Nesta terça-feira, 12, às 14h, o Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) vota o relatório com denúncias sobre o deputado estadual Arthur do Val, o “Mamãe Falei”, do MBL, durante a sua viagem à Ucrânia. Duas advertências anteriores contra o deputado no Conselho de Ética contribuíram para que o parecer recomendasse a cassação do mandato, após denúncia apresentada por 12 parlamentares, de diversos partidos.
O conselho é formado por nove integrantes, que podem votar em bloco ou separadamente. Caso seja aprovado, o processo segue para o Plenário da Casa, que poderá aprovar a perda do mandato ou medidas mais leves, como advertência, censura verbal ou escrita ou perda temporária do mandato. Para a cassação, seriam necessários 48 votos favoráveis.
A denúncia refere-se ao comportamento machista e sexista do deputado durante a sua viagem à Ucrânia, no início da invasão russa, com o pretexto de levar doações e apoio. Ao contrário, os áudios vazados mostram Arthur do Val se referindo às mulheres ucranianas na fila de refugiados de forma repugnante, dizendo que elas são “fáceis, porque elas são pobres” e anunciando que iria programar viagem ao Leste Europeu no ano seguinte, em turismo sexual. “Assim que essa guerra passar eu vou voltar pra cá. E detalhe, elas olham. E são fáceis, porque elas são pobres”, afirmou.
Desespero
Arthur do Val entrou com mandado de segurança no Tribunal de Justiça de São Paulo, pedindo para paralisar o processo, alegando que seu direito de defesa foi cerceado. Ele chegou a pedir a perícia dos áudios, para verificar se eram verdadeiros. O pedido foi negado pela Justiça e criticado por outros parlamentares, que ouviram na semana passada a ex-namorada de Arthur, a enfermeira Giulia Blagitz, que terminou o relacionamento de três anos após ouvir os áudios enviados pelo próprio deputado. “Nós nos encontramos, e eu toquei os áudios na frente dele, a gente conversou sobre os áudios”, afirmou Blagitz diante do Conselho de Ética, confirmando a veracidade das falas do deputado.
Mamãe Falei tem sido abandonado por aliados, como Sérgio Moro, que tem se mantido em silêncio. Já Jair Bolsonaro, assumidamente machista e misógino e autor de frases semelhantes, chamou os áudios de “asquerosos”, em atitude que certamente decorre da movimentação do MBL durante o ano de 2021, quando defendeu o impeachment. Deputados bolsonaristas estão a favor da cassação, acompanhando o presidente.
Neste momento, “Mamãe Falei” busca apoio entre seus pares na Alesp, e tenta criar um clima de apoio a partir de ações do MBL nas redes sociais e nas ruas – o movimento convoca ato hoje, às 13h, em frente à Alesp, com o mote “Não abandonem o Arthur!” e transformou uma entrevista ontem com o apresentador Monark (o que defendeu a livre expressão para nazistas) em um ato político de mobilização em sua defesa, para evitar a cassação.
Nas redes sociais, o movimento feminista e parlamentares de esquerda ampliaram a campanha pela cassação, recordando os aúdios e atitudes do deputado, como a perseguição ao padre Júlio Lancellotti. A feminista Lola Aronovich, do Escreva Lola, afirmou: “Se houver justiça, hoje Arthur do Val, vulgo Mamãe Falei, será cassado pela Alesp e perderá seus direitos políticos por 8 anos. Dps será seu colega vereador, tb do MBL, Gabriel Monteiro, q deve ser preso. Dps, quem sabe, o excrementíssimo pra quem ambos puxaram voto?”. O MBL está às voltas com outro parlamentar ameaçado de cassação, o vereador e também youtuber Gabriel Monteiro, do Rio de Janeiro, acusado por estupro e investigado por abuso de menores, entre outros crimes.
Trata-se de um duro golpe contra duas das principais figuras públicas de um movimento que foi protagonista do impeachment e que se apresentou como alternativa para o país, como baluarte da moralidade e de uma nova forma de fazer política, e que agora desmancha no ar, mostrando que são apenas mais uma expressão do patriarcado e da velha política que desembocou no bolsonarismo e que nos trouxe até aqui. Cassação já!
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