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Lula, o povo trabalhador e o PSOL

Lula em São Luis, com movimentos sociais e ativistas do PT e PSOL

Gabriel Casoni

Gabriel Casoni, de São Paulo (SP), é professor de sociologia, mestre em História Econômica pela USP e faz parte da coordenação nacional da Resistência, corrente interna do PSOL.

A maioria do povo trabalhador quer Lula de volta. Lula quer alianças amplas para ganhar as eleições e governar. A maioria dos trabalhadores vê em Lula a alternativa para derrotar Bolsonaro. Lula negocia alianças regionais com líderes do centrão no Nordeste. A grande burguesia, por sua vez, não quer Lula nem Bolsonaro, trabalha por uma 3a via da burguesia de sapatênis. Se a 3a via naufragar de vez, uma parte da classe dominante vai escolher Bolsonaro, se ele for ao 2o turno com Lula; outra parte pode optar por Lula no 2o turno contra Bolsonaro. Mesmo Lula sendo “paz e amor”, o grande capital prefere governar sem mediações populares ligadas à esquerda, mesmo que seja a mais moderada de todas.

Lula afirma que quer colocar um ponto final na tragédia bolsonarista que destrói o país, mas até agora não assumiu o compromisso de reverter o terrível legado do golpe. Corretamente, acenou favoravelmente ao fim do teto dos gastos públicos. Mas, sobre cancelar as reformas da previdência e a trabalhista e as privatizações feitas no último período, não falou nada.

Como que a esquerda à esquerda do PT se posiciona nesse cenário? Como deve atuar o PSOL? O erro fatal seria desprezar ou diminuir a importância de derrotar Bolsonaro acima de tudo. Nesse sentido, compreender e se conectar ao sentimento da maioria do povo trabalhador é decisivo. Apresentar uma candidatura a presidente pelo PSOL nesse momento significará apenas marcar posição para dormir tranquilo, mas para dormir sozinho, na mais terrível solidão política, sem qualquer diálogo com a ampla maioria dos trabalhadores e da juventude, que quer Lula contra Bolsonaro.

Porém, defender o nome de Lula, sem criticar sua política de alianças e limitações programáticas, significa ceder ao pragmatismo petista e ao programa da conciliação de classes, que já demonstraram sua falência estratégica no golpe de 2016, que foi liderado pelos antigos “aliados” da direita contra Dilma.

É possível combinar o diálogo com o povo trabalhador que quer derrotar Bolsonaro votando em Lula sem abrir mão da política combativa e de um programa realmente de esquerda? Sem nenhuma dúvida. A política da Resistência, corrente interna do PSOL, busca exatamente responder a esse desafio.

Precisamos de uma Frente de Esquerda, nas lutas e nas eleições, para derrotar Bolsonaro — nada é mais importante que isso. Lula é o melhor nome para encabeçar essa Frente, pela sua autoridade e influência junto às grandes massas populares. Mas discordamos da sua política de alianças e dos limites do seu programa. Apresentamos ao debate público outra linha de alianças e outra base programática. Não achamos que vamos convencer Lula da estratégia e programa anticapitalistas, mas queremos, com essa linha política tática, abrir diálogo com os setores mais conscientes do nosso povo.

É possível, sim, se conectar ao sentimento popular sem abrir mão de posições políticas e programáticas. E mais: é possível, desse modo, conquistar mais gente para uma perspectiva de luta socialista. O PSOL precisa escolher em Congresso esse caminho. A opção pelo isolamento, pela marcação de posição sectária contra Lula e o PT, faz o oposto: corta o diálogo com quem mais devemos conversar nesse momento, justamente os milhões de trabalhadores e os jovens que vêem em Lula o instrumento para vencer Bolsonaro nas eleições.

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