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MUNDO

Chile: a dois anos das mobilizações, entre a esperança com a Constituinte e as eleições presidenciais

Raul Devia Ilabaca, Chile | Tradução Ge Souza

Chile, em 18 de outubro de 2019, acordou, porque não eram 30 pesos, mas 30 anos de neoliberalismo sob a liderança do Acordo dos Partidos Políticos para a Democracia, sob os auspícios da Constituição de 1980, a da ditadura, e sua saída acordada com Augusto Pinochet Ugarte e sua “institucionalidade democrática”, que deixou de fora os povos que habitam este território conhecido como Chile.

Após um mês (outubro), o povo mobilizado enfrentou o Governo, o Parlamento, a Polícia e a Justiça, que nada puderam fazer para conter o clamor popular por profundas transformações no plano político, social, econômico, cultural. Sem margem para continuar com a opressão e exploração de um capitalismo extrativista exacerbado, no dia 15 de novembro entre galos e meia-noite, a maioria dos setores políticos representados no Congresso, tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado, chegaram a um acordo político para apoiar o Estado e suas instituições.

Dois anos após o início da luta pelo fim do neoliberalismo no Chile, comemoramos esse fato, com a esperança intacta, com grandes manifestações nas principais cidades do país, e com uma Assembleia Constituinte, presidida pela Mapuche Lagmien Elisa Loncon, que simbolicamente começa no Plenário da Constituinte o processo de discussão do novo texto constitucional, visto que num período de três meses foram constituídos 4 regulamentos e 7 comissões definitivas, que neste dia 18 de outubro de 2021, irão debater as normas constitucionais, por um período de 9 meses, que proporá ao país em plebiscito, para que os povos do território chileno dêem sua aprovação, ao texto constitucional, em voto popular.

Mas, contraditoriamente com isso, uma vez que o Governo de Piñera não foi derrubado pela mobilização popular, a Constituição da Ditadura continua a ser aplicada, e o processo eleitoral para a escolha de presidente, senadores e deputados começa no âmbito dessa Constituição, de modo que o haverá eleições populares no Chile, em novembro, ainda sob as sombras do passado, que não acabou de morrer.

Mas, contraditoriamente com isso, uma vez que o Governo de Piñera não foi derrubado pela mobilização popular, a Constituição da Ditadura continua a ser aplicada, e o processo eleitoral para a escolha de presidente, senadores e deputados começa no âmbito dessa Constituição, de modo que o haverá eleições populares no Chile, em novembro, ainda sob as sombras do passado, que não acabou de morrer.

Nesse processo eleitoral, estão concorrendo sete candidatos a presidência. O líder nas pesquisas é Gabriel Boric, que é o representante do pacto eleitoral “Eu aprovo a Dignidade”, de esquerda, que agrupa os partidos da Frente Ampla e o Partido Comunista do Chile, e que tem grandes possibilidades de ser o novo Presidente do País. Seu principal adversário é José Antonio Kast, que representa um partido político de extrema direita, o “Partido Republicano”. Kast pode ser comparado a outros presidentes de outros países, e poderíamos dizer que ele é o Trump do Chile ou melhor, um Bolsonaro chileno. Algumas pesquisas dão 20% de intenção de voto para alguns candidatos, superando Boric. O outro representante da direita do pacto político “Chile pode +”, Sebastián Sichels, também é superado nas pesquisas por Yasna Provoste, que representa a antiga Concertación de Partidos pela Democracia, hoje “Novo Pacto Social”.

Concluindo, podemos afirmar que o processo constituinte em andamento, é a esperança dos povos do território do Chile, que ontem saíram para comemorar o 18 de Outubro, e que mantêm intactos os desejos de profundas transformações da sociedade em que vivemos. No entanto, uma ameaça do passado paira neste duplo processo. Por um lado a ameaça a nova Constituição, e por outro ao processo eleitoral, já que a direita ultraconservadora, muito próxima do neofascismo, nas intenções de voto para as eleições presidenciais, ancoradas no pasado. Em relação a esta dicotomia devemos estar atentos, preparados e determinados para que não nos tirem o futuro. É preciso defender o processo constitucional em curso, e enfrentar o neofascismo na arena eleitoral é uma obrigação.

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América Latina / chile