As imagens do deslizamento das rochas no cânion de Capitólio parecem sair da tela de um filme de catástrofe. Um novo rompimento de barragem, na Mina de Pau Branco, da empresa Vallourec, em Nova Lima, faz ressurgir o temor de um novo e terrível colapso das estruturas de outras barragens. E um alerta na Usina hidrelétrica do Carioca, em Pará de Minas, que ameaça se romper. As memórias de Mariana e Brumadinho são ainda muito recentes. As feridas não estão curadas.
Além dessas duas imagens, que marcaram esse dia 8 de janeiro de 2022, já são 154 cidades em situação de emergência em Minas, segundo o governo estadual, com 18 mortes (sendo 10 em Capitólio) e cerca de 17 mil desabrigados, oficialmente.
A narrativa do governador Zema (Partido Novo) busca enquadrar esse enredo como algo natural, fruto das chuvas em excesso, ou como catástrofes da natureza, que não poderiam ser previstas ou evitadas.
Mas as chuvas de verão não são exatamente uma novidade em Minas. Infelizmente esses eventos se sucedem, e muito pouco ou quase nada muda na atitude dos sucessivos governos e na ação predatória de grandes conglomerados econômicos, mineradoras e agronegócio, que devastam o solo, os cursos d’água, leitos de rios, mananciais, a fauna e a flora da região, esgotando e destruindo o meio ambiente em nome da sanha de lucro.
Tampouco há uma mudança na política de ocupação dos territórios urbanos, sem qualquer cuidado e prevenção com a população, nenhuma garantia de preservação do solo, com governos que atuam em favor das grandes construtoras, principalmente.
A indústria do turismo se expande em Capitólio e na região do Lago de Furnas, sem que haja fiscalização e acompanhamento. Agora se sabe que não havia estudos geológicos ou mapeamento der risco que pudessem antecipar a possibilidade da queda no cânion, embora já houvesse alertas de pesquisadores e ambientalistas sobre o risco. Não foi por acaso o que aconteceu. Apesar das intensas chuvas nesse período, o acesso seguia completamente liberado ao local.
39 barragens são consideradas em “situação de emergência” e o risco de rompimento é constante.
A situação da mineração é ainda mais perigosa. São cerca de 400 minas, segundo a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), abandonadas após a exploração e devastação dos territórios. Outras 39 barragens são consideradas em “situação de emergência”, o que exige monitoramento dia-a-dia e o risco de rompimento é constante.
Parte importante dessas barragens concentra-se em Nova Lima, Itabirito, Ouro Preto, Congonhas e Barão de Cocais, na região central do Estado. São municípios em que a insegurança da população é a tônica do dia-a-dia.
Estamos, portanto, com uma bomba de tempo acionada. Mesmo após as tragédias de Brumadinho e Mariana, não houve uma recomposição da estrutura de fiscalização necessária, e estima-se que precisaríamos triplicar, pelo menos, o número de fiscais no Estado, para monitorar o funcionamento da atividade mineradora. Atualmente são apenas 40 profissionais nessa função.
Sou morador da cidade de Nova Lima, que me acolheu há 15 anos. Uma cidade cuja história mistura a exploração imperialista sofrida desde o período colonial brasileiro, notadamente no ciclo do ouro, com a resistência de um povo sofrido, uma laboriosa classe operária dos mineradores e uma tradição importante da esquerda socialista e comunista.
Uma cidade de inúmeros contrastes e desigualdades, com paisagens e locais muito bonitos, natureza exuberante e devastação ambiental em curso por grandes grupos econômicos nacionais e estrangeiros, principalmente ligados à mineração.
Nossa região está se isolando, conforme as chuvas avançam e os acessos estão sendo bloqueados. Nova Lima, Bicalho, Santa Rita e Raposos estão sendo duramente castigadas.
Ao mesmo tempo em que fazemos estas denúncias, estamos realizando uma campanha de solidariedade às vítimas e pedimos a sua ajuda.
Solidariedade com as vítimas, suas famílias e as regiões atingidas
Uma reunião de movimentos estudantis, sindicais, populares, partidos como o PSOL e movimentos como o MAB (Movimentos dos Atingidos por Barragens), decidiu, nessa manhã de domingo, 9 de janeiro, buscar coordenar e unificar as ações populares de socorro e apoio às vítimas, lançando o movimento #SOSMinas!
Essa é a primeira tarefa que se impõe: a solidariedade de classe aos nossos irmãos atingidos, à população dos aglomerados, das periferias, das regiões ribeirinhas e outras, que vem perdendo suas casas, seus bens e suas poucas posses.
É uma iniciativa muito importante e vamos buscar fortalecê-la.
Mas é também necessário desmascarar a covardia e os compromissos dos governos, particularmente do governador Zema, com as grandes corporações, com as mineradoras e o agronegócio no Estado.
Não são acidentes naturais, são catástrofes anunciadas, que vitimam sempre a população mais pobre, em nome do lucro para os super ricos e do medo da morte para o nosso povo que vive em condições desumanas, degradantes e inseguras.
Para contribuir com os desabrigados de Nova Lima, Minas Gerais, você pode enviar um PIX para 01481701614 (CPF). A prestação de contas estará disponível nos perfis de @robertagzanon e @cacau.pereira no Instagram.
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