Nesse domingo, estão marcadas manifestações em várias capitais e cidades do país no 1º de Maio – Dia Internacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras. Em São Paulo, centrais sindicais estão convocando ato na Praça Charles Miller, no Pacaembu, das 10h às 19h, com shows de Daniela Mercury, Leci Brandão, Dexter, DJ KL Jay e Francisco El Hombre. O ex-presidente Lula já confirmou presença e deve discursar para o público.
Esses atos vão ser palco de denúncia da política econômica do governo Bolsonaro, que é comandada por Paulo Guedes. A carestia dos preços de alimentos básicos, combustíveis e energia elétrica estão castigando o povo brasileiro, que já está convivendo com inflação, desemprego e juros de dois dígitos. A inflação do preço da gasolina é um fenômeno global, mas o impacto sobre as populações varia de acordo com a política energética de cada país. A consultoria Oxford Economics mediu essa diferença confrontando o valor do litro da gasolina com o poder de compra em 30 países, e o Brasil aparece entre os três primeiros da lista. Um litro de gasolina corresponde a 9% do salário médio diário do país, percentual menor apenas do que o registrado nas Filipinas (19%) e na Indonésia (13%). O Observatório Social da Petrobrás fez levantamento semelhante em relação ao preço do botijão de gás, indicando que o preço recorde neste século já compromete 9,4% do salário mínimo.
Greves começam a surgir contra o custo de vida!
O conjunto da classe trabalhadora brasileira está vivendo uma situação muito difícil, com queda do poder de compra e ameaça a sua subsistência básica. Segundo o DIEESE, em 2018, cerca de 9% das categorias negociaram salários abaixo da inflação, com um salto em 2021, quando esse índice chegou a 47%. Na data-base de fevereiro de 2022, 60,5% dos 119 reajustes analisados pelo Dieese até 9 de março ficaram abaixo da variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do IBGE, que serve de referência para reajustes salariais. São dados preliminares, mas, em termos percentuais, se aproximam do observado em janeiro de 2021, quando foram analisados 2.315 reajustes.
Diante desse cenário de grave crise econômica, algumas categorias de trabalhadores começam a se movimentar e organizar movimentos paredistas em todo país. Profissionais em educação em várias cidades fizeram ou estão em greve em defesa do piso salarial da categoria, o funcionalismo federal também exige no momento 19,99% de recomposição da inflação, com algumas categorias em greve, como os servidores do INSS e do Banco Central. Os garis do Rio de Janeiro também fizeram uma greve muito importante.
Há greves também no setor privado, destaque para a greve dos trabalhadores em plataformas digitais que organizaram várias paralisações esse ano, destaque também para a luta dos operários da CSN que já estão com suas atividades paralisadas por três semanas enfrentando a direção pelega do sindicato e a repressão da patronal.
A situação econômica do país não tem perspectiva de mudanças e novas greves e lutas podem explodir em várias categorias, essas greves são justas e precisam de toda solidariedade, a luta organizada dos trabalhadores é o único caminho para arrancar alguma conquista salarial diante dessa covarde inflação. Não é possível aceitar uma política econômica neoliberal que enriquece a cada dia os bilionários do Brasil e do mundo, enquanto as famílias não conseguem pagar pelo botijão de gás, enquanto motoristas e entregadores de aplicativos não conseguem mais pagar o absurdo preço da combustível.
Golpismo vai às ruas no 1º de Maio
A extrema direita bolsonarista também está convocando atos nesse domingo, mas a pauta que levam para as ruas não tem a ver com os interesses da classe trabalhadora. A bandeira do bolsonarismo é a defesa do governo, do deputado federal golpista Daniel Silveira, com ataques à democracia e ameaças ao processo eleitoral em 2022. Destaque para o ato marcado na Avenida Paulista, que poderá contar com a presença do presidente Bolsonaro, reeditando a ultima manifestação do 7 de setembro e o de Niterói, com a presença do deputado.
A escalada antidemocrática de Bolsonaro tem por objetivo ameaçar as instituições do regime democrático com seu discurso golpista. Seu governo segue desgastado, faltam seis meses para a eleição presidencial e Lula ainda lidera as pesquisas de intenção de votos. Enquanto apostam em programas como o Auxílio Brasil para recuperar apoio popular, Bolsonaro e aliados, mais uma vez, investem em fake news e jogam desconfiança no processo eleitoral, nas urnas eletrônicas e atacam os ministros do STF e do TSE.
Todo o movimento social não pode ignorar essa agitação golpista. Desde o fim da ditadura militar no país, nunca a extrema direita esteve tão organizada e com potencial de mobilização nas ruas e nas redes sociais. Isso significa que a luta contra o neofascismo ocorre em todos os espaços, inclusive nesse 1º de Maio. Não podemos deixar que o Dia Internacional dos Trabalhadores seja sequestrado pelo neofascismo. Essa data é nossa!
Lula vai ao ato das centrais sindicais
Durante os atos da campanha Fora Bolsonaro, no ano passado, a presença de Lula nas manifestações fez muita falta. Por isso, sua participação no 1º de Maio desse ano em São Paulo é um elemento muito positivo. A presença da maior liderança sindical, popular e política do Brasil nos atos é muito importante tanto para a mobilização, como para o acúmulo de forças da luta sindical.
Mas também é um momento importante para exigir a revogação da reforma trabalhista e a da Previdência, afirmando a campanha de Lula por melhores salários, por empregos e contra a precarização do trabalho. E prestando solidariedade às lutas e greves em curso, construindo calendários unitários contra as medidas do governo Bolsonaro contra a classe trabalhadora.
Apoiar Lula presidente é a melhor localização do movimento sindical na atual conjuntura, mas com a consciência de que somente com lutas e mobilização social vamos avançar, inclusive pelo apoio de setores do andar de cima e a presença de Alckmin como vice. A derrota eleitoral de Bolsonaro é extremamente importante e nosso principal desafio, mas precisamos entender que não irá eliminar o bolsonarismo organizado no Brasil, que seguirá como força política, como ocorre nos Estados Unidos e em outros países.
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