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O MES-PSOL é explícito no seu antipetismo visceral

Reprodução

Heloisa Helena e Marina Silva

Paulo Pasin

Paulo Pasin é metroviário aposentado do Metrô de São Paulo (SP) e ex-presidente da Fenametro (Federação Nacional dos Metroviários).

Correntes do PSOL que defendem candidatura própria cobraram coerência do MES (Movimento Esquerda Socialista) no debate sobre a Federação do partido com a Rede Sustentabilidade. Estão sendo injustos. Podemos criticá-los por várias razões, mas não por falta de coerência quando se trata da relação com Heloísa Helena e Marina Silva.

O texto do Roberto Robaina publicado na revista Movimento explicando a posição da corrente sobre o tema da Federação é límpido e claro. Aponta que dois são os fundamentos para aprovar a Federação: (1) Vencer a cláusula de barreira e (2) Fortalecer a luta por um PSOL independente e uma oposição de esquerda ao futuro governo.

Toda a militância do PSOL se preocupa com a superação da cláusula de barreira. Já vencemos a fase infantil do cretinismo anti-parlamentar dos “terrivelmente revolucionários”. A nota das correntes que votaram contra a proposta de Federação responde com precisão este temor, vejamos o conteúdo: “O PSOL não deve fazer uma federação em 2022 a qualquer custo, porque reúne condições para ultrapassar a cláusula neste ano e a autonomia dos partidos na federação é relativa e a federação dura ao menos quatro anos”.

O segundo argumento é, de fato, estratégico para o MES, podendo ser resumido nos seguintes parágrafos do texto de Roberto Robaina:

“A Federação ser com a Rede também influenciará positivamente na disputa sobre a relação da bancada do PSOL com o provável próximo governo. O PSOL precisa ser um polo independente, de oposição de esquerda, na próxima legislatura. Não é algo dado, mesmo que a Conferência partidária vote contra a participação no governo.

O projeto de Boulos e Juliano Medeiros é de ‘governar junto’, de eleger uma bancada para ‘dar apoio ao próximo governo’, e não será uma disputa fácil na bancada do PSOL, dada a pouca força parlamentar da esquerda partidária. Hoje, temos Glauber e as parlamentares do MES, mas a correlação de forças na bancada do PSOL para o ano que vem tende a se alterar muito, e não em favor das forças da esquerda partidária. E é exatamente para essa batalha que a Federação com a Rede é positiva, (…).”

Ao que se pode entender, a eleição de parlamentares da Rede (Heloísa Helena e Marina, por exemplo) é decisiva para a “independência do PSOL” e o crescimento de uma oposição de esquerda. Oposição pode até ser, porém, conhecendo as posições programáticas da Rede, é uma ilusão chamar de esquerda.

Não é de hoje que o MES tem pautado seus posicionamentos buscando dialogar com toda forma de antipetismo, venha de onde vier, sem se preocupar com os “efeitos colaterais” desta concepção. Aliás, comportamento similar ao de Heloísa Helena e Marina, com seus discursos udenistas e messiânicos.

Por conta deste entendimento, para os camaradas do MES o que apontamos sobre a Rede na nota conjunta contra a Federação é secundário. A nota de quem votou contra a Federação afirma:

“A Rede é um partido-legenda heterogêneo, com um programa baseado na defesa do ‘sustentabilismo progressista’, não é um partido do campo da classe trabalhadora. Por isso, foi a favor do impeachment da Dilma que gerou o governo ilegítimo de Temer, se declara como um partido que não é ‘de esquerda, nem de direita’ e seus parlamentares votam, de forma recorrente, a favor de ataques à classe trabalhadora – como a nova carreira e a reforma da previdência nos estados, como ocorreu na votação da parlamentar da Rede a favor do ataque aos professores do Estado de São Paulo, aprovado na ALESP no dia 29 de março deste ano. Por isso também pedem licença para fazer campanha para candidatos fora da federação, como Ciro Gomes, Kalil em Minas Gerais, Azevedo na Paraíba e Helder Barbalho no Pará. No Espírito Santo, a federação terá como candidato Audifax Barcelos, membro da Rede ligado à direita capixaba, e que tem como seu mentor político o ex-governador Paulo Hartung (PSD)”.

 A avaliação do MES, em meu modo de ver, ao que tudo indica minimiza o fato de que em 2016, o Capital rompeu com o PT, deu o golpe e preparou as condições para a prisão de Lula, gerando uma mudança profunda na realidade política brasileira que resultou na eleição de Bolsonaro.

O Capital, com Bolsonaro, manipulou a opinião pública, transformando o antipetismo em antiesquerda para sustentar que qualquer questionamento ao seu projeto ultraliberal é populista.

O MES se entusiasmou com a LavaJato, tendo levado o PSOL ao fio da navalha. O fato é que junto com outras correntes de esquerda, ficaram muito próximos da “unidade de ação” com o movimento do grande capital, do imperialismo, da plutocracia judicial, da direita parlamentar e da mídia no impeachment da Dilma. A utilização da palavra de ordem “Fora Todos”, quando só o mandato de Dilma estava questionado, ou a exigência de renúncia da presidenta, defendida por Luciana Genro, colocaram estas correntes do lado errado da história.

Felizmente o PSOL não adotou esta política. Para os que afirmam que não lançar candidatura própria pode representar a liquidação do partido, fica uma reflexão: o que seria do PSOL, se o MES fosse maioria em 2016? E como seria se naquele momento houvesse uma federação com a Rede, visto que esse partido votou favoravelmente ao impeachment.

Lembremos que depois das revelações de como funcionava a LavaJato ficou insustentável defender a operação “anticorrupção” dos “meninos de Curitiba”. Mas ainda hoje, de forma envergonhada, Heloísa Helena e Marina continuam fazendo coro a campanha moralista da direita contra a esquerda baseada no discurso de combate a corrupção. A história brasileira esta recheada de exemplos que demonstraram que este tipo de pregação sistemática termina em golpes ou em tentativas de golpes.

Portanto, é absolutamente previsível que o MES avalie que vai ganhar aliados para a sua política com a formalização da Federação. Óbvio que optar pela constituição de Federação com a Rede é uma decisão muito mais séria do que uma declaração de voto num processo eleitoral atípico como o de 2022, em função de seu caráter mais orgânico e prologado, de 4 anos de duração.

Embora a Federação com a Rede crie dificuldades, o fato de o PSOL assumir localização correta no processo eleitoral, sendo parte do real movimento que unifica a classe para a batalha das batalhas que é impedir a reeleição de Bolsonaro, vai fortalecê-lo e viabilizar sua inserção nos setores mais explorados do povo brasileiro.