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MUNDO

Veteranos admitem massacre de palestinos em 1948

Ilan Pappe | Tradução: Waldo Mermelstein
Benno Rothenberg / Meitar Collection, Pritzker Family National Photography Collection, National Library of Israel

Expulsão dos habitantes de Tantura em 1948

Um fato da maior relevância ocorreu há dois dias, quando o jornal israelense Haaretz publicou um artigo escrito pelo historiador Adam Raz, intitulado “‘Há uma vala comum massiva em uma praia popular em Israel, confessam veteranos: Os veteranos israelenses da batalha de 1948 na aldeia de Tantura finalmente falam francamente sobre o assassinato em massa de árabes que ocorreu após a rendição da aldeia”. A aldeia de Tantura foi substituída por um balneário, mas sua história não foi esquecida. Até os detalhes macabros da localização de uma vala comum, debaixo de um estacionamento, foram revelados. O artigo foi publicado no dia 20, na edição em inglês do jornal, o mesmo Haaretz que buscou ridicularizar Ilan Pappe em um artigo de 2005, que dizia que ele “estava sozinho nas barricadas” ao defender o boicote acadêmico de Israel. Dezessete anos depois, o jornal revisitou o tema sem reconhecer o erro garrafal anterior.

Essa confissão pública dos perpetradores do massacre reforça o que os palestinos vêm denunciando desde 1948 como a Nakba, ou a limpeza étnica dos habitantes árabes originários do país, que segue de forma contínua desde então. Que sirva para ajudar a que Israel é quem fique cada vez mais sozinho do lado racista das barricadas! 

Publicamos abaixo a nota emitida por Ilan Pappe em sua rede social no dia 21 de janeiro:


Ilan Pappe“Em 2007, com a insistência do ministério da educação, tive que renunciar a meu cargo na Universidade de Haifa (apesar do fato de que eu tinha estabilidade); um dos meus ‘crimes foi o de insistir que tinha havido um massacre na aldeia de Tantura em 1948, como exposto pelo meu orientando de mestrado, Teddy Katz. Eu havia feito minha própria pesquisa e declarei categoricamente que este tinha sido um dos mais graves crimes cometidos pelo exército israelense em 1948 – mesmo depois de que Katz, sob intensa pressão e intimidação houvesse se retratado a respeito de suas descobertas. 

Não me arrependo por um momento e sou grato que pude continuar a luta contra a negação da Nakba na universidade de Exeter nos últimos 15 anos e ainda tenho esperanças de poder constituir um centro contra a negação da Nakba em Londres.

Trago isso à tona porque hoje (20/01/2022) o Haaretz em suas manchetes (em hebraico, mas estou seguro de que estará na edição em inglês de amanhã) finalmente admitiu que houve um massacre (o jornal ridicularizou à época minhas descobertas e me apresentou no melhor dos casos como alguém com falta de profissionalismo ou até como um lunático).

Não necessitamos do Haaretz para nos contar que a Nakba foi um crime israelense contra a humanidade, mas é um avanço importante.

Quando a academia e a mídia ocidentais pararão de negar a Nakba? 

Quando haverá uma coalizão internacional contra o negacionismo da Nakba? Esperamos que seja logo!”

Ilan Pappe, autor do livro A Limpeza Étnica da Palestina.