Apesar do discurso demagógico que muitas vezes dirigiu contra o “Centrão”, Bolsonaro seguiu operando conforme as vontades do velho fisiologismo que caracteriza a política brasileira. Uma das principais marcas dessa relação são as chamadas “emendas do relator”, que integram o que ficou conhecido como “orçamento secreto”.
O “orçamento secreto” é um escandaloso esquema de transferência de recursos federais para parlamentares aliados do governo aplicarem de forma obscura em seus redutos eleitorais, em troca de apoio político, a despeito das reais necessidades da população.
Só o presidente da Câmara Federal e aliado de Bolsonaro, Arthur Lira (PP), indicou R$ 350 milhões em emendas do “orçamento secreto”, em dois anos. Um valor muito acima da média anual de R$ 18 milhões para o qual cada deputado poderia recorrer. Não por acaso, um dos principais beneficiários das destinações orçamentárias operadas por Lira é o município de Barra de São Miguel, cujo prefeito é ninguém menos que o ex-senador Biu de Lira (PP), pai de Arthur Lira.
O “orçamento secreto” ganhou tanta importância para a sobrevivência política de Bolsonaro que o orçamento da União sancionado para este ano assegura a cifra nada modesta de R$ 16,5 bilhões, para bancar a farra de parlamentares aliados em seus respectivos redutos. Um valor quase seis vezes maior do que foi reservado para o orçamento de um ministério vital, como o do Meio Ambiente, por exemplo.
No fim de 2021, o STF determinou o detalhamento desses recursos, ou seja, destinação e os respectivos valores, contudo os 70% de parlamentares que prestaram contas deram respostas superficiais, enquanto os demais 30%, algo em torno de 190 parlamentares, simplesmente não responderam.
Partidos do Centrão e da base aliada de Bolsonaro são os principais beneficiados pelo “Orçamento secreto”, conforme tabela abaixo:
PP – R$ 2 bilhões
PL – R$ 1,66 bilhão
PSD – R$ 1,64 bilhão
União Brasil – R$ 1,62 bilhão
Apenas quatro partidos, incluindo o PSOL, não receberam recursos do “orçamento secreto”.
Por uma campanha Lula com mobilização para derrotar Bolsonaro
A direção da pré-campanha de Lula vem negociando alianças e apoios de partidos do “Centrão”, como é o caso do PSD, um dos principais beneficiados no “orçamento secreto”. Esses partidos não passam de legendas cujo papel é abrigar velhos oportunistas da política brasileira e caudilhos estaduais, que vivem de negociações, emendas e cargos. Portanto, não podem ser encarados como aliados reais na luta contra Bolsonaro.
O orçamento secreto e o uso da máquina tornam essa eleição uma das mais disputadas e polarizadas da história. Só uma campanha com forte mobilização popular, apoiada na construção de comitês e grupos de ação por todo o país, pode garantir a vitória sobre o neofascismo e eleger Lula presidente.
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