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MUNDO

Bárbaros são os outros: a ofensiva russa na Ucrânia

Douglas Barros
Carlos Latuff

No sétimo dia de intensificações do ataque russo, o que chama atenção, no entanto, é a construção da narrativa sobre a guerra. Benedict Anderson no célebre livro Comunidades Imaginadas exemplifica como a construção de uma identidade de grupo se organiza entre outras coisas através do artigo de jornal. A imprensa corporativa ocidental afiou e afinou um enredo em que valores como sacrifício e honra, branquidão e civilização, estão agora do lado ucraniano. “São pessoas loiras de olhos azuis que estão sendo atacadas”, disse um porta-voz ucraniano apelando para a identificação do europeu mediano. “Eles não são sírios correndo das bombas, parecem-se conosco”, disse um correspondente francês.

Mas é claro o sacrifício deve ser feito por essas belas pessoas! Como o rei de Schreck, Zelensky está disposto a ver alguns de seus cidadãos morrerem, um sacrifício que ele enfrentará conclamando todos os livros de autoajuda no discurso. “Enfrentem tanques e artilharias intercontinentais com coquetéis molotovs!” De outro lado, OTAN, ONU e União Europeia sabem que Putin entrou numa sinuca de bico.

Os russos permanecem eslavos, enquanto a Ucrânia ganhou passaporte de cristã. O sentimento antirruso explodiu. Restaurantes alemães proíbem a entrada de russos. A universidade de Milão cancelou um curso sobre Dostoievski. A França, tão civilizada quanto armada, rapidamente se esqueceu de sua desumanidade na Argélia e chama a Rússia de bárbara.

Aliás o argumento “bárbaro” sempre precedeu o extermínio. O problema no entanto é enfrentar bárbaros com 6330 ogivas nucleares e que distribui gás para toda Europa. Fosse no sul do globo era só convocar as tropas e preparar o extermínio. Mas tão perto fica difícil… O governo russo esticou a corda. A guerra vai se tornando uma desgraça completa, o exército russo vai ficando cada vez mais letal e isso significa o aumento de morte e expulsão de pessoas de suas casas. A OTAN se legitimou e o EUA assistem a tudo com a tranquilidade confuciana dos chineses que só querem saber para onde o dinheiro corre.

Enquanto isso: homens, mulheres e crianças ficam sem casa, sem água, sem comida e sentem na pele o devir negro do mundo. A Rússia por outro lado parece querer convulsionar e quem sabe retirar o autocrata!?

Vocês se tornarão todos negros, Europa!

 

Esse artigo representa as posições da autora e não necessariamente as do portal Esquerda Online. Somos uma publicação aberta ao debates e polêmicas da esquerda socialista.