opinião do general, a relação dos militares com o bolsonarismo e com a política é cada vez maior, o que se evidencia pelas falas do ministro da Defesa, general Paulo Sérgio de Oliveira, que repetem e sustentam os ataques às urnas eletrônicas, inclusive propondo uma apuração paralela.
Mais do que objetivos eleitorais, o ato de 7 de Setembro é o ápice das ameaças golpistas e assim está sendo convocado, sem disfarce. Depois de posar no desfile oficial, como estadista, em Brasília, Bolsonaro desembarcaria no Rio de Janeiro para atiçar o que chama de “exército”: milhares de fanáticos de extrema direita, a maioria armados e muitos deles policiais, convencidos de que estão travando uma luta entre o bem e o mal e estimulados a atos extremos para impedir “a ameaça comunista”. O 7 de Setembro, portanto, sob um verniz patriótico e nacionalista, transforma-se no ponto alto da campanha de ódio e ameaças que vem sendo feita pelo bolsonarismo. Os “soldados” de Bolsonaro iriam às ruas “pela última vez”, segundo o presidente.
Por mais que as condições para um golpe não estejam dadas e que o bolsonarismo utiliza destas ameaças para negociar uma blindagem do presidente e de familiares após a saída do poder, não há nada que impeça que a extrema direita protagonize ou convoque ações violentas em caso de derrota eleitoral, inclusive com maior efetividade e mortes do que no Capitólio, nos Estados Unidos. Mais do que nunca, as ameaças golpistas – inclusive a realização do ato-desfile em Copacabana – precisam ser detidas.
Para isso, junto com a campanha eleitoral para eleger Lula presidente no primeiro turno, é fundamental a mobilização dos trabalhadores e da juventude contra o golpismo. O primeiro passo será no próximo dia 11, com atos de rua em todo o país, em defesa da democracia. No mesmo dia, será lida a carta feita pela Faculdade de Direito da USP, uma iniciativa em unidade de ação, que reúne desde artistas, intelectuais e juristas até mesmo parte do andar de cima, que é contra uma mudança no regime político, apesar de apoiar o programa econômico que trouxe fome e miséria ao nosso povo. Outra grande iniciativa será no sábado seguinte ao 7 de Setembro, no dia 10, quando estão sendo convocados pela Campanha Nacional Fora Bolsonaro atos em resposta ao golpismo.
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