Em 15 de agosto, aconteceram as eleições para o Congresso do PSOL em Chapecó-SC. O maior grupo do partido na cidade, “Vamos Juntos”[1], estava responsável pelo processo e, lamentavelmente, organizou uma festa ao lado da urna com direito à carreteiro e bebida alcóolica durante toda a tarde de votação.
Respeitamos a militância do PSOL em Chapecó e lamentamos que o desfecho – com o qual concordamos – tenha sido a invalidade da urna. Mas imaginemos se, em todo o Brasil, os dirigentes do PSOL organizassem festas com comida e bebida alcoólica ao lado das urnas de votação? Evidentemente, isto é proibido pelo regimento do Congresso e fica ainda pior diante da pandemia da Covid-19, pois provoca aglomeração e falta de uso de máscara.
Quem presenciou o fato e relatou com registros áudio-visuais à Comissão Organizadora foi um valoroso militante da Resistência em SC, que tem sofrido graves ataques desde o dia 15 de agosto – quando foi proibido de fazer registros do ocorrido em ata (mais uma deturpação das regras do regimento do Congresso). Frisa-se que o grupo “Vamos Juntos” é antigo no PSOL, bastante familiarizado com as regras partidárias e congressuais, ainda que as tenha ignorado.
A urna de Chapecó, corretamente, foi impugnada, à revelia da posição do MES (corrente interna do PSOL) que não só votou a favor da manutenção da urna, como escreveu um texto na Revista Movimento [2] chamando – sem pudor, nem argumentos – o militante da Resistência de desonesto, golpista e caluniador.
É isso o que nos leva ao debate sobre a dupla moral.
Não me refiro ao conceito de moral utilizado por Lênin a respeito do compromisso com a luta revolucionária, ou seja, em levar até as últimas consequências a luta prolongada do proletariado contra a burguesia: “uma guerra que requer serenidade, disciplina, firmeza, inflexibilidade e vontade única”.
A dupla moral, aqui em debate, diz respeito à utilização de critérios distintos frente a situações semelhantes em função da luta política. Senão vejamos.
É uma prática bastante comum do MES/PSOL anunciar o uso do regimento em diversas urnas. Por exemplo, para tentar proibir mulheres bolivianas de votar porque o nome no documento tinha o erro de uma única letra. Casos como esse, por sinal, foram bastante comuns; para tentar evitar que uma militante sem-teto votasse por estar com amidalite – a acusaram de estar com COVID (nenhum deles era da área da saúde) e ela teve que provar com atestado médico seu problema (a palavra dela não bastou). Em grandes filas de votação, era uma prática comum estender mais que o necessário a análise do documento, de forma que mais pessoas desistissem de esperar. A autora que vos fala encontrou um companheiro na sede do PSOL que não via há tempos e relatava seu tratamento de saúde quando se viu filmada por uma militante do MES.
Alguém tem dúvida que se um militante da Resistência/PSOL organizasse uma festa com caipirinha em cima da mesa de votação e distribuição de álcool e comida ao lado da uma de votação não haveria uma denúncia incansável até a impugnação da urna? Isso não ocorreu. É uma hipótese para mero efeito de reflexão.
Chamar o valoroso militante da Resistência, que era um fiscal no momento da votação da urna de Chapecó, fazendo muito menos do que os exemplos acima descritos, de “sabotador”, “fingido”, “desonesto” e “sujo” não diz nada a respeito da verdade.
Esses ataques morais vergonhosos, de baixíssimo nível, nada dizem a respeito à honestidade inequívoca do companheiro. Mas na verdade revelam, com nitidez, métodos condenáveis largamente utilizados por essa organização na luta pelos seus interesses político-burocráticos. Recebemos com tristeza os métodos do MES/PSOL, mas é importante que saibam que a Resistência lutará a favor de uma educação política que não se paute pelo expediente das ofensas morais, da charca ou do uso de escracho virtual para tentar forçar posições na luta política. E alertamos ao MES que não toleraremos a tentativa de desmoralização moral de um jovem militante socialista: há limites na luta política que não devem ser atravessados.
Para nós é diferente: a política e o programa estão no posto de comando e os critérios não se negociam de acordo com os ventos que sopram do oriente.
* Deborah Cavalcante é advogada, mestre em Ciência Política e militante da Resistência.
NOTAS
[1] Trata-se de um grupo político local de SC, que tem relações com o MES em nível nacional.
[2] Normalmente, deixaria o link do referido texto para quem quiser ler. Desta vez, não o farei, porque o autor utilizou o expediente do escracho, da guerrilha digital, sem lembrar ou se preocupar sequer em como funciona o mercado de trabalho hoje.
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