Sobre a política federal de assalto à educação e o silêncio dos omissos do IFCE
Publicado em: 21 de junho de 2022
A educação pública vem sendo atacada sistematicamente no Brasil, isso já sabemos. Também não é novidade que, no governo Bolsonaro, destruí-la é uma prioridade. Desde as acusações “ideológicas”, que tentam desmoralizar trabalhadores, estudantes, pesquisadores e extensionistas, até a construção histórica e especializada do currículo e da legislação educacional brasileira.
Mas é com a retirada dos recursos que mantém nossas instituições abertas que Bolsonaro assume, ao lado do MEC e do Ministério da Economia e do Planejamento, o explícito lugar de exterminador do futuro. Desde 2019 o governo federal vem empreendendo uma verdadeira cruzada contra os serviços públicos, principalmente a educação. Os dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi) comprovam que este é o governo que menos investe em educação dos últimos 10 anos, dos centros de educação infantil às universidades.
Os recursos para a educação básica (ensino fundamental e médio) caíram de R$ 6,9 bilhões em 2020 para R$ 6 bilhões em 2021, uma redução da ordem de 13%. Na educação infantil, o corte foi pela metade: de R$ 207 milhões, em 2018, para R$ 96 milhões em 2021.
Para o ensino superior a situação não é diferente: há uma redução de empenho do orçamento discricionário (despesas básicas variáveis, mas que o governo tem o poder de cortar). A redução do empenho foi de R$ 13 bilhões, em 2018, para R$ 8,2 bilhões em 2021. No que se refere a recursos obrigatórios para as universidades e institutos federais, o corte foi de 71%, com perda de 1,3 bilhão. Segundo o 6º Relatório Bimestral Execução Orçamentária do Ministério da Educação, que tem o objetivo de analisar a destinação e o uso de recursos na educação básica, o MEC terminou 2020 com a menor dotação orçamentária desde 2011, com R$ 143,3 bilhões. Para deixar desenhado: em 2019, no primeiro ano do governo Bolsonaro, a verba para investimento nas universidades federais já havia despencado para R$ 760 milhões – apenas 27,34% do que foi aplicado em 2010.
E o que já era trágico agora toma proporções de barbárie. Em 2022 teremos o maior fundo eleitoral da história (quase 5 bilhões para campanhas políticas). Mesmo assim, em maio deste ano o governo federal anunciou mais um corte de 14,5% dos recursos da educação (cerca de R$ 3,2 bilhões). Com a mobilização de servidores e de estudantes, a medida virou notícia por todo o país e o Ministro Victor Godoy foi a público, em seu Twitter, anunciar que governo diminuiu para R$ 1,6 bi o valor do corte. Apesar disso, em nota oficial do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), publicada no último dia 09 de junho, Reitores dos IFs denunciam que esses recursos desbloqueados não voltarão para as instituições de educação.
No IFCE o cenário de terra arrasada já está posto: a PROAP/Reitoria emitiu ofício-circular dia 06 de junho informando aos campi os valores que deverão ser retirados dos orçamentos locais. Mesmo assim, a gestão maior insiste em afirmar para a comunidade acadêmica que não sofreremos impactos e que o funcionamento dos campi em 2022 não será comprometido. A pergunta é: como? De onde serão retirados os recursos que já sabemos não dispor mais? A Reitoria se manterá conivente com o pacto de mentira e de assalto à educação do governo federal? A troco do que a gestão do IFCE permanecerá subserviente, “olhando para cima”, punindo servidores com o corte de ponto por se mobilizarem em defesa da própria instituição?
A educação pública é um direito de todos e dever do Estado. Defendê-la é, portanto, um papel inerente à função dos agentes públicos. E se foram necessários milhares de mãos, décadas de luta para constituí-la como direito na frágil democracia brasileira, de quantas bocas fechadas e braços cruzados precisaremos agora para destruí-la?
Não existe democracia sem direitos e a gestão maior do IFCE precisa fazer uma escolha nessa encruzilhada histórica: se posicionar em defesa da população cearense ou brincar de fingir democracia.
*Artemis Martins é Pedagoga, Doutora em Educação, Professora do IFCE, Diretora Colegiada SINDSIFCE e Coordenadora Geral SINASEFE
Top 5 da semana

brasil
Prisão de Bolsonaro expõe feridas abertas: choramos os nossos, não os deles
colunistas
O assassinato de Charlie Kirk foi um crime político
brasil
Injustamente demitido pelo Governo Bolsonaro, pude comemorar minha reintegração na semana do julgamento do Golpe
psol
Sonia Meire assume procuradoria da mulher da Câmara Municipal de Aracaju
mundo