Pular para o conteúdo
BRASIL

Os caminhos da situação política e tática da esquerda socialista

Fábio José de Queiroz *, de Fortaleza, CE

“Então os amigos pegaram o cantil/E deploraram os tristes caminhos do mundo/E suas duras leis amargas (B. BRECHT, Aquele que diz sim e aquele que diz não).

Um setor importante da burguesia se opõe a Bolsonaro mas não a seu projeto. No caso de Lula, a classe dominante se opõe porque teme que o projeto de desmonte iniciado em 2016 seja interrompido, não por conta do Lula em si, mas apesar dele, pois a burguesia tem consciência de classe e sabe que por trás da candidatura do PT estão as principais organizações da classe trabalhadora e a expectativa de milhões de mulheres e homens dessa classe. Para burguesia  isso é sempre perigoso. Controlar um homem não é tão difícil. Pode-se até oferecer a ele um vice. Difícil é controlar a fome e a esperança de vencer a fome da parte de milhões de pessoas organizadas em uma classe. 

Por isso, para defender o BC autônomo, o teto de gastos, a PPI na Petrobrás e outras barbaridades, um amplo setor da burguesia, no limite, está disposto a sacrificar seu nojo a Bolsonaro para derrotar Lula da Silva, principalmente diante das incertezas de uma suposta terceira via (Ciro, Dória, Moro etc.), o sonho de verão de qualquer neoliberal principista. 

Quem pensa que está tudo resolvido, que haverá um segundo turno entre Lula e Bolsonaro e Bolsonaro já está derrotado, das duas, uma: ou não conhece do que é capaz o fascismo ou do que é capaz a burguesia. Se desconhece as duas coisas, o vexame tende a ser pior.

A esquerda socialista precisa atuar nesse processo, ativando a mobilização social nos limites de suas forças (à base de ações unitárias), levantando um programa com as reivindicações mais sentidas da classe trabalhadora (algo absolutamente inegociável) e defendendo uma frente de esquerda em torno da principal candidatura do campo popular.

O caminho será duro! Se não derrotamos o fascista Bolsonaro antes da eleição, será preciso uma vigorosa preparação para derrotá-lo simultaneamente nas urnas e nas ruas. Derrotá-lo apenas nas urnas é tão só transferir o embate eleitoral, logo que se conte o derradeiro voto, para o terreno da luta física nas ruas, afinal o fascismo usa outros meios além da tática eleitoral. E como derrotar os reacionários nas urnas e neutralizá-los nas ruas, salvo por meio de amplas mobilizações populares? Ganhar as ruas é condição para sobrepujar os fascistas.

Quem pensa que o cenário é tranquilo e a esquerda pode dar-se ao luxo de adotar qualquer tática,  que “tá de bom tamanho”, não pode depois achar que é justo e legítimo chorar sobre o leite derramado. 

A esquerda socialista precisa atuar nesse processo, ativando a mobilização social nos limites de suas forças (à base de ações unitárias), levantando um programa com as reivindicações mais sentidas da classe trabalhadora (algo absolutamente inegociável) e defendendo uma frente de esquerda em torno da principal candidatura do campo popular. Sentir-se derrotado quanto a isso, desde já, e projetar uma vendeta na forma de uma candidatura sem lastro social, têm a sua utilidade, mas, provavelmente, têm poucos préstimos com vistas a enfrentar os perigos de uma situação política em que,  para lembrar o Lênin, exige flexibilidade tática e firmeza estratégica. 

Evidentemente, este texto tem algum nível de validade se, entre nós, há acordo de que a principal tarefa é derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo. Se não há acordo quanto a essa tarefa, esqueça tudo o que você leu, pois talvez não faça o menor sentido.