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Porque nazistas não devem ter liberdade de expressão

apresentador Monark. Ele é um homem branco, usa barba, cabelos castanhos, desgrenhados. Fala com um microfonde de rádio a sua frente.

Direita Volver

Coluna mensal que acompanha os passos da Nova Direita e a disputa de narrativas na Internet. Por Ademar Lourenço.

O influenciador digital Monark foi afastado do Flow Podcast nesta terça-feira, 08, depois de afirmar que um partido nazista poderia ser legalizado no Brasil. O deputado federal Kim Kataguiri, filiado ao Podemos e líder do Movimento Brasil Livre (MBL), estava presente no programa e endossou sutilmente a ideia. Os dois se dizem liberais e defendem que a liberdade de expressão deve ser para todos. Será?

Recentemente, um jovem do Rio Grande do Norte recebeu uma “visita” da Polícia Federal e corre o risco de ser preso. O motivo foi dizer, em tom de piada, que Bolsonaro deveria ser envenenado. Logicamente, esse jovem cometeu uma besteira. Mas o apresentador Monark, defensor da liberdade de expressão para nazistas, ficou calado. Cadê a coerência?

Em 2017, o MBL de Kim Kataguiri fez um ato contra uma palestra da filósofa Judith Butler. O movimento de Kim estava junto com os fundamentalistas religiosos, que gritavam “queimem a bruxa” ao colocar fogo em uma foto da palestrante. Cadê a defesa da liberdade de expressão irrestrita? Para a direita liberal, só os nazistas podem falar o que quiserem.

Nazistas não têm o menor interesse em expor suas opiniões. Eles apenas querem usar a violência simbólica como preliminar da violência física. Tudo o que eles falam, escrevem e postam é para impor o medo nas vítimas, normalizar a violência, legitimar a agressão e convocar os agressores. Um nazista não fala, faz ameaça de morte. Não existe outra linguagem possível para ele.

O assédio verbal normalmente escala para a agressão física. A ameaça é parte do ritual da violência. O bullying em colégios funciona dessa forma. O racismo funciona dessa forma. A LGBTfobia funciona dessa forma. Ameaçar a integridade física de uma pessoa ou um grupo não é um meio de comunicação. É uma ação com efeito no mundo material. Um Pit Bull não expõe sua opinião quando late. Com o ser humano, as coisas funcionam de forma parecida.

E a ameaça pode ser direta ou indireta. No Brasil, uma pessoa é morta em função de sua orientação sexual a cada 23 horas. A piada homofóbica banaliza, normaliza e legitima essa violência. Não é apenas um ato de comunicação. Quando uma pessoa LGBT posta “sai, hétero” em uma rede social, ela não está expondo ninguém à violência. Não existem grupos LGBTs espancando heterossexuais por aí. O “sai, hétero” pode ser algo inconveniente, mas o risco de que isso escale para a violência física é praticamente zero. O mesmo serve para o racismo e o machismo. Nenhuma pessoa branca é morta em função de sua cor de pele no Brasil. Nenhum homem é morto por uma mulher apenas por ser homem. Falar em “racismo reverso” não tem nenhuma base no mundo real.

Monark não é burro. Imagine se alguém postasse o seguinte texto em uma rede social: “Na minha humilde opinião, quem der três tiros de glock na têmpora esquerda de fulano de tal, na próxima quinta-feira, enquanto ele sai de sua casa à 22h, como faz todo dia para ir à lanchonete, deveria receber um depósito de R$ 215 mil em bitcoins”. Isso seria uma mera opinião? Com certeza, a pessoa citada abriria um processo contra o autor do texto. E todos, inclusive nós da esquerda, seríamos obrigados a prestar solidariedade. Pois sabemos que o clima de violência é algo que prejudica todo mundo.

 No caso de um setor historicamente discriminado e que sofreu recentemente um genocídio, como os judeus, não é necessário ser tão específico. Ninguém precisa escrever um post dizendo: “quero dar um tiro na cabeça de um judeu”. A postagem de um símbolo nazista já tem exatamente o mesmo efeito.

Monark se finge de burro. Já defendeu em outras ocasiões que o racismo não deveria ser crime. Também já disse que o movimento antivacina tem a “liberdade” de sabotar a proteção coletiva contra um vírus que atinge toda a humanidade. Se a gente levar a lógica maluca dele até o fim, a defesa da pedofilia deveria ser liberada. Afinal, seria apenas “uma opinião”.

O influenciador digital sabe o quanto é ruim permitir que nazistas, antivacinas e pedófilos exponham suas ideias. Mas ele gosta de aparecer. Ele quer mídia. Quer ganhar engajamento. Não se trata de uma opinião. Trata-se de negócios.


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