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BRASIL

Duas estratégias para eleger Lula no 1° turno e derrotar o golpismo

Editorial
Lula na bahia
Ricardo Stuckert

O desespero de Jair Bolsonaro cresce a cada dia com a consolidação da liderança de Lula nas pesquisas. O ex-presidente aparece, inclusive, com possibilidade de vitória já no primeiro turno.

Além de perder a presidência, Bolsonaro teme que uma derrota eleitoral abra caminho para a prisão dele, dos filhos e de aliados próximos. Afinal, é conhecida a lista de crimes cometidos pela família e seus asseclas. Mas o miliciano não é um inimigo abatido. Ao contrário: tem força política e social e disposição de lutar pelo poder.

Antes de sugerirmos duas estratégias para assegurar a vitória de Lula, importa conhecer as principais táticas do bolsonarismo nessa batalha histórica.

As apostas de Bolsonaro para tentar virar o jogo

A primeira é usar a máquina pública despudoradamente para beneficiá-lo eleitoralmente. O objetivo é diminuir a vantagem de Lula e levar a disputa ao segundo turno. A PEC do Estelionato Eleitoral, que aumenta e cria novos benefícios sociais às vésperas das eleições, não deixa margem à dúvida. Embora, diante da fome e da miséria alarmantes, exista a necessidade de elevar imediatamente o valor do Auxílio Brasil para R$ 600, fica evidente o caráter eleitoreiro dessa PEC, pois o aumento valerá apenas até dezembro desse ano. Passando o trator no Congresso, a coalização de extrema direita, que une militares, o centrão e bandos fascistas, está disposta a utilizar todos artifícios, lícitos e ilícitos, para não perder a chave do cofre.

A segunda aposta é manter as ameaças golpistas tendo em vista uma nova manifestação fascista em sete de setembro, poucas semanas antes das eleições. Bolsonaro sabe que Lula é favorito à vitória. Por isso, prepara sua base de apoio mais radicalizada para questionar o sistema eleitoral, usando o pretexto de uma suposta fraude nas urnas eletrônicas. Ações violentas para tentar tumultuar e melar a disputa podem acontecer, a exemplo do que ocorreu nos EUA, em 2020, com a invasão do Capitólio (sede do Congresso norte-americano) patrocinada por Trump.

A terceira aposta é produzir uma enxurrada de fakenews nos próximos meses para provocar pânico moral em segmentos da sociedade, tal como foi feito em 2018. Deve-se esperar de tudo: notícias falsas para associar Lula e o PT a esquemas de corrupção, a ataques aos “valores” da família cristã e a ameaça à propriedade das pessoas. Provavelmente, as denúncias fakes disseminadas nas redes sociais não terão o mesmo efeito de quatro anos atrás. Mas o impacto potencial no setores sociais mais conservadores ainda pode ser relevante. 

Duas estratégias para Lula vencer: mobilização e programa à esquerda

A primeira deve ser a construção de uma campanha-movimento que mobilize centenas de milhares de pessoas. A direção da candidatura de Lula precisa apostar numa campanha ativista que tome as ruas e se organize por baixo nos bairros, escolas, universidades e locais de trabalho.

As primeiras atividades abertas com a participação de Lula estão demonstrando significativa capacidade de atração de pessoas. Por exemplo, na comemoração de rua da independência da Bahia, em 02 de julho, o ex-presidente arrastou uma multidão atrás de si nas ruas de Salvador. É esperado um grande público também no ato na Cinelândia, no Rio de Janeiro, que ocorrerá nessa quinta, dia 07.

Fazer uma campanha-movimento serve ao propósito de ampliar a disputa pelo voto, buscando a vitória em 1o turno, mas sobretudo para construir uma maioria nas ruas que se contraponha ao golpismo. Bolsonaro quer mostrar que ele lidera o “DataPovo”, isto é, a popularidade nas ruas. Vai tentar colocar muita gente em seus atos de campanha e, principalmente, na manifestação golpista de 07 de setembro.

Perante esse cenário, tem enorme importância demonstrar que a esquerda e os defensores das liberdades democráticas são a maioria também nas ruas, não deixando o bolsonarismo hegemonizá-las. A meta deve ser levar multidões em cada ato e comício com Lula nas cidades e construir uma grande manifestação de massas em setembro pelo Fora Bolsonaro e em defesa da democracia. Com isso, não haverá espaço para prosperar qualquer tentativa golpista.

A segunda estratégia deve ser a apresentação de um programa à esquerda que responda às necessidades mais sentidas pelo povo trabalhador e oprimido. Diversos setores das elites dominantes querem empurrar a campanha de Lula mais à direita, ao gosto do mercado financeiro, dos banqueiros e dos grandes empresários. Querem que Lula recue nos pontos mais progressivos do seu programa. Ceder a essas pressões é um erro estratégico.

Esta é uma campanha que, mais ainda do que as anteriores, precisa gerar engajamento em torno de um programa, pois enfrenta um adversário fascista que ativa e organiza sua base de apoio defendendo ideias abertamente de extrema direita.

Além disso, as bandeiras que Lula irá defender estabelecerão o seu compromisso com as mudanças necessárias no país. Nesse sentido, é chave a defesa de propostas concretas direcionadas para as maiorias sociais, para que as grandes massas — especialmente seus setores mais oprimidos e explorados, negros, mulheres, jovens, LGBTs, pobres, operários, nordestinos etc. — se identifiquem e abracem a campanha.

Alguns eixos para um programa à esquerda

– Defesa do combate emergencial à inflação com: (a) o fim do Preço de Paridade Internacional (PPI) na Petrobrás, para baixar os preços dos combustíveis e do gás; (b) a instituição do gatilho salarial, com o aumento automático dos salários de acordo com a inflação; e (c) o congelamento dos preços dos itens da cesta básica.

– Defesa da revogação da reforma trabalhista e a da previdência, assim como de todas privatizações feitas no últimos período, como a venda dos ativos e empresas da Petrobrás. A reversão do legado nefasto de Temer e Bolsonaro deve ser a prioridade.

– Defesa da criação de milhões de empregos por meio do investimento público num ousado programa de infra-estrutura e obras sociais (escolas, universidades, hospitais, creches, moradias populares etc.) e da valorização real do salário mínimo. Para ter recursos para isso, é necessário acabar com o Teto de Gastos e todas benesses ao grande capital, como as isenções fiscais e os pagamentos extorsivos da dívida pública.

– Defesa da ampliação substancial dos valores e do alcance dos programas de transferência de renda e das verbas para a educação e a saúde públicas. Para ter dinheiro para financiar esse aumento, é preciso taxar as grandes fortunas, os lucros e os dividendos dos grandes capitalistas e banqueiros.

– Defesa dos direitos reprodutivos das mulheres, com a ampliação do direito ao aborto, para que milhares de mulheres pobres não percam mais suas vidas ou fiquem com graves sequelas em interrupções clandestinas da gravidez.

– Defesa da ampliação das cotas raciais e da desmilitarização das polícias, para avançar no combate ao racismo estrutural.

– Defesa do ensino de educação sexual nas escolas, incluindo o tema da diversidade sexual, para avançar no combate à LGBTfobia.

– Defesa do desmatamento zero, da demarcação de todas terras indígenas e quilombolas e do investimento pesado em energia limpa, de modo a enfrentar seriamente a destruição ambiental e o aquecimento global.

– Defesa de uma ampla reforma agroecológica, com desapropriações dos latifundiários que cometem crimes ambientais, para ampliar a produção de alimentos de qualidade  e baratos para alimentar as cidades.

Essas são algumas das propostas programáticas que a Resistência, corrente interna do PSOL, vem apresentado para o debate na esquerda.

 

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