Novembro é um mês extremamente importante e simbólico para a negritude de nosso país. Mês de lembrar e recontar a verdadeira história de nosso povo, aquela que a história não conta. Relembrar os nossos ancestrais que abriram caminho para nossa trajetória. Mês de reforçar a necessidade de nos aquilombarmos para enfrentar e denunciar o racismo, e combater o genocídio da juventude negra. Para nós do Afronte Negro o novembro tem uma grande centralidade, fazemos parte daqueles que irão construir diversas iniciativas que fortaleçam o debate racial e a luta antirracista no Brasil no novembro e no resto do ano. Queremos chamar todes es ativistas antirracista a estarem conosco hoje, dia 27/11, às 19h, na nossa plenária rumo ao novembro e nas atividades que faremos durante todo o mês (Inscreva-se aqui).
O genocídio do povo preto se aprofunda no Brasil de Bolsonaro
Em 2020 quando demos início a pandemia do covid19 em uma país extremamente desigual como o nosso, sabíamos que seriam principalmente os negros e negras a serem os mais afetados, em 2021 isso continua a se comprovar. Isso porque o povo preto, atravessado pelo racismo estrutural, já vivia no Brasil em uma realidade precária de acesso à saúde, saneamento básico e baixas condições de vida que os deixaria mais vulneráveis à morte pelo vírus e à pandemia. Mesmo com as diversas reivindicações levantadas pelos movimentos negros, nenhuma política pública foi feita para a garantia da vida da população negra na pandemia. Pelo contrário, o genocídio operado propositalmente pelo presidente Bolsonaro, que negou a vacina, subestimou a pandemia e cortou o auxílio, foi responsável pelas mais de 600 mil mortes, em sua maioria de pessoas pretas e pardas.
Dentro dos vastos impactos da pandemia da covid-19 que têm afetado a população negra, a fome vem se tornado o principal agravante. Os dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar em Contexto de Covid revelam que 55,2% da população brasileira sofrem alguma ameaça ao direito aos alimentos. A pesquisa comprova que a situação mais severa atinge a parcela vítima da extrema pobreza, principalmente mulheres chefes de família, pretas ou pardas, com baixa escolaridade e trabalho informal. A fome então tem sido a principal preocupação dessas mulheres negras que lutam para que suas famílias não estejam na vasta fila para conseguir ossos ou precisem tirar do caminhão de lixo para comer. Esse é o racismo atuando no país que em 2021 ganhou 40 novos bilionários e que tem 19 milhões de brasileiros, em sua maioria negros, em situação grave em relação ao acesso à alimentação.
A violência policial racista, que já era cotidiana nas periferias, não teve trégua mesmo durante a pandemia. No Brasil, em 2019, os negros representaram 77% das vítimas de homicídios, com uma taxa de 29,2 por 100 mil habitantes, significando que o risco de um negro ser assassinado é 2,6 vezes superior ao de uma pessoa não negra. O total de mulheres negras mortas cresceu 2%, ao passo que o número de mulheres não negras mortas caiu 26,9%1. E o que vemos é o aprofundamento desses números na pandemia com o aumento da violência doméstica, das chacinas e da violência policial.
Por esse e outros motivos, é impossível negar o genocídio da população negra em curso neste país, e que na atual conjuntura de Bolsonaro se aprofunda quando lutamos para não morrer nem de bala, nem de fome, nem de covid. Não se pode negar o genocídio em um Brasil onde a bala perdida sempre encontra um corpo negro, ainda que esteja esperando outra vida como foi com Ketlen Romeu, onde seguranças de um supermercado matam um homem negro espancado em um estacionamento como foi com João Alberto. Em que um adolescente é morto dentro de casa em uma operação policial como aconteceu com João Pedro. Ou que aconteça uma chacina brutal como foi no Jacarezinho.
Bolsonaro e seu governo racista são sim genocidas. Segue essa política da morte sobre o povo preto, a lógica da necropolítica, que se funda desde a escravização e a racialização-racismo das populações e cria até os dias de hoje um Brasil de extermínio. Em seu governo podemos ver o incentivo para que seus seguidores ostentem símbolos de supremacismo branco, suas principais políticas são de aprofundamento do racismo, com a retirada de direitos, ameaças a entrada de pessoas negras na universidade e o atual presidente constantemente reforçando a democracia racial, negando que existe racismo no Brasil.
Os mais interessados na derrubada desse governo são as pessoas negras, abrimos as ruas no dia 13 de maio e desde então não temos saído dela. Novembro também será um mês de luta pra dizer que queremos o fim desse governo racista. A população negra precisa estar no centro da disputa por um futuro para esse país, nas lutas e nas eleições lutaremos por um novo governo de esquerda com centralidade na defesa da vida da população negra.
Afronte negro! rumo ao novembro
Segundo Steve Biko a consciência negra é a percepção do povo negro da importância de unir forças para que juntos se libertem as correntes da servidão perpétua, dessa forma, negros e negras conscientes de sua história seriam a própria revolução, pois é pela compreensão de si mesmo que se inicia o caminho rumo à emancipação. No Brasil, o ano de 2003 foi decisivo para o reconhecimento do dia 20 de novembro como a data oficial para o Dia Nacional da Consciência Negra. Essa data foi escolhida por marcar o dia da morte de um dos símbolos da resistência negra brasileira, o último líder do quilombo dos Palmares, Zumbi de Palmares, assassinado em 1695 em Serra da Barriga, Alagoas.
Em novembro, se constroem diversas ações que demarcam a importância do mês que carrega a conquista da primeira data cívica de exaltação do protagonismo negro em defesa de sua própria liberdade e em respeito, que é o 20 de novembro. Neste ano de cinquentenário do “Vinte”, é impossível alegar que a sua existência não foi de suma importância para a consolidação e reconhecimento do movimento negro como protagonista da história deste país. No novembro os movimentos negros chamam toda a sociedade brasileira a ver com importância o combate ao racismo.
Nós do Afronte Negro, neste que é o primeiro novembro negro de nossa existência, queremos nos inspirar nos levantes antirracistas, nas campanhas de solidariedade nas periferias, na resistência dos povos indigenas e quilombolas, na luta contra Bolsonaro para exaltar a resistência do povo negro neste país. A população negra nunca aceitou calada os diferentes níveis de violência racista, pelo contrário, se organiza em terreiros, na cultura, nas ocupações, na intelectualidade para manter vivo o legado dos que vieram antes de nós e na construção do amanhã.
Por isso, em novembro nós estaremos mobilizados em torno de diversas iniciativas de luta. Faremos atividades antirracistas nas cidades, exaltaremos a cultura negra e periférica, fortaleceremos as Marchas da Consciência Negra e iremos promover formações políticas e diálogos nas periferias. Para nós, construir um mês de novembro forte é de suma importância. É urgente um despertar ruidoso da sociedade e do Estado, com ações de combate ao racismo que vão na raiz do problema. Para nós, entender a centralidade da negritude em novembro e durante todos o ano é de forma concreta entender que “Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”.
Este texto é portanto um chamado a todes a aquilombarem-se conosco em espaços auto organizados, de ação direta e de formação politica fazendo a luta antirracista neste mês de novembro. E para dar um ponta pé na construção do mês, iremos realizar hoje, no dia 27 de outubro uma grande plenaria aberta rumo ao novembro negro. Para se inscrever basta acessar as nossas redes @afrontenacional.
“É chegada a hora de tirar nossa nação das trevas da injustiça racial!” – Zumbi dos palmares.
1 Atlas da violência 2020
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