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BRASIL

Greve Global pelo Clima: Uma greve contra o fim do mundo

Com data marcada para o dia 24 de setembro, a Greve Global pelo Clima deste ano ocorrerá em um cenário de eventos extremos e uma prolongada pandemia que reforçam a urgência de agirmos contra aqueles que lucram com a destruição do planeta. Com os estudos apontando que marchamos para um futuro inabitável, a luta climática se torna uma luta de vida ou morte.

Matheus Hein Souza*, de Porto Alegre, RS
CHICO RIBEIRO/GOVERNO DO MATO GROSSO DO SUL/AFP/JC

Queimada no pantanal, 2021

Vivendo e lutando em um mundo em chamas

No dia 09 de agosto foi publicada a primeira parte do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, o IPCC. As constatações dos especialistas apontam para uma tendência preocupante no nosso futuro próximo e de longo prazo, associada ao aumento das temperaturas e a multiplicação de catástrofes causadas pelas mudanças climáticas. É consenso entre os especialistas que os estudos analisados apontam indubitavelmente não só a dimensão antropogênica no rápido aumento da temperatura média da Terra, mas que parte das consequências dessas mudanças já são inevitáveis. Isto significa que já viveremos nos próximos anos e décadas os efeitos mais acentuados das mudanças climáticas, com a multiplicação dos chamados “eventos extremos”: inundações bruscas e inesperadas, ondas de calor mortais, secas prolongadas, tempestades, ciclones, entre outros.

Apesar da inevitabilidade de alguns destes processos, é crucial saber que podemos agir para evitar os piores cenários que o IPCC aponta. Os especialistas indicam dois limites: O primeiro é evitar que a temperatura média do planeta ultrapasse o aumento de 1,5º C. Se nos mantivermos dentro desse limite, sofreremos os efeitos das mudanças numa frequência maior que a atual, mas conseguiremos evitar alguns dos mais graves. O segundo é, não conseguindo nos manter dentro do nível de 1,5º C, não ultrapassar 2º C. A partir de 2º C a recorrência de eventos extremos se intensifica. O grande problema é que hoje já estamos no nível de 1,2º C. Isto significa que precisamos agir agora e de forma contundente.

Neste contexto, a Greve Global pelo Clima ganha ainda mais relevância. Realizada pela primeira vez em 2018, embalada e organizada pelo surgimento e multiplicação de movimentos como o Fridays for Future, a Greve atingiu seu ponto alto em 2019 quando ocorreu simultaneamente em 150 países, mobilizando milhões de pessoas. Já neste ano, imersos numa pandemia que parece não ter fim e com a realidade da emergência climática nas nossas caras, a Greve é mais do que nunca uma luta contra o fim do mundo. A Greve está marcada para o dia 24 de setembro, mas a convocação é para tornar setembro um mês de ativismo contra a mudança climática e em luta pela vida.  Este deve ser um mês para que viremos nossa ação contra aqueles que lucram com a destruição do planeta.

A indústria fóssil, base que sustenta toda produção capitalista, é a principal responsável pela emissão de gases de efeito estufa. Apenas 20 empresas são responsáveis por um terço de todas as emissões de carbono, quase todas ligadas diretamente à extração de combustíveis fósseis. Enquanto isso, no nosso país, o agronegócio e a mineração devastam nossos biomas e derrubam nossas florestas — basta lembrar que pela primeira vez na história a Amazônia emite mais gás carbônico do que absorve. Pelo fato da indústria fóssil ser parte indissociável do capitalismo, uma das suas bases fundantes, é preciso reforçarmos a consciência de que a crise climática não será resolvida se não for compreendida como uma luta contra o capitalismo. A Greve Global pelo Clima é um momento de importância central para esta luta.

O futuro que nos espera e o futuro que podemos criar

Os últimos meses se tornaram uma espécie de “demonstração” do que nos aguarda:  Na América do Norte uma onda de calor atingiu fortemente os EUA e o Canadá. Alguns registros contabilizam 500 mortes no Canadá, além de 1 bilhão de animais marinhos mortos na sua costa; Chuvas sem precedentes atingiram parte da Europa, Bangladesh e China. Na Europa as inundações se centraram na Alemanha, Bélgica e Holanda, deixando mais de 100 mortos, centenas de desabrigados e 1,3 mil pessoas desaparecidas. Em Bangladesh os números oficiais contam 300 mil desabrigados. Na China o número de desabrigados também é altíssimo, chegando a 200 mil, além de mais de 300 mortos; Outra onda de calor atinge a Grécia e a Turquia, mas também outros países próximos em menor nível. Na Grécia, a onda de calor tem provocado incêndios que as autoridades não conseguem controlar, queimando mais de 100 mil hectares em duas semanas, sendo que a média anual é de pouco mais de 2 mil hectares. Já a Turquia é varrida por incêndios com a mesma intensidade que na Grécia, mas combinado pelas piores inundações das últimas décadas. Em ambos países diversas cidades tiveram que ser completamente evacuadas, já que os incêndios estão atravessando os limites florestais e adentrando as zonas urbanas, além dos riscos de intoxicação pela fumaça.

Infelizmente, esta pluralidade de eventos estão ocorrendo sem nem mesmo chegarmos nas temperaturas mais altas. Além do mais, estes eventos estão ocorrendo centralmente no hemisfério Norte e é esperado que nos países do hemisfério Sul, como o Brasil, a situação seja ainda pior. A tendência é que ano após ano este tipo de ocorrência se intensifique em quantidade e violência. Não se trata mais, como alguns acreditavam, de lutar pelo futuro dos nossos netos ou filhos. É lutar pelo agora, pelo presente e pela possibilidade de futuro. Por estas razões, é preciso fazer com que o tema da emergência climática se popularize e se enraíze no Brasil. A construção da Greve tem um papel importante neste processo, mas é ainda mais relevante mantermos uma cultura de luta permanente contra as mudanças climáticas.

Organize-se na sua cidade, encontre outras pessoas que entendam a emergência em que vivemos e se some na construção desta luta. É preciso agir hoje para que tenhamos um amanhã.

*Militante da Resistência/PSOL e mestrando em filosofia pela PUC/RS.