Nos últimos dias vivemos uma intensa mobilização em Belém contra o aumento da passagem de ônibus. Os empresários do setor apresentavam uma proposta de reajuste para R$ 5,12, o que é um completo absurdo frente à realidade da população e à precariedade do serviço. Graças à luta popular, houve uma mediação do prefeito de Belém Edmilson Rodrigues (PSOL) com a proposta dos empresários, chegando ao valor de R$ 4,00. Sabemos que isso só foi possível graças à nossa mobilização e indignação. No entanto, o aumento penaliza a maioria da população da cidade, uma vez que esse valor não é condizente com a péssima qualidade do serviço prestada pelos empresários e se soma à grave situação econômico-social do povo. Com o governo Bolsonaro, a realidade da maioria se agravou muito, com crescimento da fome, do desemprego e do alto custo de vida provocada pela inflação dos alimentos, arrocho salarial, preço dos combustíveis, dos aluguéis, do gás de cozinha e demais itens basicos de sobrevivência.
Por outro lado, o fato de o reajuste não ter sido fixado em R$ 5,00 como aprovado no conselho municipal de trabalho é uma vitória parcial da luta dos estudantes e dos movimentos sociais que se organizaram pra lutar e não esmoreceram mesmo diante da covarde repressão feita pela Guarda Municipal contra os estudantes no dia 24/03.
Esse processo todo deve servir pra esquerda refletir sobre qual o seu papel diante das contradições postas para os governos municipais diante das chantagens e pressões dos empresários do setor.
Um governo de esquerda precisa se apoiar na luta popular para enfrentar os interesses empresariais e construir um programa que busque responder aos problemas estruturais de um modelo de gestão e financiamento do Transporte Público que opõe a necessidade do povo ao interesse da patronal por mais lucros em detrimento da qualidade do serviço.
A luta estratégica deve ser para retirar as concessões dos empresários e para que o poder público assuma a gestão e operação, garantindo ar condicionado nos ônibus, tarifa social (rumo à tarifa zero), passe livre para estudantes e desempregados, ampliação das linhas e uma frota que permita que as pessoas se locomovam com dignidade. Transporte Público é direito social e não mercadoria. Já está na Constituição essa previsão, tal qual a saúde pública (SUS) e a educação pública.
Sabemos que não se faz uma revolução no sistema de transporte do dia pra noite, porém um governo de esquerda não pode abandonar essa perspectiva estratégica de construir as condições para atender às necessidades do povo. E isso não vai ser possível sem enfrentar, com o apoio popular, os interesses dos empresários.
Fazemos a proposta à Prefeitura de Belém para que organize audiências públicas e seminários com a população, especialistas e demais poderes para debater a fundo a realidade e as possíveis alternativas à crise do transporte na cidade. Também pode e deve organizar ferramentas de consulta pública para a população apresentar suas propostas para solucionar os problemas do sistema de transporte de Belém, incluindo o debate sobre as condições em que se dará as licitações nos próximos 60 dias anunciada pelo prefeito.
É fundamental que os movimentos sociais, entidades estudantis, associações de moradores e demais entidades da sociedade civil afetadas mais diretamente pelo péssimo serviço sigam mobilizadas e se articulem para pautar esses temas.
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