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MUNDO

Não à guerra na Ucrânia! Construir um movimento de massas contra a guerra e contra o imperialismo!

ALTERNATIVA SOCIALISTA INTERNACIONAL (ASI) ·
DW

Manifestações em várias cidades da Europa contra a guerra e em solidariedade ao povo ucraniano

A ASI expressa sua total solidariedade com o povo da Ucrânia que já sofre exploração, opressão, corrupção e condições de pobreza crescente, e agora enfrenta o horror da guerra e do derramamento de sangue.

Assim que as tropas e os tanques russos atravessaram a fronteira com a Ucrânia, as primeiras pessoas já foram mortas. Os ataques com mísseis atingiram bases militares e aeroportos, inclusive em Kiev. Já há relatos de tiros em áreas residenciais de Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia no nordeste do país.

As tropas russas devem ser imediatamente retiradas da Ucrânia.

O reconhecimento das repúblicas populares de Luhansk e Donetsk pela Duma russa e sua posterior aprovação por Putin, seguida de seu pedido de assistência russa, criou o pretexto imediato para a invasão. As hostilidades atingiram um novo e horripilante pico após semanas de aumento de ostentação militar entre a Rússia, de um lado, e a OTAN e os EUA, do outro.

A Europa está diante de um grande conflito armado, que está associado às múltiplas contradições geopolíticas da nova era da desordem. Os socialistas internacionalmente devem intensificar nosso trabalho e preparar-se para tomar uma posição contra as guerras imperialistas e pelo internacionalismo da classe trabalhadora, em oposição a todas as formas de imperialismo.

Interesses imperialistas

A Rússia tem afirmado que sua segurança está ameaçada pela expansão da OTAN para o leste, com armas e tropas ao longo de suas fronteiras. Mas agora o presidente Putin afirma que a tarefa do ataque russo é “desmilitarizar” e “desnazificar” a Ucrânia. Mas seus ataques só vão deixar o povo ucraniano mais revoltado. Muitos pegarão armas para se oporem a suas tropas.

Putin justificou seu ataque afirmando que a independência da Ucrânia foi apenas um resultado da Revolução Russa e da política bolchevique de conceder o direito de autodeterminação às nações oprimidas, uma política que foi oposta por Stalin e pelo regime burocrático do qual o próprio Putin emergiu. Esta é uma lição importante. A independência não pode ser alcançada apelando à OTAN ou à União Europeia, mas somente numa luta comum contra o novo czar e sua guerra.

A população que mais sofrerá com uma guerra, aqueles que arriscarão suas vidas, as vidas de seus filhos e filhas, mães e pais, seus lares e rendas – aquelas pessoas comuns da classe trabalhadora que vivem na Ucrânia – foram reduzidas a meros espectadores cujo destino é decidido por forças fora de seu controle.

Os atuais líderes ucranianos, o establishment capitalista, cuja única preocupação sempre foi a defesa dos interesses dos oligarcas e que conduziram o país de crise em crise desde sua independência, venderam-se para o Ocidente durante a década anterior. Desta forma, eles esperavam obter a proteção da OTAN, e ganhar economicamente aproximando-se da Europa. Eles falharam em todos os aspectos: a renda familiar média hoje está 20% abaixo do nível de 2013 e a proteção da OTAN não dependerá dos interesses do povo ucraniano, mas dos interesses econômicos e geopolíticos dos EUA e dos aliados da OTAN.

Os choques econômicos da guerra também serão sentidos em todo o mundo – as bolsas de valores já estão reagindo – o mercado russo caiu 40% antes de ser suspenso. Os preços da energia, bem como os preços dos alimentos, aumentarão, aumentando as já fortes pressões inflacionárias na economia mundial. E as gerações futuras na Ucrânia e na Rússia, que já vivem com baixa renda, com saúde precária, terão que pagar o custo da guerra.

Esta guerra tem as impressões digitais do conflito EUA-China pelo domínio mundial em todo o mundo. O governo Biden declarou abertamente que a China é seu “principal concorrente” e a Rússia “o mais perigoso”. Dentro da OTAN, os EUA têm pressionado seus aliados europeus durante anos para aumentar seus orçamentos de guerra. A guerra é a continuação da política por outros meios. Entre os motivos atuais dos EUA está o fortalecimento dos laços entre o imperialismo estadunidense e europeu em um pretexto para futuros conflitos com a China – tudo às custas do povo ucraniano.

A OTAN tem intensificado sua presença na Europa Oriental com bases na Polônia, Romênia e nos três países bálticos, que fazem fronteira com a ex-União Soviética. Os países da OTAN têm armado a Ucrânia até os dentes. Depois de semanas de alertas não confirmados, prevendo ataques orquestrados pelos russos, Biden e seus aliados belicistas criaram uma profecia autorrealizadora. Independentemente do grau de envolvimento direto da OTAN no desdobramento da guerra, o imperialismo ocidental compartilha a responsabilidade de fomentar um conflito que verá famílias da classe trabalhadora lamentando seus parentes caídos e pagando o preço mais alto pelo esforço de guerra e suas consequências econômicas.

O fraco imperialismo russo na ofensiva

O imperialismo russo calculou que agora é seu momento de dar um passo decisivo para promover seus interesses. O imperialismo dos EUA está enfraquecido e a União Europeia luta contra a divisão interna e a China está se tornando a maior preocupação dos EUA na remodelação da ordem mundial. Putin viola o direito de autodeterminação dos ucranianos, ele considera a Ucrânia como parte integrante da Rússia, de forma semelhante às reivindicações de Xi sobre Taiwan.

A importância do que acontece na Ucrânia vai muito além das fronteiras da Ucrânia. Crise econômica, ondas de nacionalismo reacionário e potencialmente milhões de refugiados criarão mais crises globais, justamente quando parecia que a pandemia estava entrando em uma nova fase, mais controlável.

Apesar de ser um regime autoritário brutal, o Kremlin ainda tem que levar em conta se os russos aceitarão uma grande guerra contra a Ucrânia. 2022 não é 2014, quando a tomada Crimeia resultou em uma grande onda patriótica. Sem ânimo para uma guerra contra a Ucrânia, a maioria dos russos já está lutando com padrões de vida mais baixos, inflação crescente e, durante a pandemia, mais de um milhão de “mortes em excesso”. Uma pesquisa de opinião (23 de fevereiro 2022) sugeriu que 40% da população russa, principalmente a população jovem e urbana, é contra o reconhecimento das repúblicas, o que tem sido usado como um pretexto para lançar a guerra.

A Rússia é um gigante militar, mas sua economia é apenas cerca de 6% do conjunto das economias da OTAN. Seu PIB é menor do que o da Itália. As pesadas sanções e um esforço de guerra poderiam prejudicar muito a economia e, combinados com as vítimas da guerra russa, aprofundar ainda mais a crescente desconfiança em qualquer coisa que o governo diga. Putin pode ficar feliz por ter o apoio de Pequim, mas se uma guerra prolongada drenar recursos econômicos, ele pode muito bem ter que pedir a Xi que lhe pague a fiança.

É a classe trabalhadora e os pobres que pagam. Os 500 maiores oligarcas da Rússia viram sua riqueza aumentar em 45% durante a pandemia, chegando a US$640 bilhões, então perder alguns bilhões de contas bancárias congeladas não vai fazer uma grande diferença.

Esta guerra tem pouco ou nada a ver com a proteção de qualquer uma das populações envolvidas. A OTAN nunca teve problemas com ditadores quando lhes convém, e Putin apoia a maioria dos partidos de extrema direita na Europa – mostrando quando vale o discurso do “antifascismo” ou pela “defesa dos direitos democráticos”. A guerra significará um terrível sofrimento humano, será paga em vidas perdidas, dificuldades econômicas, mais refugiados e não resolverá nenhum dos problemas existentes e tensões interimperialistas. Apesar das afirmações em contrário, não é do interesse da classe trabalhadora e das populações comuns em nenhuma das nações envolvidas.

Não podemos confiar em nenhuma das instituições imperialistas ou máquinas de guerra envolvidas para criar a paz, muito menos a prosperidade. De fato, há anos a Ucrânia vem pedindo ajuda real da OTAN e do Ocidente, mas esta tem sido negada. Não devemos ter confiança nestes órgãos imperialistas. Qualquer “solução diplomática” acordada entre eles, embora fosse inicialmente bem-vinda por pessoas do mundo inteiro, acabará por ser à custa do povo comum e apenas preparará o terreno para novas tensões e confrontos. Estes poderes têm se mostrado incapazes de enfrentar a crise sanitária e climática pela qual são responsáveis, não estão dispostos a combater o aumento do custo de vida das pessoas comuns e agora sua guerra vai piorar ainda mais as coisas.

A única força capaz de deter a guerra e a destruição é a classe trabalhadora unida. A ASI apela para o movimento de trabalhadores em todo o mundo para iniciar uma grande mobilização internacional antiguerra e anti-imperialista, incluindo a recusa de lidar com a produção e transporte de armas, bem como com greves, ao mesmo tempo em que levanta demandas sociais capazes de oferecer uma saída real para a maioria. Isto poderia incluir uma ação conjunta de trabalhadores em empresas multinacionais que operam em vários países diretamente envolvidos.

Esta não será uma tarefa fácil. Teremos que nos posicionar contra as máquinas de propaganda gigantesca de todos os lados, e isso irá requerer tempo e infelizmente sofrimento, antes que as condições exponham a propaganda e tragam as verdadeiras questões à tona. A guerra, entretanto, é a parteira da revolução, expõe contradições da maneira mais visível e tangível possível. Iniciativas ousadas e oportunas nos estágios iniciais das guerras são cruciais para determinar a natureza e o programa adotado quando um movimento ganha força.

Esta guerra não é do interesse dos trabalhadores e da juventude, onde quer que eles vivam. Trata-se de ambições geopolíticas e econômicas imperialistas. A ASI se oporá à guerra onde quer que estejamos presentes, na Rússia, nos EUA, na Ucrânia e em outros lugares. Em particular, estamos com a juventude e os trabalhadores da Rússia em seus apelos para combater a guerra através da construção de um movimento antiguerra nos locais de trabalho e universidades, por solidariedade contra os belicistas, e por uma guerra contra a pobreza, e não contra outros povos.

  • Não à guerra na Ucrânia! Pelo direito dos ucranianos de decidir seu próprio futuro, incluindo o direito de autodeterminação para as minorias!
  • Pelo retorno das tropas russas aos quartéis na Rússia e a retirada de todas as tropas da OTAN da Europa Oriental.
  • Nenhuma confiança em qualquer das forças imperialistas ditas de “manutenção da paz” envolvidas.
  • Nenhuma ilusão na diplomacia por parte dos belicistas. Construir um enorme movimento antiguerra e anti-imperialista ligando trabalhadores e jovens acima das fronteiras.
  • Por uma alternativa socialista internacionalista da classe trabalhadora ao conflito capitalista que leva à guerra e à destruição.