A autora Yara Fers acaba de lançar em pré-venda seu quarto livro de poemas, Meio magma, meio magnólia, pela Editora Penalux. A obra traz poemas sobre as dores, curas e resistências das mulheres, com ilustrações da própria autora. E conta com prefácio de Dia Nobre e orelha escrita por Kah Dantas.
O livro é o 18º que sai pelo Selo Auroras, que se propõe a dar voz à escrita de mulheres. A responsável por esse selo da Penalux, Dani Costa Russo, assina a quarta capa, afirmando que “a autora contribui aqui com versos feministas de resistência no tom da união, pegando o caminho do afeto, da aliança entre mulheres, que mesmo diversas, de causas várias, se ordenam juntas na beleza da vida — assim como as magnólias”. E finaliza, relacionando essa resistência ao título: “É meio a meio para ser inteiro. É a entrega de uma escritora nunca dividida entre o poema e o discurso. Se apresenta com os dois, meio magma, meio magnólia”.
No prefácio, a escritora Dia Nobre expõe que “o corpo-livro de Yara é teatro de uma revolução interna que se manifesta em uma escrita sub-versiva e reivindica nosso lugar no mundo. é arena onde lutamos pelo direito aos nossos corpos todos os dias”.
Kah Dantas, na orelha do livro, faz o convite à entrada do leitor com o seguinte texto: “Com este lançamento, a poeta Yara Fers nos presenteia, mais uma vez, com a potência de uma obra poética que se oferece a partir da intimidade ancestral de uma poesia que nos conhece desde muito antes do ventre que primeiro nos abraçou e que, na forma deste livro, anuncia, a todas as mulheres, que nestas linhas elas dispõem de abrigo. Mas que também faz reverberar, em toda a gente, o devido respeito diante das nossas vidas, dos nossos corpos, das nossas histórias e das nossas trincheiras”.
Yara nasceu em Ribeirão Preto (SP), já morou na Bahia e hoje habita as terras cearenses. Escreveu sua primeira poesia aos oito anos de idade. Já venceu alguns concursos literários, como o 3º lugar no Premio Off Flip 2022. Publicou poesias e crônicas em algumas coletâneas e divulga poemas e outros conteúdos literários pelo Instagram @yara.fers .
O livro Meio magma, meio magnólia pode ser adquirido em pré-venda através do link.
Leia abaixo dois poemas do livro:
flores uterinas
útero
não é
um órgão
é terra fértil
semeadura de sonhos
útero
é apenas
uma metáfora de carne
há muitas mulheres
sem órgão-útero
que são
útero
não precisamos ovular
os sonhos
fecundar
constituir um zigoto
desnecessário
todas temos direito
a um plantio
de orquídeas uterinas
uma utopia útera etérea
nas trompas
tudo que podemos
dar à luz
não cabe no útero
mal cabe no universo
transcendendo
nossas vulvas
nossas não-vulvas
nossas válvulas
útero
é apenas metáfora
somos todas
uterinas inteiras
porque sonhos
florescem
em todos os nossos poros
em toda a extensão
da nossa carne
uterística
transubstanciação
tomai, todos
este poema-corpo
este poema-sangue
um poema póstumo
apocalíptico
um antipoema líquido
eu vos dou um verso
mil vezes crucificado
corpo negro alvejado
o poema coagulado
de duas crianças
mortas no tiroteio
estrofe plaquetária
pisada por coturnos
um poema que escorreu
do estupro
e dos punhos
do soco doméstico
o poema-corpo
objetificado
servido na ceia
eu vos dou meu corpo-poema
na fogueira dos livros
um corpo-floresta que queima
um corpo comunista metralhado
tomai, todos, e comei
este corpo
contaminado
estendido na bandeja
pulsando
adoçai a culpa e comei
com feijão e azia
tomai, todos, e bebei
o sangue engasgado do poema
o derrame
um poema lambuzado
de raiva sanguínea
bebei, comei e amai
o mistério do meu verso
isto é o meu corpo
e o meu sangue
cada letra
será derramada por vós
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