Eduardo Leite na COP 26: de amigo da mineração à Capitão Planeta
Com a ausência de Bolsonaro na COP 26, os “postulantes da 3ª Via” aproveitam a oportunidade para demonstrar ser o “anti-bolsonaro” pela direita. Apostando no discurso de “direita consciente”, Eduardo Leite tenta convencer que tem preocupação com a causa ecológica. Mas quem conhece sua história, não se engana tão fácil.
Publicado em: 3 de novembro de 2021
Neste mês iniciou a COP 26, em Glasgow. Considerada a mais importante desde a COP 21, a edição deste ano tem um papel especial em realizar um balanço sobre o Acordo de Paris, a aplicação de medidas efetivas pelos países na contenção das mudanças climáticas, e o quão distante estão nossas metas – ou, quão próximo estão nossos limites. Dada a relevância do encontro, era de se esperar que os principais líderes mundiais fossem à Escócia acompanhar de perto o processo e participar ativamente das negociações. É claro, líderes de qualquer país minimamente estabilizado, já que no caso do Brasil já se esperava uma participação destoante de Bolsonaro. O que tivemos, entretanto, foi a total ausência do presidente, um claro gesto de negacionismo e uma declaração através do silêncio sobre a sua política ecocida. Por óbvio, o espaço deixado abre oportunidade para que os “postulantes da 3ª Via” tentem ocupá-lo, na tentativa de demonstrarem ser o caminho “ponderado”, “equilibrado” e “consciente” da direita. Entre os nomes da “direita consciente”, um dos que vem se destacando é Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul.
o espaço deixado abre oportunidade para que os “postulantes da 3ª Via” tentem ocupá-lo, na tentativa de demonstrarem ser o caminho “ponderado”, “equilibrado” e “consciente” da direita. Entre os nomes da “direita consciente”, um dos que vem se destacando é Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul.
Recentemente, Leite declarou em um podcast sua contrariedade aos projetos de megamineração no RS. Segundo ele, o projeto Mina Guaíba estava enterrado. O projeto visava construir a maior mina de carvão a céu aberto do Brasil e ficaria localizado há poucos quilômetros de Porto Alegre. O movimento ecológico gaúcho se mobilizou contra o projeto, evidenciando os claros efeitos destrutivos para os ecossistemas da região, para a população das cidades próximas e das comunidades locais – na região onde se instalaria a mina está presente um assentamento de produção agroecológica e uma comunidade indígena. Durante mais de 1 ano o movimento ecológico lutou contra a aprovação do projeto, mas enfrentou um grande adversário: o governo Leite. Enquanto movimentos e especialistas lutavam para conseguir debater publicamente sobre o projeto e suas consequências, o governador recebia a diretoria da mineradora no Palácio Piratini. É seguro dizer que se não fosse a pandemia, que congelou processos grandes de infraestrutura, a Mina Guaíba estaria em pleno funcionamento. Afinal, a própria página nas redes sociais da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura fez postagem defendendo a mineração e dizendo que “existe mineração até na bomba do chimarrão”, em uma clara tentativa de apelar para a tradição gaúcha em defesa do setor. A postagem repercutiu de forma tão negativa que rapidamente foi apagada das redes.
O governo Leite também foi responsável pela destruição da Lei de Agrotóxicos do Rio Grande do Sul. O estado gaúcho carregou por décadas a distinção de ter uma das leis de proibição de agrotóxicos mais avançada do Brasil. Promulgada em 1982, ainda dentro da ditadura, a lei foi resultado de uma intensa luta do movimento ecológico gaúcho e conseguiu barrar a utilização de agrotóxicos que eram proibidos em seu país de origem. Apesar de ser exemplo no país, Eduardo Leite propôs o PL 260/2020 e fez dura pressão para a aprovação do projeto que acaba com as determinações da lei anterior. Assim, Leite conseguiu apagar uma das maiores conquistas ecológicas do estado. Somado a isto, o governo vem desmontando o setor ambiental desde o seu início. A própria fusão entre Secretaria de Infraestrutura e Secretaria do Meio Ambiente foi criticada desde o princípio, pois coloca interesses contraditórios em um mesmo órgão, sempre pendendo para os interesses das construtoras e mineradoras. Os servidores da área também apontam tentativas constantes do governo em precarizar e desmontar o setor ambiental, avançando na precarização da fiscalização ambiental e da submissão dos interesses ligados à proteção e preservação aos interesses da mineração e da construção. Cabe ainda destacar que Leite incluiu os parques estaduais no Programa de Estruturação de Concessões de Parques Naturais do BNDES. Isto é, seguindo o mesmo discurso do governo federal, Leite defende que entregar os parques estaduais ao setor privado é um bom caminho para “gerar renda e preservar”. Uma das maiores falácias do capitalismo verde.
Quem conhece a trajetória de Eduardo Leite sabe bem que não há nada na sua história que o conecte com a luta ecológica. No sentido completamente oposto, as ações de Leite sempre foram a favor dos setores mais destrutivos da natureza, favorecendo iniciativas predatórias e destruindo as conquistas em relação à questão sócio-ambiental. A virada no seu discurso nada mais é do que um intento oportunista com o propósito de ser um “anti-bolsonaro” pela direita. Antes garoto propaganda da mineração, Leite agora quer ser o Capitão Planeta. Mas nós sentimos o cheiro negacionista, mesmo quando vem perfumado.
* Mestrando em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)
Top 5 da semana

brasil
Prisão de Bolsonaro expõe feridas abertas: choramos os nossos, não os deles
colunistas
O assassinato de Charlie Kirk foi um crime político
brasil
Injustamente demitido pelo Governo Bolsonaro, pude comemorar minha reintegração na semana do julgamento do Golpe
psol
Sonia Meire assume procuradoria da mulher da Câmara Municipal de Aracaju
mundo