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Datafolha revela que o segundo turno já começou

Lula em Juiz de Fora
Ricardo Stuckert/ Brasil de Fato

Gabriel Casoni

Gabriel Casoni, de São Paulo (SP), é professor de sociologia, mestre em História Econômica pela USP e faz parte da coordenação nacional da Resistência, corrente interna do PSOL.

A cem dias das eleições, a pesquisa Datafolha, divulgada nessa quinta (23), confirma a tendência de antecipação do segundo para o primeiro turno. Uma polarização extrema entre Lula e Bolsonaro se formou com enorme antecedência. Estamos a pouco mais de três meses do primeiro turno, mas é como se já estivéssemos numa intensa disputa de segundo. 62% dos eleitores, na resposta espontânea, já tem voto decidido em Lula (37%) ou em Bolsonaro (25%). Algo sem precedentes no país.

Lula figura próximo, segundo as pesquisas mais confiáveis, de uma eventual vitória em primeiro turno há mais de 1 ano, oscilando pouco entre 47% a 54% dos votos válidos. A maioria popular que rejeita o governo Bolsonaro encontrou em Lula a alternativa eleitoral e seguirá com ele, muito provavelmente, até 02 de outubro. É improvável que Lula caia abaixo dos 40% ou que suba acima acima dos 55%. Vale notar que 55% dizem não votar em Bolsonaro de jeito nenhum.

Do mesmo modo, Bolsonaro mantém-se no mesmo patamar há bastante tempo. Oscila em torno dos 30%, sem cair ou subir muito desse nível. Me parece que dificilmente cairá abaixo dos 25% ou subirá acima dos 35% nas projeções de 1o turno. Bolsonaro tem a fidelidade canina da base neofascista (15 a 20% do eleitorado) e também a grande parcela dos votos antipetistas na classe média e no segmento mais conservador das massas populares, aqueles que nem precisam gostar muito do atual governo, mas odeiam, acima de tudo, Lula e o PT.  Nesse sentido, vale sublinhar que  35% dizem não votar em Lula de jeito nenhum, segundo o Datafolha.

Por isso, opino que os fatos da conjuntura, mesmo que impactantes (como foram o assassinato brutal de Bruno e Dom e a prisão do Milton Ribeiro), tendem a mover pouco a decisão de voto da ampla parcela da população que já se decidiu entre Lula ou Bolsonaro. Quem pretende votar em Lula muito dificilmente migrará o voto para Bolsonaro e vice-versa, e não há nenhuma alternativa viável fora dessa polarização, nem à direita nem à esquerda. Como é improvável que haja alguma candidatura com força para quebrar a polarização (Ciro faz apenas 8%, e pode desidratar para o voto útil até outubro), a questão central dos próximos três meses é se haverá ou não segundo turno.

Nesse momento, a batalha central de Bolsonaro é levar a eleição para o segundo turno (tanto que, no desespero eleitoral, quer aprovar Auxílio Brasil de R$ 600), pois é quase impossível virar sobre Lula até de 02 outubro, postas todas evidências disponíveis (grau de desgaste do governo, nível de consolidação da intenção de voto em Lula, estagnação econômica, inflação, carestia etc.). Se houver segundo turno, Bolsonaro ganhará tempo para tentar apertar a disputa eleitoral e, sobretudo e o mais perigoso, avançar na mobilização e na campanha golpista.

Para a esquerda, o centro deve ser a luta para eleger Lula no primeiro turno (tarefa possível, ainda que difícil) e realizar uma campanha com ampla mobilização popular para derrotar qualquer tentativa golpista. Para isso, é fundamental levantar um programa de esquerda que dialogue com as necessidades mais sentidas das massas exploradas e oprimidas.

Por fim, vale notar o naufrágio da chamada terceira via. Simone Tebet (MDB, PSDB, Cidadania), apesar de todo espaço na grande mídia, fez 1% no Datafolha, empatando com Vera Lúcia, do PSTU, e atrás do Janones, do Avante, que fez 2%.