A pouco mais de 80 dias do 2 de outubro, a imensa parte da esquerda cearense segue sem a definição de sua pré-candidatura ao governo do Estado. A aliança entre PT e PDT que governa o Ceará desde 2007, primeiro com Cid Gomes (PDT) e depois com Camilo Santana (PT), está diante de seu grande e, tomara, derradeiro impasse. De um lado, Ciro Gomes quer, e não abre mão de jeito algum, como futuro governador, o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT). De outro, a maioria do PT Ceará quer fazer campanha para a atual governadora Izolda Cela (PDT), que assumiu o governo com a renúncia de Camilo para concorrer à vaga de futuro senador cearense. Os Ferreira Gomes prometeram definir qual será o nome do PDT somente às vésperas da abertura do período de convenções eleitorais. Tentam matar o PT no cansaço, que por sua vez, simplesmente aceita, inicialmente numa recusa sem sentido de manter uma aliança que, na prática, já morreu e nos últimos dias, tentando, com notas e declarações, seduzir parte da cúpula pedetista cearense a bancar o nome de Izolda, leia-se, romper com Ciro.
Na surdina, o milionário e ex-senador Eunício Oliveira (MDB), movimenta-se já esperando a ruptura da aliança governista cearense e com a possibilidade de PDT e PT estarem em palanques diferentes. Eunício trabalha com a hipótese de que a fatura da candidatura pedetista já está fechada com o candidato de Ciro devendo ser anunciado em breve e que o PT precisará de novos aliados para apresentar qualquer candidatura viável. Eunício coloca-se como pretendente ao palácio do governo cearense, tendo possivelmente um petista como vice. Não à toa, patrocinou uma pesquisa eleitoral em que se apresentou como possível candidato apoiado por Lula. E para sermos francos, hoje por hoje, essa é a hipótese mais provável de se confirmar: Roberto Cláudio (PDT) de um lado e Eunício (MDB) com vice do PT de outro. O problema para essa nova possível aliança bizarra, é tanto garantir que não haverá represálias à traição de Eunício à presidenciável de seu partido, Simone Tebet, como convencer a própria base do petismo cearense de que é preciso votar no ex-senador. Vale dizer que Eunício, apesar do acordo firmado com a cúpula petista, não foi reeleito em 2018, entre outras coisas, exatamente por ter feito parte do golpe parlamentar e midiático de 2016, votando pelo impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. Naquele mesmo ano, o PSOL cearense acabou por conseguir seu melhor resultado para o senado, obtendo 4,09% dos votos válidos com a candidatura de Anna Karina, feminista e professora.
Mas enquanto a maior parte da esquerda cearense aguarda o anúncio oficial da já conhecida decisão de Ciro, digo, do PDT, o bolsonarista deputado Capitão Wagner (União Brasil), apresenta-se a todo instante nas redes sociais como alternativa para o que ele chama de um “Ceará sem medo”. Wagner quase foi eleito prefeito de Fortaleza por duas vezes e foi, em 2018, o deputado federal mais votado do Ceará. Ele tem corrido o território cearense, em pré-campanha, arregimentando apoios e militâncias de direitosos de todas as colorações e também de suas milícias. Sim, eu disse milícias. Wagner é conhecido, tanto por ter apoiado o motim de 13 dias da polícia militar cearense em fevereiro de 2022, como por defender os policiais responsáveis pela chacina do Curió, na Grande Fortaleza, em dezembro de 2015 promovida por policiais militares operando como um verdadeiro esquadrão da morte. Wagner é sim um perigo real para todo o povo cearense. Não é um completo estúpido como Jair Bolsonaro, pelo contrário, é muito inteligente, articulado e eloquiente, o que talvez o torne ainda mais perigoso. Não à toa, muitas e muitos cearenses, sobretudo aqueles que participam dos movimentos sociais, seguem preocupados com os destinos das eleições estaduais que se aproximam.
O PSOL tem pré-candidatura, a artesã Adelita Monteiro, que sem dúvida alguma, ocupará o espaço relegado a segundo plano por parte da esquerda cearense que colocou-se no lugar de refém de uma política aliancista miserável que, no fim das contas, no lugar de fortalecer as ideias e política de esquerda, acaba servindo de base para o crescimento da direita e suas ideias. Adelita não poupará nem o Capetão de lá, o Bozo, nem o de cá, o Wagner. Será uma belíssima campanha. Mas melhor ainda seria, se as federações PT-PCdoB-PV e PSOL-Rede, apresentassem uma candidatura única em frente de esquerda. A escolha, entretanto, é fundamentalmente dos petistas.
*Giambatista Brito é militante da Resistência/PSOL e membro do diretório estadual do PSOL.
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