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OPRESSÕES

Quatro anos sem Marielle Franco

Ana Luisa Martins*
Carol Burgos / Bancada Feminista do PSOL

Detalhe de cartaz das Mulheres do PSOL, em ato em São Paulo

Há 4 anos, na noite de 14 de março de 2018, em uma rua do Estácio, bairro do Rio de Janeiro (Brasil), atiradores de elite encostaram no carro em movimento onde estavam a vereadora Marielle Franco, sua assessora e o motorista Anderson Gomes. Atiraram em Marielle sem qualquer chance de que ela pudesse sobreviver. As balas também atingiram Anderson, levando a sua morte.

Uma chuva torrencial chegou ao Rio de Janeiro, e com ela as primeiras notícias do crime bárbaro que acabara de acontecer. A cidade chorava. Logo o Brasil e o mundo choravam e assistiam incrédulos ao fato, ainda sem perceber exatamente o novo tempo que este anunciava.

O assassinato de Marielle Franco é indissociável da situação política brasileira. Ele é produto de um Brasil pós golpe de 2016, que abriu os porões da longa ditadura militar para sair aqueles que, sabendo viver nas sombras durante as 3 últimas décadas, trocando suas fardas por paletós, ainda estavam vivos, muito vivos (e anistiados, diga-se de passagem). Repaginados, em uma nova configuração de aliados: desde as FFAA, passando pelo legislativo, judiciário e executivo, chegando as poderosas milícias; e apoiados em uma elite racista e histérica, permitia a concretização do programa da extrema direita de forma paralela, entre o legal e o ilegal, nas ruas ou sobre uma das vereadoras mais bem votadas na história da cidade. Também foi simbólico que tenha sido com Marielle, uma mulher negra, socialista, que vinha da favela e sabia como mobilizá-la.

Eles nos tiraram Marielle, e embora ela tenha se agigantado ainda mais, o crime não foi resolvido. Passamos o ano de 2018 lutando por resposta e contra aquele futuro anunciado com sua morte, mas em outubro Jair Bolsonaro foi eleito. Este assassinato foi produto de uma situação e um salto de qualidade para outra, ainda pior.

É como se a resposta à pergunta “Quem mandou matar Marielle?” estivesse também em um compasso de espera por um desfecho da própria situação brasileira.

De lá pra cá, o Brasil viveu – e passou por uma pandemia – sob os horrores de Bolsonaro. Na investigação do caso Marielle e Anderson, houve 5 mudanças de delegados responsáveis, muitas evidências de que este novo poder instituído no Brasil, onde as milícias são também o Estado, está profundamente envolvido com o crime, chegando inclusive a pessoas muito próximas ao presidente e que agem sob seu comando. E é como se a resposta à pergunta “Quem mandou matar Marielle?” estivesse também em um compasso de espera por um desfecho da própria situação brasileira. O neofascismo brasileiro não irá apurar seus próprios crimes.

A luta por respostas é parte decisiva da luta para derrotar Bolsonaro. Marielle se transformou em uma memória coletiva para os que lutam no mundo todo. Aqui em Portugal ela está ao lado de Bruno Candé em cada luta por justiça. Sempre estará presente em cada resistência e em cada vitória do povo contra seus opressores. Mas ela também é uma tarefa, tão urgente quanto era há 4 anos. Quem mandou matar Marielle Franco? é parte das tarefas do Fora Bolsonaro, e o neofascismo só estará mesmo derrotado quando esta pergunta for respondida e os responsáveis punidos.

Marielle Franco e Anderson Gomes presentes hoje e sempre!

Quem mandou matar Marielle? E por quê?
Fora Bolsonaro!

 

*Artigo publicado originalmente no site de Semear o Futuro, de Portugal.

 

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