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BRASIL

Não esqueceremos do Pinheirinho

Marina Sassi e Guirá Borba, de São José dos Campos, SP
Policiais avançam em formação. A frente, chamas e fumaça. Atrás deles, pedaços de madeira de uma das casas, destruída.
Divulgação / via jornal O Vale

Tropa de Choque durante a reintegração de posse em janeiro de 2012

Mês que vem completam-se exatos 10 anos de uma das mais cruéis e brutais ações da Polícia Militar de São Paulo. O então governador do estado, Geraldo Alckmin (PSDB), atendendo ao pedido do mega-especulador Naji Nahas, enviou a PM para garantir a reintegração de posse do Pinheirinho, terreno da zona sul de São José dos Campos, propriedade abandonada por Nahas e que há anos era o lar de mais de 1,5 mil famílias.

No dia 22 de janeiro de 2012, ainda de madrugada, o Vale do Paraíba se transformou em um verdadeiro cenário de guerra. Cerca de 2 mil policiais, fortemente armados com todo tipo de aparato bélico, avançaram contra a ocupação do pinheirinho. Helicópteros da polícia sobrevoavam a ocupação, enquanto a tropa de choque e a cavalaria entravam com armas letais no terreno.

Relatos contam que os policiais invadiam as casas, acordavam as famílias e davam 3 minutos para que, atônitas e muitas aos prantos, pegassem o que conseguissem carregar e abandonassem seus lares. Há várias denúncias de estupros, agressões físicas e flagrantes forjados feitos pela tropa da PM.

Foi um verdadeiro massacre, na época a ação foi manchete internacional, condenada por diversos órgãos protetores dos direitos humanos.

Uma ação dos tucanos em defesa do grande capital

Nada justificaria tamanha truculência do estado contra os moradores do Pinheirinho. Mas quando observamos os fatos envolvendo a área, o caso é ainda mais revoltante. Na época, o terreno a ser desocupado era avaliado em R$ 12 milhões e o conhecido empresário corrupto Naji Nahas, já acumulava uma dívida de R$ 16 milhões com o município. Ou seja, todo o aparato do estado foi usado para reintegrar a terra para alguém que devia aos cofres públicos um valor superior ao da própria propriedade.

Além disso, o terreno estava abandonado décadas antes da entrada dos moradores, em 2004. Essa prática especulativa em si é ilegal já que toda propriedade privada deve cumprir uma função social, como é garantido no inciso XXIII do Art. 5º da Constituição Federal. Mas até hoje, 10 anos após essa violenta desocupação, quem passa pela Estrada do Imperador pode ver a área completamente abandonada e sem nenhuma função social, como determina a lei.

Geraldo Alckmin foi o mandante desta ação injustificável. Enquanto governador, o tucano era o chefe máximo da Polícia Militar paulista. Portanto toda a violência empregada na ação, assim como o próprio objetivo de manter a propriedade especulativa de um notório farsante do sistema financeiro, em detrimento do massacre de mais de mil famílias é parte de sua política de governo.

O Estado de São Paulo é governado há décadas pelo PSDB. Governos marcados pela profunda ligação com o empresariado paulista e repressão aos movimentos sociais. O caso do Pinheirinho é uma expressão mais dramática do projeto político de Geraldo Alckmin, José Serra, João Dória e tantos outros políticos da cúpula Psdbista que passaram pelo Palácio dos Bandeirantes.

Em 2022 a história do Pinheirinho não será esquecida!

Após o golpe de 2016, a direita tradicional brasileira, encabeçada pelo próprio PSDB de Alckmin, lançou o país numa aventura política. Abriu uma situação que permitiu o renascimento de um setor de ultra-direita, viúvos da Ditadura Militar. O bolsonarismo mudou o cenário político nacional. Porém, um cálculo que escapou as contas da direita golpista é que o surgimento do neo-fascismo, ocuparia justamente um espaço político até então ocupado pelo PSDB e outros partidos de direita encabeçadores do golpe. Hoje a cúpula tucana se encontra rachada e apesar de todos os esforços da burguesia e da mídia tradicional, não há qualquer alternativa viável eleitoralmente para a chamada terceira via.

Recentemente declarações na grande imprensa, noticiaram a possibilidade da saída de Alckmin do PSDB e sua filiação ao PSB. Junto a isso houve enormes especulações sobre uma possível chapa Lula e Alckmin para a disputa presidencial em 2022. Hipótese esta que apesar de não confirmada, não foi desmentida pelas lideranças petistas. Declarações absurdas como a do ex-ministro Celso Amorim afirmando que “Alckmin é um homem de bem e foi um dos últimos a apoiar impeachment de Dilma”, mostram que a liderança do PT realmente cogita a aliança com o velho representante da direita.

O simples fato de a direção petista cogitar a aliança com Alckmin é uma profunda afronta as vítimas do Pinheirinho e a militância dos movimentos sociais que se enfrentaram com o Tucanato. Muitos companheiros que tiveram suas casas invadidas, sofreram com diversas formas de violência da PM, agora tem que ouvir que Alckmin é um “homem de bem”. Um verdadeiro absurdo!

Entretanto a memória das vítimas do Pinheirinho, de suas lideranças e da militância do movimento popular segue viva. Como diz o ditado, “quem bate esquece, quem apanha não”. Alckmin pode comer pastel na feira, sair do PSDB, falar que ama pobre… Nenhuma manobra política, apoiada ou não pelo PT, irá apagar a sua história como braço de ferro da elite paulista e adversário dos movimentos sociais.

É o momento de debatermos com o conjunto da esquerda que a candidatura de Lula, que de fato é a principal alternativa política ao bolsonarismo, deve representar um programa que atenda as demandas do movimento social, que reverta o legado do golpe de 2016 como as contrarreformas e privatizações. Uma candidatura assim não será construída com velhos e conhecidos representastes da elite golpista brasileira, que em último caso são responsáveis diretos pelo atual cenário de caos social que passa nosso país.

Derrotar Bolsonaro é sem dúvida nossa tarefa mais urgente, mas essa derrota somente será efetiva se for com base em uma unidade da esquerda. Queremos fazer esse debate com cada militante, cada liderança de esquerda. Com a militância do PT inclusive. Unir a esquerda para derrotar Bolsonaro e a elite golpista! Esta é nossa tarefa, apenas assim iremos honrar a memória das vítimas do Pinheirinho e construir um Pais onde casos como esse não voltem a ocorrer.

Veja fotos da operação policial no PInheirinho