Em 2020, os investimentos da Petrobrás na área de arte e cultura foram os mais baixos dos últimos 15 anos. Os patrocínios culturais da estatal caíram de R$ 289 milhões, em 2006, para apenas R$ 18 milhões no ano passado. O levantamento é do Instituto Latinoamericano de Estudos Socioeconômicos (Ilaese) e aponta ainda uma redução no aporte financeiro da empresa ao setor de pesquisa e desenvolvimento tecnológico.
A análise dos investimentos em cultura é fundamentada em dados apresentados no Balanço Social da Petrobrás, que envolve a participação da estatal em todos os tipos de patrocínios culturais, e traça o percentual da receita líquida que a empresa tem aplicado nesse setor. Em 2006, o valor investido representava 0,24% da receita líquida da estatal, porcentagem que foi reduzida a 0,007% em 2020.
“Essa queda no índice é o resultado do projeto de longo prazo que abriu o capital da Petrobrás, vendeu paulatinamente suas ações ao capital privado e, mais recentemente, vem colocando em leilão cada uma de suas partes”, afirma Gustavo Machado, pesquisador do Ilaese.
Ciência e tecnologia
Em relação aos investimentos na área de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, o estudo revela uma tendência contínua de queda, com poucas oscilações no período analisado da última década. A exemplo da área de cultura, 2020 foi o ano com o menor investimento registrado em ciência e tecnologia na série histórica, tanto em porcentagem quanto em valor absoluto.
Com base no Relatório Anual da Petrobrás e no Tesouro Nacional, o estudo faz um comparativo do percentual das receitas líquidas da estatal destinado a pesquisas e desenvolvimento tecnológico. “Consideramos que a análise percentual é o melhor critério de avaliação, porque leva em conta as variações da inflação e do tamanho da empresa. E, em tese, a empresa quando cresce precisa de mais investimentos em pesquisa e desenvolvimento”, esclarece Machado.
Em 2011, o investimento em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia representava 1,28% da receita líquida da empresa e, no ano passado, 0,72%. “Essa queda percentual é puxada pela privatização, já que os investimentos em pesquisas são cortados nas unidades que estão sendo vendidas, como é o caso da PBio (Petrobras Biocombustível)”, destaca o pesquisador do Ilaese.
Mais verba que CNPQ
Apesar da acentuada redução nos últimos anos, de acordo com o levantamento, o valor aplicado pela Petrobrás em ciência e tecnologia ainda é maior do que o orçamento total do CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), entidade ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. Só em 2020, o investimento da Petrobrás foi de R$ 1,8 bilhão, quase R$ 760 milhões a mais do que a verba orçada no mesmo ano para o Conselho Nacional, que é uma das principais ferramentas de incentivo à pesquisa, ciência e tecnologia no Brasil.
Esses números, segundo o estudo, confirmam que o Brasil investe poucos recursos em pesquisa e tecnologia. “Por outro lado, o fato de uma única empresa como a Petrobrás ter um orçamento voltado para pesquisa, desenvolvimento e tecnologia duas vezes superior ao do principal órgão público de pesquisa do país mostra a importância do papel desempenhado pela estatal”, argumenta Machado.
Papel estratégico
Para se ter uma ideia do tamanho da Petrobrás, o estudo apresenta um quadro comparativo com as receitas brutas, incluindo impostos e royalties, de 2020, da estatal e da Vale, segunda maior empresa do país. E inclui também a receita corrente líquida da
União, que envolve toda arrecadação corrente do governo central com impostos e demais taxações, exceto as transferências para os estados.
Mesmo com uma retração na arrecadação, no ano passado, a Petrobrás teve uma receita bruta de R$ 414,3 bilhões. Enquanto a Vale, que bateu seu recorde de faturamento e vendas, registrou R$ 210,1 bilhões. A receita corrente líquida da União foi de R$ 651,9 bilhões. Ou seja, a Petrobrás arrecadou praticamente o dobro da Vale e 63% de toda receita corrente líquida da União.
“A Petrobrás é uma empresa que desempenha papel-chave em toda cadeia de valores brasileira e com um gigantesco potencial diante de um projeto estratégico de desenvolvimento nacional que hoje, infelizmente, está esquecido”, conclui o pesquisador.
Confira o estudo completo no site do OSP: https://observatoriopetrobras.
Comentários