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BRASIL

Mc Donalds: quanto vale a vida de um trabalhador?

F. Parker, do Rio de Janeiro, RJ

Na madrugada de 09 de maio um atendente do Mc Donalds foi baleado por um bombeiro militar na Taquara, na Zona Oeste do Rio de Janeiro (RJ). A discussão se deu porque o bombeiro Paulo César Albuquerque avisou que havia um cupom de desconto após o atendimento. O atendente Mateus Domingues Carvalho, seguindo as normas da empresa, disse que não haveria a possibilidade de aplicar o desconto, pois o pedido já havia sido finalizado e Paulo César, não aceitando, insultou o atendente e o agrediu, com um soco no rosto. Em seguida, o bombeiro pegou uma arma, entrou na loja e desferiu um disparo na barriga do atendente, que foi socorrido, mas terá sequelas.

A rede Mc Donalds se tornou assunto dias antes pela divulgação de que seu sanduíche, Mac Picanha, não é feito de picanha. A empresa foi notificada pelos órgãos responsáveis, porém, este não é o maior dos problemas para uma empresa que lucra bilhões por ano, o que mais incomoda no modus operandi desta empresa não é o falso lanche, e sim a exploração que os trabalhadores do ramo do fast-food enfrentam.

Mc Donalds é o primeiro emprego de muitos jovens, em sua maioria jovens negros da periferia, como Mateus Domingues Carvalho, que usam como trampolim para uma vida melhor, para conseguir pagar a faculdade e ajudar nas contas da família. Mateus, por exemplo, que havia deixado Minas Gerais há cinco anos, sonhava em cursar veterinária.

Todos recebem salários iniciais baixíssimos, de menos de 2 salários mínimos, e cumprem varias funções, como atender, limpar a loja, preparar os lanches, algo baseado no fordismo, para aumentar a eficiência do preparo. Só o que não é eficiente são os salários que recebem.

Após a pandemia o fast-food teve um aumento de lucro, e foi considerado como serviço essencial, obrigando esses trabalhadores a ficarem expostos ao vírus, muitos trabalhadores foram assediados a trabalharem contaminados pela Covid-19, como mostra matéria do The Intercept.

Assédio moral já faz parte do cotidiano desses trabalhadores, que já sofrem humilhações e pressões onde trabalham. Como se não bastasse ainda correm o risco de morte.

Bolsonaro reforçou esse discurso de ódio, e deu carta branca para que seu eleitorado, que em sua maioria é composta por empresários, militares, e classe média alta, faça o uso da violência. É um discurso armamentista para que o “cidadão de bem” fique protegido da ameaça, mas quem seria essa ameaça de fato? Somos nós que moramos na periferia, povo pobre, preto, LGBTQI+, mulheres e indígenas, todos que fazem parte das camadas mais exploradas dos trabalhadores. Mateus Domingues Carvalho, jovem negro da periferia, foi vítima desse discurso de ódio.

Em maio de 2021 foi realizada uma greve dos trabalhadores da rede Mc Donalds nos EUA, por aumento de salário, que não têm desde 2009, o lucro dessa gigante do fast-food em 2021 foi de US$ 23,2 bilhões, lucro graças a mega exploração e do suor destes trabalhadores. Burger King, outra gigante, teve uma onda de pedidos de demissões neste mesmo país pois os trabalhadores não aguentaram ganhar um salário miserável.

É importante que esses trabalhadores se organizem, e se unam, para reivindicar melhorias de condições de trabalho, foram considerados essenciais na pandemia, forneceram comida nas casas das pessoas, enfrentaram a pandemia, e mesmo assim quem saiu no lucro foram os patrões e os acionistas, façam como seus irmãos trabalhadores dos EUA, só a luta e a organização poderá mudar esse cenário. O que aconteceu com Mateus Domingues Carvalho pode acontecer com qualquer funcionário, ou qualquer trabalhador de fast-food, temos que exigir respeito aos trabalhadores, dignidade, melhores salários, e mais segurança, o que o agressor de Mateus – que se apresentou no dia seguinte em uma delegacia e simplesmente foi liberado, para responder em liberdade – não fique impune, e que pague pela tentativa de assassinato.

Trabalhadores precarizados do mundo, uni-vos!!!!

 

Referências

https://theintercept.com/2022/02/07/funcionarios-do-mcdonalds-com-covid-sao-coagidos-por-gerentes-a-nao-faltar/

https://www.brasil247.com/mundo/eua-trabalhadores-do-mcdonalds-entram-em-greve-e-aderem-a-campanha-por-aumento-salarial

https://exame.com/carreira/burger-king-viraliza-apos-pedido-de-demissao-em-massa-em-restaurante/

https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2022/05/09/video-mostra-confusao-no-mcdonalds-que-teve-atendente-baleado-no-rio.ghtml

https://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/2022/01/27/mcdonalds-tem-lucro-de-us-163-bilhao-no-4o-trimestre-alta-de-189percent.ghtml