O ex-ministro e presidenciável Ciro Gomes, conhecido tanto por sua eloquência como por suas grosserias, foi longe demais em seus recentes ataques a Lula e Dilma e, pelo que tudo indica, não vai parar por aí. Após ser vaiado na Paulista e quase agredido no último dia 2, Ciro propôs ao PT uma espécie de trégua que por sua vez, mal durou uma semana graças ao próprio Ciro. Já no dia 11 de setembro, uma peça publicitária produzida pelo marqueteiro João Santana, foi divulgada nas redes sociais do pré-candidato, tentando dialogar diretamente com os eleitores que se afastam da direita, da centro-direita e se aproximam de Lula. No vídeo ele diz:
“Se você pensa em apoiar Lula por causa do que ele fez no passado, talvez fosse o caso de refletir mais profundamente. Você acha que ele terá condições de governar bem nos dias de hoje? Lembre que o Brasil mudou muito, e Lula não renovou as ideias? Será que ele se corrigiu e não vai repetir aqueles erros terríveis que você só descobriu depois? O pior é que você nunca viu ele pedir perdão pelos erros e está vendo ele se juntar, de novo, às mesmas pessoas”.
Nós, filiadas e filiados ao PSOL, fomos oposição de esquerda aos governos do PT e sempre denunciamos as alianças eleitorais e de governo em busca da tal “governabilidade” que Lula e Dilma tanto buscaram. Estamos também entre aquelas e aqueles que reivindicam o exercício da autocrítica como método da esquerda. Acreditamos que já não era possível governar o Brasil como foi governado já nos anos petistas, muito menos é possível fazê-lo agora, nos anos 2020, tendo o país passado pelo golpe de 2016, encarando agora a fome, o desemprego, a carestia de um lado e do outro a extrema-direita cada vez mais organizada além dos lucros estratosféricos de um punhado de gente sem escrúpulos. Se levarmos isso ao cenário internacional, com o nível de emergência climática assim como do crescimento do fascismo, reafirma-se a certeza de que não dá pra fazer no Brasil o que foi feito nos primeiros anos do século XXI. Mas isso, nem de longe, nos fez concordar um centímetro que fosse com as intenções do vídeo do pedetista. Seguimos pensando que a unidade da esquerda é indispensável para sair desse atoleiro e vamos seguir brigando por ela nas ruas e se preciso também nas urnas, porque só há saída para o Brasil se for pela esquerda.
Seguimos pensando que a unidade da esquerda é indispensável para sair desse atoleiro e vamos seguir brigando por ela nas ruas e se preciso também nas urnas, porque só há saída para o Brasil se for pela esquerda.
Mas Ciro, como era de se esperar, não quer saber de qualquer saída pela esquerda e foi mais longe em sua cruzada anti lulista. Começamos essa quarta-feira, dia 13, tendo acesso ao PodCast do Estadão Notícias onde Ciro Gomes não só decretou que “com o lulopetismo corrompido e neoliberal tosco” sua relação está “definitivamente encerrada” como afirmou estar “seguro que Lula conspirou pelo impeachment da Dilma”. Ainda que acreditemos que o petismo não esteve à altura de dirigir a luta contra o impeachment e apostou mais do que deveria nas vias do “diálogo republicano” afirmar que Lula fez parte do golpe só pode ser fruto de uma mente doentia.
Foi da conta do twitter da própria Dilma que veio a resposta no começo da tarde:
“Ciro Gomes está tentando de todas as formas reagir à sua baixa aprovação popular. Mais uma vez mente de maneira descarada, mergulhando no fundo do poço. O problema, para ele, é que usa este método há muito tempo e continua há quase uma década com apenas 1 dígito nas pesquisas”.
Mas quem disse que no poço em que Ciro mergulha existe um fundo? Ao responder à ex-presidenta, o pedetista não só diz com todas as letras ter se arrependido de ter lutado contra o impeachment como chama Dilma de “uma das pessoas mais incompetentes, inapetentes e presunçosas que já passaram pela presidência”. Esse é Ciro Gomes. Pior que nem se pode dizer que foi o calor do momento, que teclou sem pensar. Ele teve uma hora inteira para dar a resposta também via tweet. E Ciro que tenta, ou tentava, se viabilizar como uma terceira via optou pelo caminho não só do desprezo à democracia, ao se arrepender da luta contra o golpe, como pelo da misoginia, ao reforçar que entre os muitos que estiveram na presidência, e lá já estiveram ditadores e golpistas dos mais diversos, seria exatamente a única presidenta, Dilma Rousseff, a das mais incompetentes, inapetentes e presunçosas.
Definitivamente Ciro foi longe e também baixo demais. Pois cuidemos para que seja pior pra ele. Se alguém tinha dúvida ou trabalhava por uma unidade da esquerda com o pedetismo ou, pior ainda, com o clã dos Ferreira Gomes e suas variantes para lutar contra o bolsonarismo, não pode ter mais. Sobretudo os que reivindicam-se de esquerda no Ceará precisam costurar urgentemente uma alternativa.
No Ceará, o PDT possui mais de um terço das prefeituras (67 dos 184 municípios), entre elas a da própria capital. Para além das prefeituras, o PDT possui 14 dos 46 deputados estaduais cearenses sendo quase quatro vezes maior que a segunda bancada partidária de deputados estaduais onde estão PP, PRT e MDB cada uma com 4 deputados. Entre os deputados federais cearenses, os Ferreira Gomes também levam vantagem com 6 dos 21 parlamentares, seguidos por 3 do Partido dos Trabalhadores. Dos 3 senadores cearenses, 1 é Ferreira Gomes, o também ex-ministro, Cid Gomes. E o próprio governador petista, Camilo Santana, sofre fortes influências do clã dos Ferreira Gomes e é tido entre muitos como expoente de uma ala pedetista dentro do PT.
Estamos diante de uma máquina eleitoral que infelizmente o petismo ajudou a criar e para enfrentá-la, a saída precisa ser pela esquerda. Quaisquer alternativas que ventilem a possibilidade de unidade ao lado do candidato dos Ferreira Gomes para o governo do Ceará precisam ser combatidas fortemente. Da mesma forma, apostar em saídas com o MDB ou outros entulhos golpistas não cabe no Ceará e não à toa, o próprio Eunício Oliveira do MDB que agora aparece em fotos com Lula, foi rechaçado por todo o estado nas eleições ao senado de 2018. Ou se constrói uma saída pela esquerda tanto nacionalmente como pelos estados, ou simplesmente não haverá saída. É possível batalhar pela unidade das esquerdas com PSOL, PT, PCdoB, PSTU, PCB, UP, movimentos sociais, populares, de juventude, e contra as opressões, nas ruas e também nas urnas, divulgando uma plataforma que enfrente tanto o bolsonarismo e o golpismo como, no caso do Ceará, o clã dos Ferreira Gomes. Mas não só é possível, como é necessário dar essa batalha. Que não nos falte coragem a todos nós para encampá-la.
Comentários