Pela primeira vez na história do PSOL Santa Catarina, uma etapa municipal do congresso partidário foi impugnada pela Comissão Organizadora Nacional. A votação em Chapecó, realizada em 15 de agosto, foi contaminada por uma série de irregularidades registradas em vídeo e imagens pelo mesário Nicolas de Souza, militante da Resistência. O recurso foi apresentado na noite do dia 15, quando um terço das urnas catarinenses ainda estavam para acontecer e o resultado final, indefinido.
Após apresentar a denúncia, Nicollas passou a ser vítima de uma intensa campanha de difamação por parte da Tese regional “Vamos Juntos” e da tendência Movimento Esquerda Socialista (MES). As ofensas transcenderam os fóruns internos do PSOL e foram para o site da Revista Movimento, tornando-se públicas e acessíveis para qualquer pessoa na internet. Um ato bárbaro de covardia que se guia pela lógica da direita: atacar a honra pessoal do denunciante por não terem argumentos sólidos para contestar as evidentes irregularidades ocorridas.
Nas imagens feitas por Nicollas, que no papel de mesário, exerceu o dever de registrar tudo aquilo que considerasse irregular, é possível identificar dirigentes tanto do MES quanto do Vamos Juntos realizando uma espécie de “almoço de domingo” no mesmo ambiente em que a votação ocorria. Durante toda a tarde, a votação foi acompanhada por música, comida de graça e bebidas alcóolicas.
Ninguém usava máscara ou cumpria o distanciamento social, em que pese boa parte dos dirigentes presentes tenha assinado um manifesto pedindo o adiamento do Congresso do PSOL por conta da pandemia. Talvez uma tática para permanecerem no controle do partido, como vem ocorrendo no último um ano e meio?
Como se não bastasse, os filiados foram reunidos no meio do processo de votação para ouvir um discurso político de uma dirigente do Vamos Juntos, onde reafirmou pontos da sua tese. E ainda comemorou-se um aniversário. Além disso, houve diferença no número de votos apurados e de assinaturas em lista de presença. Ao final do processo, Nicolas solicitou anotar o que considerou irregularidades em ata, tendo sido coagido por dirigentes locais a não fazê-lo.
Para se defender das evidentes irregularidades, dirigentes do Vamos Juntos utilizaram o áudio de uma filiada que afirma ter votado na tese da Resistência. Ela diz que, no período em que esteve no local de votação, não viu qualquer irregularidade. Seu depoimento, entretanto, não tem qualquer valor: ela afirma no áudio ter ficado no local das 11h50 às 12h20. Todas as imagens produzidas por Nicoll foram gravadas entre 12h42 e 15h16, portanto, após a filiada deixar o local.
Na tentativa de justificar um processo evidentemente viciado, dirigentes do Vamos Juntos ameaçaram processar filiados de outras chapas; passaram a agredir verbalmente militantes de outras teses que se indignaram com as evidências; chegaram a afirmar que Nicollas havia “invadido” a residência onde a votação ocorreu, entre outras barbaridades.
Na defesa apresentada por escrito à Comissão Organizadora Nacional, dirigentes do Vamos Juntos mentiram descaradamente, afirmando que as imagens feitas por Nicolas foram registradas após a urna ter sido encerrada. Eles afirmam, por escrito, que o autor do pedido de impugnação da urna de Chapecó “utiliza-se inclusive de algumas imagens captadas após o encerramento do processo de votação e apuração”. Ignoram, ou fingem desconhecer, que as imagens produzidas em celulares guardam os chamados metadados, não apenas com o horário em que foram gravadas, mas também a geolocalização. Todas as provas estão em posse da Comissão Organizadora Nacional.
Áudios e vídeos de dirigentes deste coletivo apelam para a desinformação e para os argumentos de autoridade, como tempo de filiação, experiência no movimento sindical, etc. Como se esses ambientes não fossem eivados de práticas similares ao ocorrido na urna de Chapecó.
Defendem-se de uma acusação que não foi realizada para criar confusão: a de compra de votos. Ora, não é isso que está em discussão. O que difere a urna de Chapecó de todas as outras são os vícios no processo, que criam condições desiguais de disputa. Uma coisa é atrair filiados para participar da votação em um processo sério, a partir do debate das teses, com respeito aos protocolos sanitários e às regras do jogo. Outra coisa é atrair filiados para uma festa ou confraternização à revelia do regimento.
Por fim, ainda tentam apresentar argumentos de ingenuidade ou falta de intenção para justificar o processo. Difícil de acreditar. Um dos principais dirigentes do Vamos Juntos, proprietário da residência onde a votação ocorreu, é professor de Direito em uma Universidade Federal. Já presidiu o maior sindicato de Santa Catarina, foi candidato a Prefeito e Senador, e é figura com ampla experiência no movimento social e sindical.
Ninguém em sã consciência, seja nas eleições internas do PSOL, ou em qualquer outra eleição de sindicato, associação ou entidade com mais de uma chapa, aceitaria uma urna nas condições em que foi realizada a votação em Chapecó. Se a Comissão Organizadora aceitasse seu resultado, estaria dizendo para o conjunto do partido que sim, podemos realizar urnas com festa, bebidas, sem cumprir os protocolos sanitários e censurando mesários de anotarem em ata eventuais ocorrências.
A violência com que atacam Nicollas e membros de outras chapas, a exposição que deram ao caso fora dos ambientes do partido e as mentiras que espalharam sobre o processo só reforçam a correta decisão da Comissão Organizadora Nacional em impugnar a urna de Chapecó e o desespero da atual gestão do partido em Santa Catarina em se perpetuar no poder.
Reafirmamos nossa solidariedade a Nicollas e nosso apoio à acertada decisão da Comissão Organizadora Nacional, que visa coibir este tipo de prática em um partido sério, democrático e socialista. Tentativas de alterar a correlação de forças por métodos estranhos à nossa tradição não podem ser aceitas.
Comentários