Enquanto escrevo este artigo, embalo, ao mesmo tempo, meu filho recém-nascido. Um amigo que trabalha no Departamento de Água e Esgoto me chamou de herói, porque ter filho no Brasil com o governo Bolsonaro na presidência e Doria no governo do estado de São Paulo é um ato de heroísmo.
Não discordo da opinião do meu colega operário, a dobrada Bolsonaro e Dória tem feito da vida de quem vive no estado de São Paulo um verdadeiro inferno. Além do desemprego, da inflação, do ódio da classe média contra os pobres, da violência estatal, da devastação ambiental, do racismo e da violência às mulheres e LGBTs, esses governos impõe uma acentuada degradação das nossas condições de vida, drama é mais sentido quando se tem filhos pequenos.
Conheço a situação de muitas famílias moradoras das comunidades aqui da cidade que, quando têm a sorte de possuírem uma velha geladeira, não têm nada dentro dela para oferecer aos filhos. Pudemos proporcionar a algumas dessas famílias um alento na ocasião em que lhes entregamos cestas de alimentos, arrecadadas por meio de uma campanha de solidariedade de classe. Mas a crise e a desesperança propagada pelo bolsonarismo e a falta de políticas sociais do governo do estado e do prefeito Nogueira (PSDB) é muito presente na vida dessa brava gente. Não posso negar que às vezes a desesperança também bate aqui no peito desse militante socialista.
Porém, não tenho o direito de sucumbir, principalmente quando vejo os olhinhos abertos desse meu filho com apenas 7 dias de vida, olhando tudo com a serenidade de um passarinho. Por mim, por minha geração, por ele e pela geração dele, eu tenho o dever de esperançar.
Quando me refiro a esperançar, falo em acreditar em um projeto que possa mudar a vida do nosso povo, com comida na mesa, moradia digna, creche para nossos filhos, água tratada e saneamento para todo mundo, terra para quem quiser nela trabalhar, com o postinho do bairro bem equipado e com servidores bem valorizados, um meio ambiente respeitado, aposentadoria digna, faculdade paro filho do pobre. Mas um projeto assim, jamais foi ou será aceito pelos patrões e seus políticos. O povão sabe disso.
Por esse motivo, o noivado entre Lula e Alckmin não anima, pelo contrário, estimula a desesperança. O PT não aprendeu nada com a experiencia de ter tido o Temer na vice-presidência da Dilma? Essa aliança abriu espaço para o golpe, a eleição de Bolsonaro, acumulando na classe trabalhadora seis anos de derrotas pesadas.
A peãozada tem uma noção empírica do que é Frente Ampla e sabe o resultado final de alianças entre quem deveria defender os trabalhadores e os patrões. Na ocasião em que trabalhei numa fábrica de autopeças aqui em Ribeirão Preto, sempre que havia alguma reivindicação da peãozada, lá vinha o presidente do sindicato da categoria. Mas antes de falar com a gente, ele ia primeiro falar com o dono da fábrica. Fazia a quatro paredes seus acordos, daí a gente já sabia, logo vinham demissões e nada de ter nossas demandas atendidas. Se o presidente do sindicato se apoiasse nos operários mobilizados, poderíamos arrancar reivindicações e impedir demissões.
Respeitadas as devidas proporções político-conceituais, a Frente Ampla que Lula e o PT buscam fazer com Alckmin e alguns partidos é o mesmo que o presidente do sindicato fazia: negociar com os patrões ao invés de se apoiar na mobilização dos funcionários da fábrica. Esse tipo de aliança rebaixa o programa, desanima a classe, e sem esperança e paixão, será muito difícil derrotar Bolsonaro e sua base social fascista.
São Paulo pode esperançar? Tenho certeza que sim. Quando Guilherme Boulos veio à Ribeirão Preto, na Virada Paulista, pudemos perceber que o líder do MTST, além de personificar um programa político capaz de atender as demandas do nosso povo, ele tem ligação orgânica com os movimentos sociais urbanos, o que lhe confere uma autoridade moral que nem um outro pré-candidato ao governo do Estado de São Paulo possui. Da visita à comunidade locomotiva, onde famílias inteiras moram em vagões abandonados de trem, à intervenção de Boulos no Cineclube Cauim, com a presença de centenas de pessoas, uma semente de esperança foi plantada na cidade.
Como o futuro da nossa gente ainda está em disputa, se vai prevalecer a desesperança aqui em Ribeirão Preto e no Estado de São Paulo ou se vai prevalecer a esperança, isso dependerá de muito trabalho, diálogo, mobilização e de um programa que atenda às necessidades concretas das periferias, dos servidores públicos, das mulheres, dos LGBTQIA+, dos negros e negras, dos estudantes, dos PCDs, dos trabalhadores autônomos, das ocupações urbanas e rurais, enfim, dos de baixo. E ganhar os corações e mentes das cidades do interior do Estado será fundamental nessa disputa, por isso, a retomada da Virada Paulista é necessária! Podemos arrancar São Paulo dos tucanos. É por mim, por você, por nossos filhos, por nossas gerações!
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